Bolsonaro diz não se preocupar nem com CPI nem com Lula e cobra de governadores que não estiquem a corda

Presidente de novo ameaça usar Forças Armadas para impedir adoção de medidas restritivas contra Covid

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Conceição do Jacuípe (BA)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (26) que não se preocupa com a CPI da Covid, disse não ligar para uma possível candidatura do ex-presidente Lula (PT) em 2022 e voltou a fustigar governadores que adotam medidas restritivas para frear a pandemia do coronavírus.

Em rápida entrevista à imprensa após a inauguração da duplicação de um trecho de rodovia no interior da Bahia, o presidente foi sucinto ao comentar a CPI da Covid, que será instalada no Senado nesta terça-feira (27) em um cenário no qual os integrantes governistas serão minoria.

“Não estou preocupado porque não devemos nada”, afirmou o presidente sobre a CPI, que irá investigar ações e omissões do governo federal, além de repasses para os estados, durante a pandemia.

O presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa no interior da Bahia
O presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa no interior da Bahia - Alan Santos/PR

Em Conceição do Jacuípe (102 km de Salvador), Bolsonaro voltou a criticar governadores e, mais uma vez, ameaçou usar os militares para impedir a adoção de medidas restritivas. Disse que o papel das Forças Armadas é garantir o cumprimento da Constituição.

“[Os governadores] estão seguindo o artigo quinto da Constituição? Está sendo respeitado o direito de ir e vir, o direito de a pessoa ter um emprego, ocupar o tempo para exercitar a sua fé? É só ver se isso está sendo respeitado ou não”, disse o presidente.

Bolsonaro também voltou a criticar o STF (Supremo Tribunal Federal) por ter autorizado estados e municípios decretarem suas próprias medidas de restrição na pandemia sem precisar do aval do governo federal.

“É inconcebível os direitos que alguns prefeitos e governadores tiveram por parte do STF. É inconcebível. Nem estado de sítio tem isso.”

Questionado se usaria as Forças Armadas para impedir governadores de adotar medidas restritivas, afirmou em tom de ameaça: “Não estiquem a corda mais do que está esticada”.

Em discurso durante a inauguração, também mirou os governadores e disse que está chegando a hora de a população dar o seu novo grito de independência. “Não podemos admitir alguns pseudogovernadores quererem impor uma ditadura no meio de vocês, usando do vírus para subjugá-los”, disse.

Não estiquem a corda mais do que está esticada. Não podemos admitir alguns pseudogovernadores quererem impor uma ditadura no meio de vocês, usando do vírus para subjugá-los

Jair Bolsonaro

presidente da República

Ao falar sobre as eleições presidenciais, Bolsonaro disse que não está preocupado com 2022 nem com uma possível candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto.

“Eu não estou preocupado com Lula. Minha preocupação é com o Brasil. Se a pessoa votar em pessoa com o passado de Lula, essa é uma pessoa que não entende nada de política e nem da liberdade dele. Veja os outros países da América Latina onde a turma do Foro de São Paulo voltou”, disse.

O presidente ainda agrediu verbalmente uma repórter da TV Aratu, afiliada do SBT, que o questionou sobre o fato de ele ter posado para uma foto em Manaus com uma placa escrito “CPF cancelado”, que faz referência a pessoas que foram mortas.

“Não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota”, disse o presidente à jornalista. Após o encerramento do ato, que aconteceu nas margens da BR-101, o presidente visitou o Batalhão do Exército em Feira de Santana, cidade vizinha.

As críticas de Bolsonaro aos governadores acontecem no momento em que o governo federal se vê acossado pela CPI da Covid, que será instalada nesta terça com a escolha de presidente, vice-presidente e relator da comissão.

Conforme revelado pela Folha, senadores que compõem a comissão afirmam que os recentes atos de Bolsonaro, saindo em defesa do ex-ministro Eduardo Pazuello e de métodos que serão investigados, representam uma tentativa de mobilizar a base bolsonarista para compensar a vulnerabilidade do presidente no colegiado.

Para alguns parlamentares, o governo monta duas frentes de atuação: enquanto o presidente acirra sua retórica, o Palácio do Planalto tenta se municiar de informações para contra-atacar em focos de apuração da comissão.

O governo conta com apenas 4 dos 11 membros titulares. A situação de desvantagem se reflete na perda dos principais cargos: a presidência da comissão deve ser ocupada pelo independente Omar Aziz (PSD-AM) e a relatoria deve ser destinada a Renan Calheiros (MDB-AL).

O presidente chegou foi recepcionado em Conceição do Jacuípe por dezenas de apoiadores que se aglomeravam no gradil montado na nova rodovia. Posou para fotos usando um colete de couro, peça típica da vestimenta dos vaqueiros. Usou máscara durante a cerimônia, mas a colocou no queixo quando foi cumprimentar os apoiadores.

Presidente Jair Bolsonaro durante visita à Conceição do Jacuípe, na Bahia - Alan Santos/PR

O presidente estava acompanhado de oito deputados federais da bancada baiana, além do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), que foi saudado com gritos de “governador” por apoiadores do presidente. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), não compareceu ao evento.

Bolsonaro inaugurou um trecho de 22 quilômetros da duplicação da BR-101 no estado, obra tocada pelo ministério da Infraestrutura. A duplicação da rodovia, que avançou na maioria dos estados do Nordeste, ainda patina em território baiano. Com a nova etapa inaugurada nesta segunda-feira, a Bahia passa a ter duplicados 58 km dos cerca de 1.200 km no estado.

No final da tarde, já de volta a Brasília, Bolsonaro sugeriu a apoiadores que o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) poderia disputar o cargo de governador de São Paulo em 2022.

"Quem sabe São Paulo adota o Tarcísio para o ano que vem", disse, em tom de brincadeira, ao chegar ao Palácio da Alvorada.

A fala do presidente foi transmitida por um site bolsonarista.

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