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Márcio França jamais faria campanha com Bolsonaro, diz presidente do PSB

Para Carlos Siqueira, história do partido não deveria deixar margem de dúvida sobre comportamento de pré-candidato a prefeito de SP

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Brasília

Presidente nacional do PSB, um dos pilares da oposição a Jair Bolsonaro em Brasília, Carlos Siqueira afirma se sentir até constrangido por ter que responder pergunta sobre eventual aliança, mesmo que tácita, entre o pré-candidato da sigla à Prefeitura de São Paulo, Márcio França, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Conheço tão bem Márcio França que não vislumbro ele fazendo campanha com Bolsonaro, sinceramente. Ele vai fazer a campanha dele. Com Bolsonaro, não", afirma o dirigente, segundo quem o encontro entre o pré-candidato e o presidente, em um evento no início deste mês, teve como razão apenas a coincidência de esforços para o envio de ajuda humanitária ao Líbano.

Além do encontro, França tem feito elogios a pontos específicos do governo, de olho nos votos dos bolsonaristas que se opõem ao governador João Doria (PSDB), em uma linha bem diversa da atuação do PSB em Brasília, que já chegou a protocolar um pedido de impeachment contra o presidente.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, em evento em que o PDT declarou apoio à pré-candidatura de Márcio França - Roberto Casimiro /Fotoarena/Folhapress

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Essa relação amistosa de Márcio França em relação a Bolsonaro não é constrangedora para o partido, para a esquerda? Na verdade, não existe relação política. O que aconteceu foi um ato político [evento em São Vicente, litoral de São Paulo]. Ele teve o cuidado de me telefonar, de telefonar para o [Carlos] Lupi [presidente do PDT, partido aliado], explicando o que ocorreria. Que o Paulo Skaf [presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] tinha chamado, e ele estava envolvido porque a mulher dele é de origem libanesa, a Lucia.

Eu disse: 'Olha, não vejo problema nenhum'. Não posso dizer que não falo com o Bolsonaro, eu falo, até para dizer a ele que discordo frontalmente dele. Como fiz com o Michel Temer, que me chamou três vezes durante a Presidência, e eu fui, inclusive em uma delas jantei com ele no Palácio do Jaburu.

Disse tudo o que eu pensava sobre o que ele me perguntou, com toda a franqueza. Nunca me saiu pedaço e nunca mudei de lugar. Fizemos oposição ferrenha ao Temer. Eu nunca fui falar com a senhora Dilma Rousseff porque ela nunca me chamou. Se tivesse chamado, eu talvez tivesse rachado a bancada ao meio e talvez ela tivesse terminado o mandato.

O Márcio foi isso. Ele se dá bem com todo mundo, é o jeito dele, mas o Márcio é uma pessoa do partido desde a juventude e já tá um homem com quase 60 anos [tem 57]. É muito partidário, tem cumprido missões. Ele não está atrás de apoio do Bolsonaro. Ele pode estar, como todos os demais, querendo os votos dos eleitores que casualmente possam ter votado no Bolsonaro.

No último discurso ele [França] fez elogios ao governo federal, ao auxílio emergencial, atacou muito o João Doria... Quem foi que criou o auxílio emergencial? Na verdade o governo mandou um auxilio de R$ 200 e nós, da oposição, o PSB muito à frente disso, através do Alessandro Molon [deputado federal do partido], elevamos para R$ 600. Por acaso alguém está contra o auxílio emergencial? Não se pode confundir ser oposição com ficar contra a população, porque isso seria inadmissível.

Mas o fato de ele atacar e criticar muito Doria e não fazer o mesmo com o Bolsonaro não dá a entender...[interrompe] Não, porque em Sao Paulo a eleição é paulistana, não é nacional. Bolsonaro não está em questão. Quem está em questão é o tucanato. E há um histórico de disputa entre eles. Ele [França] levou a melhor na capital, com grande diferença, de modo que é natural que ele tenha a estratégia de polarizar com seu principal adversário.

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-governador Márcio França, pré-candidato a prefeito de São Paulo, durante encontro em São Vicente (SP).
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumprimenta o pré-candidato a prefeito de São Paulo Márcio França (PSB), durante evento em São Vicente (SP) - Reprodução

Pela história do PSB, partido de esquerda, não fica ruim na principal cidade do país fazer uma campanha e esquecer a questão nacional? Não sei se ele [França] está esquecendo. Vamos esperar a campanha e saber como ele vai se comportar. Porque até agora não vi ningém atacando o Bolsonaro em função das eleições. Acho que ele deve apresentar um programa para enfrentar os problemas de São Paulo. Quem faz oposição nacional a Bolsonaro somos nós, no Parlamento, a nossa bancada, de maneira bastante veemente, e ela não recuará um milímetro.

Dentro do partido houve algum constrangimento, alguma reclamação? Pessoas me ligaram, eu expliquei. Foi uma questão humanitária, que ele foi tratar e está tratado. Eu não consigo entender essa abordagem da imprensa.

É no mínimo esquisito, não? Conheço tão bem Márcio França que não vislumbro ele fazendo campanha com Bolsonaro, sinceramente. Ele vai fazer a campanha dele. Com Bolsonaro, não. Ele sabe que somos um partido de oposição e ele vai fazer a campanha dele e apresentar soluções para São Paulo. Somos um partido de 73 anos, de uma longa história, que não deveria deixar margem d e dúvida nenhuma a esse respeito, me causa até constrangimento ter que responder isso.

RAIO-X

Carlos Roberto Siqueira de Barros, 65
Advogado e presidente do PSB, foi homem de confiança do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Foi presidente da Fundação João Mangabeira de 2007 a 2014 e coordenou a campanha presidencial de Eduardo Campos em 2014. Assumiu a direção do partido após a morte de Campos

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