Inspirada nas Diretas Já, Folha lança campanha em defesa da democracia

Além da publicidade, jornal fará produto editorial especial e curso gratuito online sobre o que foi a ditadura militar

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São Paulo

A Folha lança no próximo sábado (27) uma campanha publicitária em defesa da democracia. O filme será exibido no intervalo do Jornal Nacional, da TV Globo.

No mesmo fim de semana, a Folha publicará o projeto especial “O que Foi a Ditadura”, que disseca o período autoritário de 1964-85 e é direcionado principalmente a pessoas que não o viveram diretamente.

Uma pesquisa Datafolha com a opinião dos brasileiros sobre a ditadura e o grau de conhecimento a respeito de alguns de seus pontos mais marcantes também será divulgada.

Comício em defesa das Diretas Já na praça da Sé, em São Paulo, em janeiro de 1984 - Gil Passarelli - 25.jan.1984/Folhapress

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 54,2% da população brasileira nasceu após o ano de 1985, quando o regime militar terminou. Somando os que eram crianças de até 10 anos nessa data, o percentual sobe para 69,4%.

Ou seja, 7 em cada 10 brasileiros não viveram a ditadura, ou eram muito jovens para terem fixado na experiência o que foi aquele momento.

Na mesma linha, estreia também no dia 28 um curso online gratuito de quatro aulas, com uma hora de duração cada uma, promovido pela Folha (as inscrições podem ser feitas aqui). O objetivo é explicar didaticamente as várias fases da ditadura, dos antecedentes do golpe de 31 de março de 1964 até a transição para a democracia.

O pacote tem por finalidade mostrar, sobretudo para os mais jovens, qual era a realidade do período autoritário.

“O papel institucional de um jornal como a Folha é mostrar de maneira didática e sem viés o que aconteceu, para que não aconteça mais. Não há solução fora da democracia, não há caminho que não o da Constituição”, afirma o diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila.

A campanha do jornal contra a ditadura é inspirada na mobilização das Diretas Já, em 1984, em que a Folha teve papel de destaque, e foi criada internamente.

Há 36 anos, uma faixa amarela foi acrescentada embaixo do cabeçalho do jornal, junto da frase “Use amarelo pelas diretas já”. Agora, a faixa retorna, com a frase “#UseAmarelo pela Democracia”, nas versões impressa e digital. O filme publicitário será veiculado ainda em canais de TVs abertas e pagas e em mídias sociais.

O amarelo foi a cor das Diretas e, embora com variações, principalmente na camisa da seleção brasileira, tenha sido apropriado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores, vem sendo resgatado por grupos com bandeiras pró-democracia surgidos nas últimas semanas, como o Estamos Juntos e o Somos 70 por cento, referência ao percentual apontado em pesquisas Datafolha de pessoas que não aprovam a gestão do atual presidente.

A ditadura militar foi marcada por ausência de eleições presidenciais diretas, interferência do regime nos Poderes Legislativo e Judiciário, censura e repressão violenta à oposição, com assassinatos e tortura como políticas de Estado.

“O objetivo das ações é mostrar para esta geração o que foi aquele regime de exceção, seus horrores, a tortura sistemática, o desaparecimento dos adversários políticos, a cassação dos direitos fundamentais, como o do voto direto”, diz Dávila. “Além disso, acabar com o mito do regime incorruptível e democrata.”

Na economia, a ditadura adotou um modelo que, se teve momentos de euforia com taxas expressivas de crescimento, deixou a semente para hiperinflação, aumento da desigualdade e endividamento externo.

Também favoreceu a corrupção em grandes obras públicas e gerou escândalos que só não foram mais divulgados em razão da falta de transparência do período e da perseguição à imprensa.

Todo esse panorama será tema de um curso online ministrado pelo jornalista e escritor Oscar Pilagallo. Em quatro aulas, liberadas sempre à 0h dos domingos a partir do dia 28, Pilagallo falará sobre a armação do golpe, a escalada autoritária, o endurecimento do regime a partir do Ato Institucional nº 5 (1968) e a retomada da democracia (1985).

As inscrições para o curso gratuito podem ser realizadas em oquefoiaditadura.folha.uol.com.br.

“As pessoas, especialmente as mais jovens, tendem a dar de barato que a democracia é uma coisa que sempre esteve aí. Mas se esquecem, ou não sabem, que nem sempre foi assim”, afirma Pilagallo, autor de “A História do Brasil no Século XX” (Publifolha) e coautor de “O Golpe de 64” (Três Estrelas), entre outros livros.

Na Folha, Pilagallo desempenhou diversas funções, entre elas a de editor de Economia, nos anos 1990.

Segundo o jornalista, o discurso de justificar o golpe e a repressão da ditadura para evitar um mal maior, no caso uma suposta ameaça comunista, tem crescido nos últimos anos, propagado sobretudo por Jair Bolsonaro e seus aliados.

O presidente, que tem um histórico de elogios ao período da ditadura militar do país, já participou de atos de apoiadores que ostentavam bandeiras antidemocráticas, como pedido de intervenção das Forças Armadas e de fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal). Um inquérito na corte investiga quem são os financiadores desse tipo de manifestação.

Pilagallo diz que seu objetivo é que o curso seja analítico e equilibrado, retratando fielmente as diversas facetas da ditadura.

“O desafio é grande, exatamente pela polarização que vivemos. Certamente, qualquer visão mais equilibrada tende a apanhar dos dois lados”, afirma.

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