Na esteira da ida de Guilherme Boulos (PSOL) para o segundo turno, a esquerda teve crescimento na Câmara Municipal de São Paulo.
Mesmo com uma das piores votações da Casa, a candidata do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também conseguiu uma vaga na casa. Outros candidatos ligados a este grupo, porém, ficaram de fora.
A junção da esquerda com uma direita contrária ao PSDB, que perdeu quatro cadeiras na casa, pode dificultar a vida de uma eventual gestão Bruno Covas (PSDB). Por outro lado, se Boulos for eleito, apesar do aumento da esquerda, haveria dificuldade ainda maior, pois, no saldo final, a maioria da Câmara pende mais para a direita.
Dos 55 vereadores, 21 deles são novos, um índice de renovação na casa de 38%.
O partido de Boulos triplicou a quantidade de vereadores, passando de dois para seis parlamentares. O PT, embora tenha tido uma derrota histórica na eleição majoritária, se manteve como uma das principais forças do Legistativo municipal, impulsionado de novo por Eduardo Suplicy e também vereadores com território eleitoral na zona sul.
Pelo PSOL, entre as novidades estão dois mandatos coletivos, Quilombo Periférico e Bancada Feminista, além de uma vereadora transgênero, Erika Hilton. A outra novata da bancada é Luana Alves, que se junta aos já vereadores Celso Gianazzi e Toninho Vespoli.
A bancada do partido também trouxe mais diversidade de gênero e cor à Câmara. Das seis vagas, contabilizando apenas o responsável oficial pelo mandato no caso de coletivos, quatro são mulheres, três são negras e uma delas transgênero.
Luana Alves afirma que a eleição da bancada representa um processo social que demonstra insatisfação popular com o governo do PSDB e também o engajamento político da população periférica. "Cada vez mais a juventude se entende como antirracista e feminista", diz ela.
Na sua visão, a diversidade da bancada reflete também uma apropriação da população periférica da esfera partidária, que, muitas vezes, é vista como um lugar não aberto a essa parcela da sociedade. Apesar da eleição do grupo, o eleitor do PSOL na atual eleição majoritária tinha um perfil mais de classe média e os dois vereadores com mandato atualmente são homens brancos.
Neste ano, 13 mulheres foram eleitas, duas a mais que na última eleição, em 2016, quando foram 11. Em 2012, haviam sido apenas 5 mulheres eleitas.
As apostas de renovação no PT, por sua vez, também ficaram de fora. Os oito vereadores do partido já atuam na Câmara, com a exceção de Reis, que não se reelegeu, sendo a única baixa entre os petistas.
Se Covas confirmar o favoritismo dos cenários para o segundo turno, ele teria mais trabalho do que atualmente, uma vez que os partidos de esquerda que geralmente não votam com sua gestão teriam uma bancada ampliada de 11 para 14 dos 55 vereadores.
O PT e o PSOL são os partidos que fazem oposição mais ferrenha ao PSDB, embora haja outros partidos que podem ser vistos como centro esquerda, como PSB e Cidadania. Com desempenho pior neste ano, siglas que, em São Paulo, nem sempre seguem bandeiras vistas como de esquerda.
Ficou de fora Soninha Francine (Cidadania), que havia sido eleita em 2016, foi para o governo Doria como secretária da Assistência Social e foi demitida em vídeo poucos meses após assumir o cargo. Desta vez, ela teve 13.333 votos e ficou de fora.
Após quatro mandatos consecutivos, Police Neto (PSD) não conseguiu se eleger neste ano. Forte atuante na Casa, ele chegou a ser presidente do legislativo municipal em 2011 e 2012. Neste ano recebeu 21.605 votos, mas não foi suficiente.
Na direita mais extremada, Sonaira Fernandes (Republicanos) conseguiu ser eleita. Ela participou de lives com o presidente Jair Bolsonaro e também com seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, de quem foi assessora. Ela também foi do gabinete do deputado estadual Gil Diniz.
Apesar da campanha de peso, ela ficou em 52º lugar entre os eleitos, abaixo de outros candidatos com maior votação excluídos pelo quociente eleitoral.
Outra aposta deste grupo era Edson Salomão, do PRTB, que trabalhava com o deputado estadual Douglas Garcia. Tanto Diniz como Garcia foram expulsos do PSL e são suspeitos de participar do chamado gabinete do ódio.
Irmão da bolsonarista Carla Zambelli, Bruno Zambelli também não foi eleito, assim como Clau de Luca, também do PRTB. Ela até ganhou vídeo de Bolsonaro, mas não conseguiu.
No campo da direita antibolsonarista, candidatos ligados ao Movimento Brasil Livre subiram de um para três neste mandato. Além de Fernando Holiday, que se reelegeu, o Rubinho Nunes e Marlon do Uber também chegam à Câmara, todos pelo Patriota.
Rubinho dá sinais de como a vida de qualquer um dos candidatos será difícil se depender da bancada. "Nós vamos ser oposição independente de quem seja o prefeito. Não apoiamos o Covas nem o Boulos", diz ele. "É um crescimento bom para o movimento, que mostra a aceitação das pessoas ao nossos ideais", diz ele.
Na visão de Rubinho, o crescimento de Arthur do Val, membro do MBL e do partido, também ajudou no aumento da bancada que, segundo ele, terá foco na fiscalização da corrupção.
Marlon do Uber ficou famoso nas redes sociais por mostrar o dia a dia de motoristas de aplicativo. Ele tem um canal no YouTube com 610 mil inscritos, além de 139 mil seguidores no Instagram.
