Descrição de chapéu Eleições 2022

Indefinição nacional embaralha alianças para eleição ao Governo do Rio

Volta do ex-presidente Lula à disputa complica os planos do deputado Marcelo Freixo, possível candidato pelo PSOL

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Rio de Janeiro

A escassez de líderes locais e a indefinição do cenário eleitoral nacional têm embaralhado as alianças para as candidaturas ao Governo do Rio de Janeiro em 2022. Da esquerda à direita, são muitas as conversas, mas sem caráter conclusivo.

Políticos avaliam que a disputa nacional será fundamental na escolha dos candidatos, diante da necessidade de garantir palanques nos estados.

Ainda não é possível prever, por exemplo, se haverá recuperação da economia em um cenário pós-pandemia e como estará a avaliação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no próximo ano.

Praticamente enterrada a chance de voltar ao PSL, partido pelo qual se elegeu, Bolsonaro tem como opção três partidos de pequeno porte: Patriotas, PMB e DC.

O governador interino do Rio, Claudio Castro, e o presidente Jair Bolsonaro
O governador interino do Rio, Claudio Castro, e o presidente Jair Bolsonaro - Alan Santos/PR

Também não se sabe quem concorrerá pelo PSDB, vaga que deve ser disputada pelos governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e pelo senador Tasso Jereissati (CE). Para sustentar a campanha no Rio, é possível que o partido lance candidato ao governo fluminense.

"Vamos ter um candidato à Presidência, que é João Doria, e, por consequência, teremos candidato ao Governo do Rio", diz o presidente estadual da legenda, Paulo Marinho, embora não haja consenso sobre candidatura presidencial dentro do partido.

Já as rusgas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de volta à corrida eleitoral, e o presidenciável Ciro Gomes (PDT) dificultam os planos de um palanque duplo imaginado para a candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) ao governo. Especialmente se permanecer no PSOL.

Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi lança dúvidas sobre a viabilidade de construção de um palanque capaz de acomodar Ciro e Lula. Segundo ele, existe a possibilidade de os dois chegarem ao segundo turno, o que ampliaria essa rivalidade. "O PDT não abre mão do projeto nacional, que é Ciro Gomes."

Os petistas também rechaçam a hipótese de compartilhar o palanque de Freixo com Ciro e admitem a ideia de lançar candidatura própria para estruturação da candidatura de Lula no Rio.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano, pode ser recrutado para a tarefa. "Sou candidato a deputado estadual."

Para além das incertezas no campo nacional, o Rio de Janeiro vive um cenário de terra arrasada –seis governadores chegaram a ser presos ou foram afastados. Com a cúpula da política local fora de jogo após a Operação Lava Jato, o estado enfrenta uma escassez de líderes.

Alçado ao governo interino no ano passado com o afastamento de Wilson Witzel (PSC), acusado de corrupção, Cláudio Castro (PSC) tornou-se naturalmente um nome para 2022. Contam a seu favor a pesada máquina estatal e o apoio da família Bolsonaro, fiadora de sua administração.

Além disso, sua candidatura não pararia a fila pelo Palácio Guanabara. Isso porque, como já é governador hoje, poderia ter apenas um novo mandato de quatro anos.

Castro é visto pelos pares como um político moderado, propenso ao diálogo, e com bom trânsito na Assembleia Legislativa do Rio. Ele tem conversado com prefeitos da Baixada Fluminense e sinalizado que gostaria de tê-los na chapa majoritária.

Prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB) diz que o sonho de Castro é ser eleito nas urnas. “O desejo dele é ser um governador da urna, e ele entende que a maior força de votação está na Baixada. Somos mais de 4 milhões de votos”, afirma.

Se por um lado o governador interino tem a seu favor a máquina estatal, por outro sua candidatura também depende da avaliação de sua administração.

“Ele tem uma tarefa na mão que não é fácil, que é governar o estado do Rio. Tem que ter entrega, não dá para ficar todo verão com a água da Cedae estragada”, diz o prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa (PP).

Por enquanto, Castro é o candidato de Bolsonaro. Nada impede, porém, que o presidente mude de ideia até o ano que vem, diante do desempenho do interino e de seus adversários.

Um nome do campo conservador que surgiu até mesmo em pesquisas eleitorais foi o do ministro Walter Braga Netto (Defesa), comandante da intervenção federal na segurança pública do Rio em 2018.

