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Eleições 2020 datafolha

Queda nos 'sem-candidato' diminui vantagem de Covas sobre Boulos, aponta Datafolha

Taxa dos que descartavam os dois candidatos à Prefeitura de São Paulo cai 5 pontos percentuais

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Alessandro Janoni

Diretor de Pesquisas do Datafolha

A estabilidade de Bruno Covas (PSDB) no total das intenções de voto da mais recente pesquisa Datafolha soa contraditória com a diminuição de sua vantagem sobre Guilherme Boulos (PSOL) no cálculo dos votos válidos.

A explicação está na conversão de parte dos eleitores que pretendiam votar em branco, anular o voto ou estavam indecisos em apoio à candidatura do PSOL.

A taxa dos que descartavam os dois candidatos na pesquisa anterior caiu cinco pontos percentuais, mesma grandeza de crescimento observada para Boulos no total da amostra. A migração fica mais clara quando se verifica o quanto ela se espraia por diferentes segmentos.

Além de intensificar a liderança do candidato do PSOL em estratos onde ele já apresentava desempenho acima da média, como entre os que têm até 34 anos, entre os de nível superior de escolaridade e moradores da zona oeste da capital, Boulos cresceu também entre os que têm até 44 anos, entre os que residem na zona leste e entre os que possuem renda de até cinco salários mínimos.

Covas mantém sua boa performance entre os mais velhos. Além disso, melhora entre os que estudaram até o ensino médio e possuem renda acima de cinco salários, oscilações que não se projetam quantitativamente sobre o total da amostra.

A taxa de brancos e nulos (9%), somada aos indecisos (3%), é hoje de 12%, índice um pouco superior à média de “sem-candidato” em segundos turnos em São Paulo.

Em 2000, no confronto entre Marta Suplicy, então no PT, e Paulo Maluf (PPB), a taxa foi de 8%. Em 2004, ano de Marta contra José Serra (PSDB), caiu para 5%.

Em 2008, com Marta contra Kassab, então no DEM, voltou a 8% e, em 2012, na disputa entre Fernando Haddad (PT) e Serra, ficou em 12%.

Por isso, é interessante perceber que nesta pesquisa, mesmo nesse universo dos que não escolhem nenhum candidato, há uma parcela de 21% que ainda não estão certos sobre a decisão. Entre os eleitores tanto do atual prefeito, quanto de Boulos, a taxa dos que acenam com a possibilidade de mudar o voto é de 14%, número suficiente para indefinir a disputa.

Dentre os fatores que explicam as mudanças identificadas nos últimos dias, o início do horário eleitoral com tempo e número de inserções equivalentes para os dois candidatos é a hipótese mais provável.

O apelo de “sensibilidade social” de Boulos, com um desfile de cabos eleitorais, tenta anular a “força” da avaliação positiva do atual prefeito no combate à pandemia, contrapondo-se ao padrinho de Covas, o governador João Doria (PSDB).

Da vice Luiza Erundina (PSOL), passando por uma frente de esquerda que reúne Ciro Gomes (PDT), Flavio Dino (PC do B), Lula (PT) e Marina Silva (Rede), além de artistas, Boulos mobiliza figuras públicas com grau de representatividade.

Mas talvez por não comunicar em sua propaganda propostas mais concretas ao cotidiano daqueles que diz defender, ainda não consegue alcançar os moradores da periferia.

Ao desempenho na área da saúde Covas vem agregando ênfase aos CEUs (centros educacionais unificados) e ao apoio da ex-prefeita Marta Suplicy (hoje sem partido). Mantém o bom desempenho nesses bairros, entre os menos escolarizados e entre os que têm renda de até 5 salários mínimos, o que garante a liderança ao tucano.

Mas há oscilações curiosas em outros estratos da população que podem sugerir Boulos como personificação de um possível voto de protesto de certa parcela do eleitorado em razão de fatos que transcenderam a campanha eleitoral no último final de semana.

Entre os que se autoclassificam pretos, o candidato do PSOL cresceu oito pontos percentuais no total das intenções de voto. Entre os homens de menor renda, cresceu dez.

O perfil é o que mais sofre violência como a que vitimou Beto Freitas em um supermercado Carrefour em Porto Alegre na semana passada e propagou manifestações antirracistas em várias cidades do país, inclusive na capital paulista.

Antes de classificar a análise como uma relação espúria, vale a lembrança: Erundina, que não era a favorita, foi eleita prefeita de São Paulo em 1988, cerca de uma semana depois da morte de três metalúrgicos por forças do Exército em uma greve na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda (RJ).

No extremo oposto, a onda antipetista e contra a corrupção levou Doria a uma vitória em primeiro turno em 2016, algo inédito em eleições para prefeito de São Paulo.

Isso porque parte do eleitor paulistano, quando quer protestar, não necessariamente vota em branco ou anula seu voto. Pode escolher o candidato que melhor representa sua indignação.​

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