Após ação violenta da PM em maio, protesto anti-Bolsonaro no Recife tem 'abraço simbólico'

PT e PDT se juntaram neste sábado para pedir impeachment do presidente e agilidade na vacinação

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Recife

Três semanas após ataque violento da Polícia Militar de Pernambuco diante de protesto pacífico contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Recife, manifestantes voltaram a ocupar, neste sábado (19), as ruas da capital pernambucana.

Desta vez, o ato pelo impeachment de Bolsonaro e a favor da vacinação contra a Covid-19 transcorreu sem incidentes. O Batalhão de Choque da PM-PE, que feriu duas pessoas nos olhos com tiros de bala de borracha no dia 29 de maio, não foi mobilizado pelo governo de Pernambuco.

Mesmo com a forte chuva que cai no Recife desde quinta-feira (17), o evento foi maior do que o anterior.

O clima nas ruas era de tranquilidade. Poucos policiais militares acompanharam os manifestantes à distância. Não houve qualquer tipo de animosidade durante a caminhada de mais de três horas.

O protesto foi liderado por centrais sindicais, partidos de esquerda e movimentos sociais. Protagonizando disputa eleitoral no campo da esquerda, o PDT, de Ciro Gomes, se juntou ao PT na manifestação.

Também integraram o ato o PSB, PSOL, PC do B e PCB. Bandeiras do Brasil e das agremiações partidárias eram vistas. Pernambuco e a cidade do Recife são governados pelo PSB. Havia muitas camisas com imagem do ex-presidente Lula (PT).

Faixa dizendo "Fora Bolsonaro" em rua sob chuva
Manifestação contra Bolsonaro no Recife neste sábado (19) - João Valadares/Folhapress

Grande parte das pessoas utilizou máscaras e álcool para higienização das mãos.

Os manifestantes tentaram cumprir normas de distanciamento social e se organizaram em três grandes filas. Em megafones, pessoas da organização do ato alertavam para a necessidade de manter o distanciamento e usar o equipamento de proteção.

"Vamos dar exemplo para este genocida. É possível protestar nas ruas com responsabilidade", repetia um dos organizadores.

Na praça do Derby, área central da capital pernambucana, onde ocorreu a concentração, máscaras foram distribuídas. Manifestantes trambém receberam álcool para higienização das mãos.

Nos últimos quatro meses, Recife figurou entre as capitais brasileiras com maior taxa de ocupação de leitos de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) para pacientes com sintomas da Covid-19. Neste período, o índice esteve acima dos 90%. Nesta sexta-feira (18), a taxa ficou em 86%.

Assim como ocorreu no ato do dia 29 de maio, o Ministério Público de Pernambuco, baseado em decreto estadual que proíbe a realização de eventos públicos e privados para evitar aglomerações, expediu recomendação para que o protesto não fosse realizado.

Foram notificados partidos políticos de esquerda, centrais sindicais, movimentos sociais e estudantis. A Promotoria também expediu documento nos mesmos termos na tentativa de evitar uma “motociada” de apoio a Bolsonaro que estava marcada para ocorrer na zona sul do Recife neste domingo (20). O ato foi cancelado.

Muitos manifestantes estavam apreensivos em razão das cenas de violência policial que vivenciaram no dia 29 de maio.

“Aqui, não só lutamos contra o vírus e contra Bolsonaro. Estamos também em protesto contra essa polícia sanguinária de Paulo Câmara, que cega pessoas por exercerem o simples ato de caminhar na rua”, disse a estudante universitária Amara Bonfim.

Ela se refere à ação dos policiais do Batalhão de Choque, há três semanas, que atacou, sem qualquer motivo aparente, a manifestação que seguia pacífica no Recife. Dois homens que sequer estavam no protesto perderam a visão de um dos olhos.

A vereadora Liana Cirne (PT) foi atacada com spray de pimenta na ocasião após se identificar. Nas redes sociais, perfis não oficiais de batalhões da Polícia Militar comemoraram a ação.

Três dias depois, o comandante da Polícia Militar, Vanildo Maranhão, pediu exoneração do cargo.

Exatamente uma semana após a ação violenta caiu o secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua. Ele estava no centro de monitoramento de câmeras durante o ataque.

No total, 16 policiais militares que participaram da ação foram identificados e afastados do serviço de rua. Inquéritos na esfera administrativa e criminal foram abertos. A Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social acompanha o caso.

Após o episódio que provocou forte desgaste político ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o governo instalou uma mesa permanente de articulação com a sociedade civil.

Durante a semana, integrantes de cinco secretarias estaduais se reuniram com os organizadores do ato para acertar detalhes sobre a realização do protesto.

Integrantes do governo que fazem parte da mesa de negociação instalada acompanharam o ato de maneira preventiva para atuarem na mediação de conflitos se houvesse a necessidade. Servidores públicos estavam presentes com coletes onde se lia "agentes de conciliação".

O promotor de Justiça Westei Conde, que havia alertado o governo de Pernambuco sobre excessos policiais antes da manifestação do dia 29 de maio, expediu recomendação formal para alertar a Secretaria de Defesa Social sobre o uso inadequado da força policial e emprego de armas no protesto deste sábado.

Ele recomendou também que os policiais deveriam estar identificados, com nomes no uniforme e nos coletes balísticos. A secretaria publicou o documento dos promotores no site oficial da pasta.

Na ponte onde houve o ataque, no cruzamento da avenida Boa Vista com a Rua da Aurora, os manifestantes ficaram lado a lado e promoveram um abraço simbólico.

Outras capitais

Pela manhã, houve manifestações em outras capitais do Nordeste. Em Maceió, a manifestação se concentrou na praça Centenário, no bairro do Farol, e seguiu pela avenida Fernandes Lima.

Também ocorreram protestos em Aracaju, Belém, João Pessoa, São Luís e Teresina.

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