Dos deputados federais e estaduais eleitos na onda bolsonarista das últimas eleições presidenciais, nenhum desenvolveu musculatura para se cacifar como potencial candidato.

Principal nome aventado no estado como resistência ao projeto bolsonarista, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), veterano de eleições na capital, foi colocado em uma sinuca de bico com a volta de Lula ao xadrez eleitoral.

Em direção ao centro, Freixo considerava migrar para o PDT e apoiar a candidatura de Ciro, que também se afasta da esquerda. O presidenciável tem feito duras críticas ao PT e a Lula, de quem foi ministro.

Freixo tem proximidade com o petista, com quem divide eleitores no estado. Portanto, não seria estratégico para o deputado estar em um palanque crítico ao ex-presidente.

Chamando o Rio de berço do caos, Freixo insiste na reunião dos partidos de centro-esquerda contra a reeleição de Bolsonaro em seu reduto eleitoral. Ele minimiza o impacto da volta de Lula à cena política.

Para Freixo, a necessidade de derrotar Bolsonaro é maior do que as diferenças entre PT e PDT.

"Defendo um palanque de todas as forças que queiram enfrentar o crime no Rio, garantir a democracia e derrotar Bolsonaro", afirma

Com a situação indefinida, petistas e pedetistas também têm pensado em candidaturas próprias. Além de André Ceciliano, o PT cogita o lançamento de Fabiano Horta, prefeito de Maricá, também resistente à ideia. Já o PDT tem como opção o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves.

Para se firmar como o representante da frente ampla, Freixo tem dialogado até mesmo com políticos da centro-direita e mantém conversas avançadas para deixar o PSOL e se filiar ao PSB.

Segundo interlocutores, Freixo preocupa-se com a possibilidade de perder a disputa e ficar sem cargo oficial. Ameaçado pelas milícias há décadas, ele tem direito a seguranças enquanto ocupa cargo público.

Um dos incentivadores de sua candidatura, o prefeito Eduardo Paes (DEM) sinalizou com a possibilidade de oferecer uma secretaria municipal a Freixo caso ele seja derrotado nas urnas.

Antigo adversário do psolista, Paes tem dialogado com Freixo e acenou positivamente à possível candidatura do deputado durante um bate papo online com jornalistas. Mesmo sem ter sido previamente anunciado como participante, Paes acabou entrando na conversa.

Cabo eleitoral de peso nas próximas eleições, o prefeito tem mantido as opções abertas. Em sua própria equipe, estão os secretários de Fazenda, Pedro Paulo Carvalho (DEM), e de Governo e Integridade Pública, Marcelo Calero (Cidadania).

Aliado confiança de Paes, Pedro Paulo admite a possibilidade de se lançar em uma candidatura de centro, que reúna partidos do naipe do DEM, PSDB e PL. "O Rio não aguenta mais um novo Witzel. Precisa de alguém com firmeza e capacidade de avançar em mudanças estruturais", afirma.

Paes é próximo de Felipe Santa Cruz, presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Aventado como candidato de uma frente ampla, ele tem conversado com o PSDB, além de outros partidos, como o PDT.

Apesar das sondagens, Santa Cruz só definirá seu destino político em fevereiro, encerrado seu mandato à frente da OAB. Questionado sobre uma eventual candidatura ao governo do Rio, ele afirma: "Diante das ameaças à democracia, vou me dedicar à OAB até o fim do meu mandato”.

Há grande chances de que os tucanos também abracem o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM), aliado do prefeito. Paes também poderia estar de saída do DEM para o partido.

Em entrevista à Folha, o prefeito defendeu a candidatura de Eduardo Leite (PSDB) à Presidência. O PSDB tem três pré-candidatos e está longe de chegar a um acordo.

A um ano e seis meses das eleições, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que não vê necessidade de o partido tomar agora uma decisão sobre potenciais aliados.

Homem forte dos governos de Marcello Alencar na década de 90, o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (Cidadania) diz haver uma ausência de nomes com densidade para a disputa pelo governo fluminense e defende a composição de frentes nos planos nacional e estadual.

Ele afirma ainda não saber que candidatos o Cidadania apoiará. "Sabemos que não vamos estar nem com Bolsonaro nem com Lula.”

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