Descrição de chapéu Eleições 2022

Alckmin conversa até com desafetos de Doria em busca de candidatura ao Governo de SP

Ex-governador, recluso desde que perdeu a eleição presidencial, também tem mantido contato com marqueteiros

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São Paulo

Longe dos holofotes desde que perdeu a eleição presidencial de 2018, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) intensificou a movimentação com vistas a uma nova candidatura ao Palácio dos Bandeirantes no ano que vem.

Para isso, ele tem se reunido com representantes de um amplo arco político, que inclui alguns desafetos do atual governador, João Doria (PSDB).

Doria pretende apoiar o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), para sua sucessão, na hipótese provável de se candidatar a presidente. A dupla é hoje o principal obstáculo aos planos do ex-governador de voltar ao comando do estado.

O ex-governador Geraldo Alckmin em gravação de programa na TV Bandeirantes, em 2019 - Gabriel Cabral - 10.dez.2019/Folhapress

Nas últimas semanas, Alckmin tem mantido conversas, entre outros, com seu ex-vice, Márcio França (PSB), com caciques do PSD, como o ex-ministro Gilberto Kassab e o ex-vereador paulistano Andrea Matarazzo, e até com bolsonaristas, como o deputado estadual Frederico D'Ávila (PSL), que foi seu assessor especial.

Todos, em algum grau, são opositores de Doria, ou pelo menos têm relação estremecida com o atual governador, como Kassab e Matarazzo.

Alckmin também tem feito sondagens entre profissionais de marketing político. Já se reuniu com dois publicitários com experiência em campanhas eleitorais para conversar sobre cenários para o ano que vem.

Alckmin tem dito que seu primeiro desafio será suplantar a máquina estadual representada por Doria e Garcia, que deve se filiar ao PSDB. Para isso, conta com o estilo conciliador, as relações políticas com prefeitos do partido e a popularidade na militância.

Embora siga dizendo que é fundador do PSDB e que pretende seguir no partido, não descarta se filiar a outra legenda para a disputa ao governo, especialmente se o adversário for Garcia. As principais alternativas postas são PSD, PSB, PSL e Podemos.

Para impedir o retorno de Alckmin ao governo do estado, os aliados de Doria contam com uma regra seguida há 20 anos pelo PSDB paulista, que dificultaria sua participação em prévias.

Embora o estatuto tucano garanta a realização de consulta aos filiados para cargos majoritários, o partido em geral abre uma exceção: isso não se aplica quando um dos interessados está no cargo e quer disputar a reeleição. Nesse caso, torna-se uma espécie de candidato natural da legenda.

Será o caso de Garcia, caso confirme a troca do DEM pelo PSDB e herde o governo paulista de Doria em abril do ano que vem, quando ele teria de renunciar para disputar o Palácio do Planalto.

“A gente tem feito dessa forma pelo menos desde 2002. Quem está no cargo é natural que busque a reeleição”, diz o presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, aliado de Doria.

Segundo ele, tradicionalmente o diretório estadual deixa isso claro em uma resolução eleitoral.

Se Garcia permanecer no DEM, a visão majoritária entre os tucanos paulistas é a de que seria difícil evitar que Alckmin conseguisse se candidatar pela legenda, mesmo com oposição interna de Doria.

A única forma de impedir esse cenário seria o atual vice buscar a reeleição filiado ao PSDB, evitando assim a prévia.

Qualquer que seja o cenário, afirma Vinholi, haverá diálogo e respeito com o ex-governador para encontrar uma solução. “Geraldo será ouvido e valorizado. Vamos dialogar e buscar o melhor para a democracia partidária”, afirma.

Nacionalmente, o discurso dos aliados de Doria é o oposto. Defendem a prévia para presidente, com o argumento de que não há candidato natural do partido tentando a reeleição.

Aliados de Alckmin afirmam que ele não enfrentaria Doria pela candidatura ao Bandeirantes, caso o atual governador desista da Presidência e opte pela reeleição.

Mas contra Garcia, que seria um recém-chegado ao partido, e sem história na legenda, o cenário é diferente. Alckmin deverá argumentar que mais importante que qualquer tradição é a garantia dada pelo estatuto de realização de prévias.

“Meu amigo Rodrigo Garcia nem do partido é. Fica com o DEM, larga o PSDB”, diz o ex-presidente do diretório estadual tucano Pedro Tobias, aliado de Alckmin.

Segundo ele, não há uma regra proibindo prévias contra o atual ocupante do cargo, apenas um “acordo de cavalheiros” —que pode ser desfeito, até para não haver risco de Alckmin deixar o partido.

“Hoje tem três ou quatro partidos atrás do Geraldo. Se ele não for candidato pelo PSDB vai ser por outro”, diz. Procurado pela Folha, Alckmin não quis se manifestar.

No cenário preferido por Doria, o ex-governador seria candidato a um cargo legislativo em 2022. Mas nem isso seria garantia de resolução do problema.

Isso porque a regra que vale para o governo do estado se aplica também para a única vaga disponível ao Senado no ano que vem. Hoje ela é ocupada por José Serra, que pretende disputar novo mandato.

Segundo a assessoria de Serra, ele é o senador que mais aprovou projetos na Casa, com 11 transformados em normas legais e 14 em andamento na Câmara, o que o credencia para mais oito anos no cargo.

Além disso, afirma Serra, o partido “dá ao ocupante nato a preferência em cargos com possibilidade de reeleição, não havendo prévia, a menos que o ocupante abra mão”.

Ou seja, mesmo a alternativa para o Senado parece bloqueada para Alckmin, que teria de se contentar com uma candidatura a deputado federal.

Isso não passa pela sua cabeça, segundo aliados com quem ele tem conversado. O tucano afirma que uma mudança para Brasília não o interessa, e que ele já deu sua contribuição legislativa quando foi deputado federal na Constituinte de 1988.

Imunizado contra a Covid-19 após ter tomado as duas doses da vacina, Alckmin vem mantendo encontros ao ritmo de ao menos dois por semana.

​Em todas as conversas, tem deixado claro: ou disputa o governo estadual em 2022, ou não será candidato a nada.

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