Atos antecipam eleição, e Bolsonaro não pode mais ser criticado por aglomerações, diz líder do governo

Ricardo Barros (PP-PR) diz que 'polarização está consolidada' e que protestos de sábado foram resposta a atos pró-Bolsonaro

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Brasília

Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) afirmou neste domingo (30) que as manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) antecipam a corrida eleitoral ao Palácio do Planalto.

Segundo Barros, os protestos deste sábado (29) abrem a disputa de 2022 entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista não participou dos atos, mas líderes da legenda foram às ruas.

"A polarização está consolidada. A terceira via vai se dividir em muitas candidaturas. Como se diluem as candidaturas, a tendência é Lula e Bolsonaro no segundo turno", disse Barros à Folha.

Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) diz que Bolsonaro não pode mais ser criticado por atos durante a pandemia da Covid-19
Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) diz que Bolsonaro não pode mais ser criticado por atos durante a pandemia da Covid-19 - Pedro Ladeira - 8.dez.20/Folhapress

Houve protestos contra Bolsonaro com milhares de manifestantes em várias cidades do país. Os atos foram realizados em todas as capitais brasileiras, com grandes concentrações em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Barros disse que os protestos foram "dentro da normalidade" e não geraram preocupação no governo. "Não conversei com o presidente [sobre os atos]. Eu mesmo não achei que foi grande coisa", afirmou.

O deputado afirmou que, após os protestos deste sábado, grupos de esquerda perderam os argumentos para criticar aglomerações promovidas por Bolsonaro durante a pandemia. O presidente costuma ir a atos de apoiadores.

"Foi muito útil que tenham feito isso. Criticam de forma tão convicta as mobilizações do presidente e de repente fazem a mesma coisa. Pelo menos este assunto fica superado", disse o deputado.

Aliados de Bolsonaro repetiram argumentos de Barros de que a esquerda não pode mais criticar aglomerações do presidente. Também minimizaram o tamanho dos protestos de sábado.

"Ontem mais uma máscara caiu", escreveu o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em redes sociais. Segundo o filho do presidente, a oposição só criticava "aqueles que vão para as ruas" por não conseguir mobilizar atos volumosos.

Para o líder do governo, os protestos ainda esvaziam críticas da CPI da Covid no Senado Federal sobre aglomerações promovidas por Bolsonaro.

Nos partidos de esquerda, a visão é oposta. PT e PDT avaliam que as manifestações mobilizaram mais pessoas do que o esperado, o que reforça a necessidade de atuação da CPI para apurar erros e omissões do governo no combate da pandemia.

Nas redes sociais, petistas divulgaram imagens e vídeos dos atos, especialmente em grandes capitais, contra o governo. "O povo não aguenta mais o governo genocida de Jair Bolsonaro", escreveu a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), que participou do protesto na Avenida Paulista, em São Paulo.

"Vamos tomar o Brasil, nossa bandeira, nossas cores, nossos símbolos de volta de Bolsonaro! Nosso país não pertence a esse desgoverno assassino", escreveu o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), líder da minoria na Câmara.

Apesar de oficialmente evitar correlações entre as manifestações e a disputa eleitoral, aliados do ex-presidente Lula disseram que o apoio dado ao petista, em faixas e bandeiras do partido, mostrou força para 2022.

Partidos de esquerda e movimentos sociais não descartam novas convocações de manifestações contra Bolsonaro diante da mobilização deste fim de semana. No entanto, ainda irão avaliar qual o melhor plano diante da tendência de alta no número de casos de Covid-19 nos últimos dias.

Em redes sociais, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, chamou os atos da esquerda de "propaganda gratuita" a Bolsonaro.

"O brasileiro precisa rememorar essa turma que estava escondida dentro de casa e só destilando ódio pelas redes sociais", afirmou Faria no Twitter. "O fato é que o discurso de ser contra ir às ruas é fake", disse, em outra publicação.

O deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) disse à Folha que as manifestações foram "pífias e vergonhosas". "A oposição fez realmente o isolamento. Marcou a passeata e ninguém foi", afirmou.

Para o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), uma das lideranças do centrão, ainda falta o "polo moderado" ir às ruas. Segundo ele, essa fatia da população "é maior e se decepcionou com os extremos".

"Ainda não está mobilizado e não sei se estará por falta de uma plataforma e de um líder", disse Ramos à Folha.

Já a deputada bolsonarista Alê Silva (PSL-MG) afirmou que a busca pela "terceira via" fortalece a candidatura de Lula.

"Observando as cenas das manifestações da esquerda, nunca estive tão convicta de que estou do lado certo. A quem procura uma terceira via, com isso fortalecendo o lulismo, é isso mesmo que vocês querem para o Brasil?", escreveu a deputada em redes sociais.

Liderados por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda, as manifestações foram alvo de críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia da Covid-19. O país ultrapassa 450 mil mortes pela doença —com cerca de 2.000 em 24 horas.

Pelo menos nove capitais, além do Distrito Federal, têm ocupação acima de 90% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

A recomendação para o uso de máscaras teve ampla adesão. Porém, houve aglomerações em descumprimento a regras de distanciamento social sugeridas por especialistas para conter a disseminação da Covid-19.

Mais cedo, em entrevista à Rádio Jovem Pan, Barros minimizou aglomerações em atos políticos durante a pandemia.

"As pessoas têm usado máscaras. Aliás, não existe nenhum estudo científico que prove que máscara diminui a contaminação", disse Barros. Autoridades sanitárias, contudo, recomendam o uso de máscaras.

Segundo o líder do governo, os protestos da esquerda foram uma reação a manifestações pró-Bolsonaro. Ele citou como exemplo o ato no Rio de Janeiro, no dia 23, que reuniu o presidente e motociclistas.

"Eles estão tentando usar a mesma linguagem", afirmou Barros à Folha. Segundo o deputado, Bolsonaro demonstrou mais força política do que a esquerda.

"O apoio é a Bolsonaro [nos atos pró-governo] e a sua reeleição. A mobilização das esquerdas é contra o presidente, mas os grupos de oposição não estarão no mesmo palanque em 2022", disse o deputado.

No ato de domingo passado, Bolsonaro estava acompanhado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. General da ativa, ele está na mira da CPI da Covid no Senado.

Na segunda-feira (24), após a ida de Pazuello ao palanque político ao lado do presidente, o Exército abriu um procedimento disciplinar contra o general da ativa.

Integrantes da cúpula da Força pressionam para que seja cumprido o regulamento da instituição. Bolsonaro, Pazuello e militares do governo dizem que o ato com os motociclistas no Rio de Janeiro não foi político.

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