Descrição de chapéu O que foi a Ditadura

Em live da Folha, jornalista diz que golpe de 1964 ocorreu sem ameaça comunista; assista

Debates sobre a ditadura serão transmitidos nesta semana no site do jornal e em canal no YouTube

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São Paulo

A premissa de que havia a ameaça de forças pró-comunismo no país, utilizada ainda hoje para justificar o golpe militar de 1964, é falsa.

A ideia de que os militares teriam de alguma forma protegido a democracia não só por meio do golpe, mas também da tortura e de ações que provocaram a morte e o desaparecimento de 434 pessoas, foi combatida durante a primeira de cinco lives sobre a ditadura militar (1964-1985), em série que a Folha promove nesta semana.

A transmissão desta segunda-feira (29) teve participação de Oscar Pilagallo, jornalista e autor de livros como "Folha Explica a História do Brasil no Século 20", e de Ingrid Fernandes, jornalista da Agência Mural.

O tema recaiu justamente sobre os vetores que criaram uma ambiente favorável para que o golpe militar acontecesse naquele ano de 1964, depondo o presidente João Goulart.

Pilagallo afirmou que, embora houvesse pequenos grupos defendendo a revolução comunista em território nacional, essa ideia não ganhou força significativa no cenário político brasileiro formado pelo empresariado, por partidos políticos, por diversas representações da sociedade civil ou mesmo entre os grupos de esquerda representados por sindicatos e movimentos estudantis.

“Sim, havia gente que pensava assim [a favor do comunismo], mas não era algo dominante”, disse Pilagallo.

Ele fortaleceu sua tese dizendo que Goulart não ofereceu resistência para deixar o cargo de presidente, que havia assumido após a renúncia de Jânio Quadros em 1961. "Jango não queria ser responsável por derramamento de sangue. Se houvesse resistência, teria havido uma guerra civil."

A polarização entre esquerda e direita, afirmou o jornalista, foi causada naquela época pela agenda reformista de João Goulart.

O herdeiro da política progressista de Getúlio Vargas mirava questões agrárias, o que era um incômodo para a elite econômica e para latifundiários. A resistência a seu governo e ideias ganham expressão em um congresso conservador, dominado por essas elites, e que temia o fortalecimento do proletariado, o que foi lembrado também por Ingrid.

A jovem jornalista também defendeu que a violência praticada atualmente pelo governo e as forças policiais, especialmente nas periferias das cidades brasileiras, são uma continuação da repressão pautada pelos militares na ditadura.

"Há métodos de tortura e repressão que são muito filiados a este período [da ditadura]", disse ela.

Pilagallo complementou que essa repressão não se inicia com o golpe militar, mas é sim parte da história brasileira desde o período colonial, passando pela escravidão.

Para ele, o regime militar, "foi apenas uma ação pontual que recolocou o Brasil em um trilho do qual ele estava se afastando; deram passos atrás, para uma política conservadora anterior", diz, acrescentando o papel dos Estados Unidos e de boa parte da imprensa brasileira no apoio às forças que convergiram para que o golpe se consolidasse.

Com seus 22 anos, Ingrid se diz parte de um grupo ou uma geração que tem a percepção de que há continuidade dos métodos repressivos da ditadura. Segundo o IBGE, 52% dos brasileiros não haviam nascido em 1985, marco do fim da ditadura. Entra então no debate uma questão de memória.

"Eu venho de um geração que cresceu quando o PT já estava no poder e que inicia uma trajetória militante e que começa a viver uma atividade política concreta e crítica em junho de 2013. É um momento-chave que reposiciona a estratégia política até então em curso e que surge também como consequência do processo de redemocratização", disse.

A série de lives iniciada nesta segunda-feira faz parte de uma campanha em defesa da democracia lançada pela Folha.

No último fim de semana, foi publicado o projeto especial "O que Foi a Ditadura", com reportagens sobre o período autoritário encerrado em 1985. Também foi lançado um curso online gratuito a respeito do regime.

Nesta terça (30), a série traz Janio de Freitas, colunista da Folha premiado com o Esso e o Internacional Rei de Espanha, junto com Filipe Figueiredo, historiador e um dos apresentadores do canal do YouTube Nerdologia.

Eles falam sobre o endurecimento do regime em 1968, com o AI-5, ato institucional que dava ao presidente o poder de fechar o Congresso Nacional e demais casas legislativas por tempo indeterminado, cassar mandatos e suspender direitos políticos e a garantia de habeas corpus em casos como de crimes políticos.

Os debates serão às 11h, com mediação da repórter Fernanda Mena.

Oscar Pilagallo e Ingrid Fernandes
Oscar Pilagallo e Ingrid Fernandes - Nucleo de Imagem

Lives sobre a ditadura

Às 11h, com duração de 50 min; a série será transmitida no site da Folha e no canal do jornal no YouTube

SEG, DIA 29
Por que aconteceu o golpe militar em 1964?

Oscar Pilagallo

Jornalista, é autor de livros como "Folha Explica a História do Brasil no Século 20" e "O Golpe de 64"

Ingrid Fernandes
Jornalista responsável pelas mídias sociais da agência Mural

TER, DIA 30
Por que tudo piorou com o AI-5, em 1968?

Janio de Freitas
Colunista da Folha, recebeu diversos prêmios, como o Esso e o Internacional Rei de Espanha

Filipe Figueiredo
Professor de história, é editor do site Xadrez Verbal e um dos apresentadores do Nerdologia, canal do YouTube

QUA, DIA 1
A imprensa foi muito censurada durante a ditadura?

Ricardo Kotscho
Colunista do UOL, ganhou quatro vezes o prêmio Esso

Joao Montanaro
Chargista da Folha

QUI, DIA 2
Por que nós, brasileiros, sabemos tão pouco sobre a ditadura?

Maria Rita Kehl
Psicanalista e escritora, integrou a Comissão Nacional da Verdade

Maria Bopp
Atriz e roteirista, faz vídeos em que interpreta a personagem Blogueirinha do Fim do Mundo

SEX, DIA 3
Estamos próximos de um novo regime autoritário?

Flavia Lima
Ombudsman da Folha

Tabata Amaral
Deputada federal (PDT) e colunista da Folha

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