Entenda o que são fake news, trolls e outras armas usadas para desinformação

Veja alguns dos termos que batizam praticas comuns de disseminadores de notícias falsas

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São Paulo

Desde a popularização do termo fake news, muito já foi estudado sobre as ferramentas e métodos que disseminadores de notícias falsas utilizam. A produção de notícia falsa é a mais conhecida, porém, não a única arma utilizada para a desinformação.

Neste glossário, feito em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), desntrichamos algumas das expressões que batizam práticas (legais e ilegais) usadas em campanhas políticas na internet.

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Fake news: são notícias —ou seja, pretensos relatos de fatos— fabricadas e comprovadamente falsas. Elas podem circular em texto, áudio, vídeo, e até expressões típicas da internet, como memes. Eventualmente, lançam mão de uma linguagem jornalística que lhes dão um verniz de credibilidade.

A expressão se popularizou a partir de 2016 com a campanha presidencial de Donald Trump, nos EUA, embora fosse comum ver o republicano acusar de falsas notícias críticas a ele e vindas de veículos e jornalistas confiáveis. É importante frisar que textos jornalísticos com erros e imprecisões posteriormente corrigidos são diferentes de notícias fabricadas sem amparo na realidade.

O deputado Alexandre Frota (PSL-SP) durante depoimento na CPMI das Fake News, em Brasília
O deputado Alexandre Frota (PSL-SP) durante depoimento na CPMI das Fake News, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Campanhas de desinformação: são ações sistemáticas para impedir o público de ter informações verdadeiras sobre algum assunto. Em geral são coordenadas por um grupo encarregado da estratégia de comunicação digital da parte interessada. Ele faz isso atacando a credibilidade das fontes ou desviando o foco da atenção pública, por exemplo.

Desordem informacional: também chamado de caos informativo, representa a paisagem de informações falsas, enganosas e distorcidas que circulam em larga escala em plataformas de mídias sociais. A expressão se refere ao cenário de manipulação informativa na qual indivíduos minimamente conectados estão hoje expostos diariamente.

Teoria da conspiração: é uma estratégia retórica que supostamente revela o complô de um adversário político. Para isso, explica que acontecimentos reais ou imaginados são resultado da ação sorrateira de grupos sociais poderosos.

Milícias digitais: são grupos caracterizados por uma militância agressiva e articulada em fóruns, redes sociais e sites. Com notícias falsas, eles usam técnicas de engano, manipulação e assassinato de reputações contra adversários. Também estão em seus repertórios atividades massivas de linchamento e intimidação nos ambientes virtuais.

Câmara de eco: a internet amplificou o agrupamento de pessoas com interesses e visões de mundo semelhantes. O termo é uma metáfora para um fenômeno que pode acontecer nesses ambientes: a convergência em torno de uma posição, que passa a ser vista como majoritária ou mesmo unânime. O cenário pode levar a uma postura dogmática do grupo e ao rechaço de opiniões divergentes.

Clickbait (caça-clique): links que revelam complôs ou notícias bombásticas em seus títulos e primeiros parágrafos não transbordam na internet à toa: o clickbait, ou caça-clique, normalmente tem um objetivo comercial que é a conversão de visualizações em dinheiro. Na área da política, o foco é conseguir a atenção das pessoas, principalmente aquelas já engajadas.

Disparo de mensagens: são envios automatizados de mensagens para alvos predefinidos. Por meio de uma técnica chamada microdirecionamento, com cruzamento de dados, há a opção de selecionar grupos pequenos de pessoas que compartam certas características. Esse tipo de operação possibilita disparos em massa de mensagens com alto grau de personalização do público-alvo —com base, por exemplo, em critérios geográficos ou interesses específicos—, mesmo em aplicativos sem serviços de impulsionamento, como o WhatsApp.

Impulsionamento de posts: é um serviço legal oferecido por redes sociais que aumenta o número de pessoas alcançadas por uma publicação. Esse impulsionamento pode ser feito para públicos específicos, com base em filtros demográficos.

Descontextualização: é a utilização de informações fora do tempo e circunstâncias em que ocorreram, na intenção de induzir pessoas a interpretações falsas. Um exemplo é o compartilhamento de reportagens antigas como se fossem recentes.

Deepfake: conteúdos de vídeo e áudio fabricados por meio de inteligência artificial altamente convincentes, porém falsos. Com essa técnica, pode-se fazer um vídeo de um político falando algo que ele nunca disse.

Butterfly attack: também conhecido como false flag, é a infiltração virtual em grupos rivais para criar divisões, plantar informações falsas ou causar descrédito frente ao público em geral.

Trading up the chain: método que publica informações pouco fundamentadas, mas que entram no debate público e são comentadas por usuários mais confiáveis, como jornalistas ou influenciadores. Isso permite que, pouco tempo depois, apenas se mencione as fontes sérias e se apague a origem da informação.

Astroturfing: é uma ação coordenada que constrói uma falsa impressão de consenso sobre determinado assunto. A tática induz as pessoas a aderirem a climas de opinião pública que são artificiais.

Na prática, o astroturfing digital pode lançar mão de diferentes ferramentas, como campanhas para alavancar uma hashtag e utilização de robôs. O termo vem de uma marca de grama artificial que, de tão bem-feita, parece verdadeira.

Doxxing: uso da internet para pesquisar e expor informações privadas de adversários, como endereço, celular e CPF, sem autorização prévia. O termo deriva de dox, abreviação de documentos. Os usos variam de trotes com os telefones vazados, ameaças de morte mencionando endereços e até atentados pessoais. Um exemplo recente aconteceu contra a fotógrafa do jornal O Estado de S. Paulo Gabriela Biló, que teve o endereço, documentos e uma foto da casa da família divulgados por um perfil bolsonarista.

Firehosing: em português, mangueira de incêndio, é uma estratégia de propaganda política que, migrada para ambientes digitais, dissemina rápida e continuamente uma enxurrada de mensagens falsas ou inconsistentes sobre de um tema. Essas informações costumam ser publicadas quase simultaneamente por várias fontes de informação e compartilhadas por grupos de apoiadores articulados. O termo foi cunhado com base na estratégia de propaganda usada pelo governo de Vladimir Putin na Rússia.

Sockpuppet: conta falsa criada em ambientes digitais que preserva a verdadeira identidade do usuário. A técnica é usada para realizar ações mal vistas ou ilegais, como publicar conteúdos falsos, ofender e difamar adversários políticos ou endossar opiniões extremistas.

Dog Whistle: emprego de sinais cifrados em grupos virtuais. É bastante utilizado em conversas entre grupos extremistas, como supremacistas brancos e xenófobos, já que dificulta provar o caráter ofensivo do conteúdo.

Troll: usuários, muitas vezes anônimos, que apresentam comportamento provocativo e abusivo. A trollagem consiste em fazer do uso da chacota e do deboche uma tática para diminuir ou desqualificar um indivíduo ou grupo.

Ataques DDoS: também conhecidos como ataques distribuídos de negação de serviço, em português, são ações que, por meio da ativação de robôs, buscam dificultar ou negar o acesso a serviços, páginas ou aplicativos, saturando seus links e impedindo seu uso. O termo apareceu nos jornais na última semana após o ataque hacker sofrido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no dia do primeiro turno das eleições. O grupo responsável pela ação usou o método, inundando o servidor dos alvos, no caso os tribunais regionais, para lhes causar instabilidade.

Colaboração de Géssica Brandino

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