Seu mandato deve protagonizar embates com vereadores ligados a taxistas, como Adilson Amadeu (DEM), que tentou proibir o funcionamento do Uber na cidade ou diminuir a frota de carros por aplicativo.
Entre os mais votados, também no campo da direita, foi eleito o delegado Marcos Palumbo (MDB), com a terceira maior votação, 118.395 votos. Influencer com quase meio milhão de seguidores no Instagram, foi eleito com discurso duro na área da segurança pública e fez campanha defendendo o que chama de “direitos das vítimas” e pedindo mais punição aos bandidos.
Palumbo ficou atrás apenas de Eduardo Suplicy e Milton Leite (DEM). Leite, um cacique local do DEM com influência no governo estadual e municipal, mantém o seu poder. O partido elegeu seis vereadores, mesma quantidade de vereadores da sigla hoje na Câmara --embora a legenda tenha eleito quatro, ganhou mais dois ao longo da legislatura.
A legislatura também trará sobrenomes já conhecidos. Uma das famílias políticas mais tradicionais da cidade, os petistas Tatto não conseguiram fazer decolar a candidatura para prefeito do ex-secretário dos Transportes Jilmar Tatto, que amargou um sexto lugar, mas estarão na Câmara Municipal com Jair Tatto e Arselino Tatto.
Em dobro na legislatura também estarão os Tripoli, Xexéu, eleito pela primeira vez em 2016, e Roberto na Câmara desde 1989, mas que estava fora desde 2015, quando foi para a Alesp. O primeiro é filiado ao PSDB e o segundo ao PV, e ambos têm nos direitos dos animais uma pauta preferencial, que tem mantido a família em evidência na cidade nas últimas décadas.
Entre as bancadas o PT divide a liderança com o PSDB, cada um com oito. Enquanto o PT perdeu apenas uma cadeira, o PSDB perdeu três, na comparação com 2016, e quatro na comparação com a bancada atual.
Atrás, as maiores bancadas são DEM (6), PSOL (6), Republicanos (4), MDB (3), Patriota (3), Podemos (3), PSD (3), Novo (3), PL (2), PSB (2), PP (1), PSC (1), PSL (1), PTB (1) e PV (1).
VEJA A LISTA DOS VEREADORES ELEITOS
- Eduardo Suplicy (PT) - 167.552 votos
- Milton Leite (DEM) - 132.716 votos
- Delegado Palumbo (MDB) - 118.395 votos
- Felipe Becari (PSD) - 98.717 votos
- Fernando Holiday (Patriota) - 67.715 votos
- Erika Hilton (PSOL) - 50.508 votos
- Silvia da Bancada Feminista (PSOL) - 46.267 votos
- Roberto Tripoli (PV) - 46.219 votos
- Thammy Miranda (PL) - 43.321 votos
- André Santos (Republicanos) - 41.584 votos
- Rute Costa (PSDB) - 41.546 votos
- Eduardo Tuma (PSDB) - 40.270 votos
- Sansão Pereira (Republicanos) - 39.709 votos
- Luana Alves (PSOL) - 37.550 votos
- Atilio Francisco (Republicanos) - 35.345 votos
- João Jorge (PSDB) - 34.323 votos
- Faria de Sá (PP) - 34.213 votos
- Carlos Bezerra Jr. (PSDB) - 34.144 votos
- Rubinho Nunes (Patriota) - 33.038 votos
- Eli Corrêa (DEM) - 32.482 votos
- Donato (PT) - 31.920 votos
- Rodrigo Goulart (PSD) - 31.472 votos
- Alessandro Guedes (PT) - 31.124 votos
- Janaína Lima (Novo) - 30.931 votos
- Adilson Amadeu (DEM) - 30.549 votos
- Tripoli (PSDB) - 30.495 votos
- Jair Tatto (PT) - 29.918 votos
- Celso Giannazi (PSOL) - 28.535 votos
- Dra Sandra Tadeu (DEM) - 28.464 votos
- Juliana Cardoso (PT) - 28.402 votos
- Toninho Vespoli (PSOL) - 26.748 votos
- Marlon do Uber (Patriota) - 25.643 votos
- George Hato (MDB) - 25.599 votos
- Aurélio Nomura (PSDB) - 25.316 votos
- Senival Moura (PT) - 25.311 votos
- Alfredinho (PT) - 25.159 votos
- Arselino Tatto (PT) - 25.021 votos
- Fábio Riva (PSDB) - 24.739 votos
- Isac Félix (PL) - 23.929 votos
- Camilo Cristofaro (PSB) - 23.431
- Ricardo Teixeira (DEM) - 23.280 votos
- Edir Sales (PSD) - 23.106 votos
- Ely Teruel (PODE) - 23.084 votos
- Marcelo Messias (MDB) - 23.006 votos
- Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) - 22.742 votos
- Gilberto Nascimento Jr. (PSC) - 22.659 votos
- Eliseu Gabriel (PSB) - 21.122 votos
- Dr Milton Ferreira (PODE) - 20.126 votos
- Sandra Santana (PSDB) - 19.591 votos
- Danilo do Posto de Saúde (PODE) - 19.024 votos
- Cris Monteiro (Novo) - 18.085 votos
- Sonaira Fernandes (Republicanos) - 17.881 votos
- Paulo Frange (PTB) - 17.796 votos
- Missionário José Olimpio (DEM) - 17.098 votos
- Rinaldi Digilio (PSL) - 13.673 votos
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