Morre o sociólogo e cientista político Leôncio Martins Rodrigues, estudioso do sindicalismo e dos partidos

Lêoncio, 87, foi um dos pioneiros da sociologia do trabalho e participou da criação do Cebrap

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São Paulo

Um dos pioneiros da sociologia do trabalho no país, o sociólogo e cientista político Leôncio Martins Rodrigues morreu nesta segunda-feira (3). Aos 87 anos, ele fazia tratamento da doença de Parkinson e estava internado havia três meses no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Leôncio foi professor titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp e publicou diversas obras sobre política e sindicalismo.

Nascido em 1934 em São Paulo, formou-se em ciências sociais na USP em 1962. Em 1967 concluiu seu doutorado sobre "Atitudes Operárias na Indústria Automobilística”, tendo sido orientado pelo sociólogo Florestan Fernandes.

Homem branco de cabelos grisalhos, calvo, veste casaco e cachecol. Está sentado, segura livro aberto e olha para câmera. Ao fundo estante de livros cobre toda parede visível.
O cientista político e professor aposentado Leôncio Martins Rodrigues em entrevista à Folha em 2014 - Ernesto Rodrigues - 20.jun.2014/Folhapress

Seus estudos sobre o sindicalismo lhe renderam, em 2009, o prêmio Florestan Fernandes, da Sociedade Brasileira de Sociologia.

Já na década de 90, apontava que os sindicatos eram instituições que estariam em decadência e que os empregos que surgiam no mercado eram em áreas que não favoreciam a sindicalização.

Em 1999, publicou a obra "Destino do Sindicalismo”, na qual discutia o futuro dos sindicatos e das relações de trabalho.

Também pesquisou outros temas relacionados a partidos políticos, eleições e classe política, principalmente sobre as fontes sociais de recrutamento partidário.

Na juventude, ainda no colegial, Leôncio se aproximou do trotskismo e aderiu ao Partido Socialista Revolucionário.

Com isso, quando ingressou na graduação da USP, aos 25 anos, já tinha experiência de trabalho e anos de militância política. Ele criticava a atenção que se dava às obras de Marx e defendia que era preciso estudar o capitalismo moderno.

"Eu dizia: 'Isso é uma bobagem. Por que não se estuda o capitalismo moderno? Por que não se estuda o socialismo real?", afirmou em depoimento ao CPDOC/FGV em 2008.

No mesmo depoimento à FGV, ele citou Ruth Cardoso e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como personagens marcantes em sua trajetória. Ele conta que Ruth foi sua professora no colegial e que ela o incentivou a estudar ciências sociais.

Leôncio também participou da criação do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), grupo de pesquisa fundado em maio de 1969, em plena ditadura, e que reuniu nomes como Elza Berquó, Paul Singer, Cândido Procópio Ferreira e FHC.

Além disso, foi membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC) e da Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe de mestre e comendador.

"Ele sofreu muito e batalhou muito pela vida", diz Tereza Sadek, que estava junto com ele havia 20 anos. Leôncio deixa dois filhos, Daniel e Luciana. ​

"Léo era bom de papo, curioso é generoso. Vai fazer falta nesse tempos anestesiados", escreveu em seu perfil a historiadora e professora da USP Lilia Schwarcz.

Leôncio era amigo do ex-presidente e é citado nos Diários da Presidência de FHC. Em 1995, por exemplo, foi escolhido pelo tucano para representar o Brasil no Conselho de Administração da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Ao longo de sua carreira como pesquisador, lançou mais de 15 obras, entre as mais recentes estão "Partidos, Ideologia e Composição Social (2002) e "Pobres e Ricos na Luta Pelo Poder. Novas Elites na Política Brasileira" (2014).

Em um estudo em 1987, ao analisar os partidos e deputados da Constituinte, identificou o fenômeno de que os congressistas evitavam se posicionar abertamente à direita do espectro ideológico, cunhando o termo “direita envergonhada”.

"A julgar pela autodefinição política dos deputados, o Brasil seria um país sem direita", escreveu no livro "Quem é Quem na Constituinte".

Ao longo de sua trajetória, passou a ser crítico da esquerda e fez duras falas contra a oposição que o PT e os sindicatos faziam ao então governo tucano.

Em entrevista à Folha em 2006, definiu os petistas como "órfãos com pai vivo". À época ele afirmou que acreditava que o escândalo do mensalão contaminara toda a classe política e abrira espaço para o surgimento de lideranças carismáticas e populistas.

Na obra de 2014, comparou os patrimônios de deputados das quatro legislaturas anteriores e identificou que havia um processo de popularização da classe política no Brasil, tendência que vinha afastando do poder os membros das classes mais ricas.

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