General Braga Netto emerge como articulador político do governo em meio ao coronavírus

Ministro da Casa Civil atuou para acabar com a crise interna e aproximar Bolsonaro dos partidos do centrão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Em meio às crises política e sanitária provocadas pelo novo coronavírus, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, ganha força e emerge como o principal articulador político do governo.

General da reserva, ele reformulou a estratégia do combate à pandemia em três eixos: dissolver o conflito interno, reconquistar o controle da comunicação sobre a administração da crise e reduzir o poder de fogo de opositores.

Ao mesmo tempo, atuou numa aproximação de Bolsonaro e partidos políticos com influência no Congresso.

Nesta quarta-feira (22), por exemplo, anunciou um plano de retomada da economia, chamado de Pró-Brasil, em que assumiu o protagonismo, em movimento de isolamento do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Da confiança de Jair Bolsonaro, Braga Netto defendeu em reuniões internas que, para ganhar a guerra contra o coronavírus, era preciso, primeiro, vencer as batalhas dentro do próprio governo. Sob seu chapéu, foi criado o gabinete de crise para acabar com o que chamava de “disse-me-disse’’.

Braga Netto assumiu a Casa Civil em fevereiro, se tornando o nono militar no primeiro escalão e o primeiro fardado desde a ditadura militar na função.

O último havia sido o general Golbery do Couto e Silva, um dos ideólogos do regime e comandante do Gabinete Civil, que tinha as mesmas atribuições.

No Exército desde 1974 e general de quatro estrelas, Braga Netto foi observador das Nações Unidas no Timor Leste e adido na Polônia e nos Estados Unidos.​​

Como interventor no Rio de Janeiro em 2018, teve atuação marcada pela discrição e por não tomar decisões tempestivamente. Da mesma maneira, vem conduzindo as ações na Casa Civil e ganhando espaço no governo.

A primeira batalha de Braga Netto foi no Ministério da Saúde. O militar tentou contornar a crise entre o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e o presidente Bolsonaro. Em vão.

Depois de Mandetta criticar o presidente em entrevista à TV Globo, Bolsonaro reclamou, e o militar lavou as mãos, abrindo espaço para a queda do então ministro.

O afastamento da crise interna foi vista como a primeira de três etapas planejadas por Braga Netto para tirar o presidente –e o governo– do paredão. O segundo movimento é reconquistar a guerra da comunicação.

Antes das mudanças na Saúde, Braga Netto começou a trazer para o Planalto o controle sobre a divulgação das ações do governo. Na coletivas, falava em nome do governo e chegou a impedir que Mandetta respondesse sobre seu futuro quando questionado se ficaria no cargo.

Após a queda do ministro, Braga Netto aproveitou para mudar de vez a divulgação das informações oficiais. A avaliação feita por ele e seus assessores é que as entrevistas coletivas feitas pelo Ministério da Saúde estavam se tornando munição para atacar o governo.

A interlocutores ele disse que pretende conter o que chama de "contágio’’ da crise dentro do governo e, agora, estaria na fase de "tratamento" interno.

Por ordem do general da reserva, o foco dessas entrevistas passaria a ser positivo, como já ocorreu nesta quarta, com o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, e sem a presença dos técnicos da pasta.​

A estratégia de comunicação também afastou outro ponto de tensão interna: o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, do chamado “gabinete do ódio”.

O ministro convenceu o presidente Bolsonaro de que era preciso tornar os canais de informações propositivos e que não fossem usados para ataques a adversários.

Braga Netto usou como exemplo o vídeo produzido pela Secom (Secretaria de Comunicação) no início da crise. No material, o Planalto pede o fim do isolamento, e Bolsonaro incentiva protestos anticonfinamento. Após a publicação do vídeo, a Secom divulgou nota afirmando que o material era “em caráter experimental” e que não passou pelo “crivo” do governo.

Com a ajuda do chefe da secretaria, Fabio Wajngarten, que estava afastado na época do vídeo por causa da Covid-19, Braga Netto reformulou a estratégia abrindo espaço para entrevistas controladas em emissoras e veículos que apoiam o governo.

O movimento irritou o filho do presidente e a área ideológica do governo, que viram no ministro a personificação de um ex-ministro militar do governo crítico às ações de Carlos: o general Carlos Alberto Santos Cruz.

Braga Netto passou a exercer de fato a coordenação entre as pastas, o que foi uma demanda de Bolsonaro, que entende a Casa Civil como ponto de interlocução entre os ministérios.

No governo, também chama a atenção o fato de que agora os ministros e técnicos frequentam mais o quarto andar do Palácio do Planalto, onde fica a Casa Civil, do que faziam quando a gestão estava nas mãos do ex-titular Onyx Lorenzoni (hoje, no comando da Cidadania).

O militar passou a cobrar planejamento, cronograma e ação. Um dos primeiros ministros a sentir de perto a mão dura foi o próprio Onyx. Braga Netto o cobrou sobre os problemas enfrentados no cadastramento da população para o pagamento dos R$ 600 e pediu resultados.

A ideia do plano de recuperação da economia em curto prazo também foi uma demanda do general.
Ciente de que o projeto apresentado pelos seus pares na Esplanada mirava o longo prazo, o ministro sentou com Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e pediu ações e listas de obras que poderiam ser tocadas assim que passasse a pandemia.

Em outra frente, o ministro, ao lado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é o responsável também pela estratégia de atrair partidos para o governo e, de quebra, distensionar a relação com o Congresso.

Braga Netto voltou a abrir os corredores do terceiro andar –onde fica o gabinete de Bolsonaro– para receber líderes do chamado centrão. O bloco político formado por PP, PL, Republicanos, DEM, Solidariedade, entre outros, até então alijado do governo por representar a “velha política”.

O movimento deu sobrevida a outro militar no governo, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que havia perdido força junto a Bolsonaro.

Em duas semanas, Braga Netto, com a ajuda de Ramos, articulou a ida ao Palácio do Planalto de representantes de ao menos sete partidos, com o objetivo de saber as necessidades de cada um. Ele tem referendado a estratégia de criar um diálogo direto com cada um deles.

O movimento é associado a uma tática militar conhecida como “vencendo o inimigo pelo coração”. O significado é que, para se conquistar um objetivo, deve-se ouvir as “necessidades das pessoas”.

Braga Netto sinalizou aos líderes do centrão que vai atender os pedidos do bloco e colocou cargos à disposição dos parlamentares . Para alguns, já recebeu indicações. A conclusão desse processo está prevista para ocorrer nesta semana.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.