Descrição de chapéu Eleições 2022

Com PSDB rachado, Leite resiste a ceder a Doria e diz que prévias têm que mirar país, e não partido

Governador do RS diz estar disposto a dialogar e que consenso é possível, mas avaliará sua participação caso a vantagem de SP se amplie

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São Paulo

Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) afirmou à Folha que seguirá defendendo o modelo de prévias presidenciais no PSDB em que os filiados tenham 25% de participação na votação. Na opinião do governador, esse formato dá chances a todos, enquanto a alteração defendida por João Doria (PSDB) desequilibra a disputa.

​O governador paulista tenta viabilizar o aumento da participação dos filiados para 50%. São Paulo concentra cerca de 22% dos 1,36 milhão de filiados do PSDB —a maior fatia entre as unidades da federação.

Nesta terça-feira (8), a cúpula do PSDB definiu que as prévias serão feitas por meio de grupos com pesos distintos, mas a proporção de cada grupo ainda está em aberto.

A ideia é que, ao longo da semana, Leite, Doria e os demais presidenciáveis —o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio— tentem chegar a um consenso. A nova reunião da executiva nacional para essa deliberação é na próxima terça-feira (15).

Leite afirmou estar disposto a dialogar, mas defendeu que a proporção se mantenha em 25%, como definido pela comissão de prévias do PSDB. Se a regra mudar, o gaúcho diz que irá avaliar se participará das prévias.

"O trabalho da comissão foi muito bem feito dentro da lógica do equilíbrio federativo que eu tenho defendido. Eu trabalharei para que seja mantida a regra apresentada pela comissão", disse à Folha.

​"Não faz sentido ter prévias, se partir de uma regra que desequilibra [a disputa] de forma quase irreparável." O gaúcho afirmou, contudo, acreditar na possibilidade de convergência.

Em uma referência indireta a Doria, Leite disse que não é "um obcecado" e que sua candidatura "não é um projeto pessoal". "Não adianta ser o melhor candidato para um estado ou para o partido apenas, tem que ser o melhor candidato para o Brasil."

Ele admite que pode retirar seu nome se houver algum candidato capaz de unificar a chamada terceira via e mostrar competitividade. Nos bastidores, tucanos apostam que ele e Tasso irão se unir. Questionado pela reportagem, Leite não descartou essa possibilidade.

No último dia 31, a comissão de prévias do PSDB, coordenada pelo ex-senador paulista José Aníbal, concluiu a proposta de votação em quatro grupos, cada um ​com peso unitário de 25%.

Os grupos são: um de filiados; um de prefeitos e vice-prefeitos; outro de vereadores, deputados estaduais e distritais; e o quarto grupo reúne governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, ex-presidentes e o presidente do PSDB.

Por exemplo: se no grupo um, o candidato A obtiver 60% dos votos e o B, 20%, na conta final o A soma 15% e o B, 5%.

Como o sr. vê esse debate em torno da proporção de filiados e o adiamento da decisão da executiva para que se busque uma convergência? Acho que é interessante que se tente buscar um acordo. Mas o trabalho da comissão foi muito bem feito dentro da lógica do equilíbrio federativo que eu tenho defendido. De buscar prévias que ajudem o partido a se conectar com a população em geral, para além do partido. As prévias precisam contemplar essas diferenças entre os estados, buscando condições equitativas, senão será uma visão parcial de país.

O sr. acha que caberia mais espaço para os filiados? Acho que a fórmula da comissão é adequada, especialmente considerando que são as primeiras prévias do PSDB da história em nível nacional. É defensável que essa parcela possa ser maior, mas precisa ser ponderada dentro dessa curva de aprendizado de execução das prévias, com o voto garantido a todos e os pesos ponderados.

O sr. estaria disposto a ceder para aumentar a participação dos filiados? Eu trabalharei para que seja mantida a regra apresentada pela comissão. Estou aberto a dialogar e ponderar. ​A comissão fez um trabalho técnico e responsável, qualquer ajuste teria que ser discutido quais os reflexos que poderia haver.

O modelo reflete o tamanho dos estados e o tamanho dos partidos nos estados. E São Paulo ainda tem uma capacidade de mobilização [de militantes] desigual, porque o partido está há anos no governo e por ter feito prévias recentemente.

É um ​esforço salutar buscar maior possibilidade de convergência, não tenho problema em buscar caminhos de unidade. Mas não faz sentido ter prévias se partir de uma regra que desequilibra [a disputa] de forma quase irreparável.

O sr. vê vantagem para São Paulo, já que o estado tem a maior parte de filiados, de prefeitos, de deputados, de senadores? Eu não quero um modelo eleitoral que me favoreça, eu quero apenas um modelo eleitoral que dê equilíbrio para serem prévias efetivamente possíveis de se disputar. O partido tem situações diferentes nos estados e, quando se pensa em Brasil, é preciso promover um equilíbrio federativo.

Dentro do modelo que está apresentado, São Paulo continua tendo preponderância, mas uma preponderância ajustada. Não adianta ser o melhor candidato para um estado ou para o partido apenas, tem que ser o melhor candidato para o Brasil, contemplando os diversos estados com seus pesos.

Das prévias vai emergir um candidato para o Brasil, não para o partido. Como a gente ajusta os pesos para que as prévias consigam traduzir melhor o sentimento nacional. O Brasil, do ponto de vista da estrutura partidária, tem um formato, mas o Brasil que vai escolher o presidente tem outro.

Se as regras mudarem para 50% de participação dos filiados, o sr. ainda disputaria as prévias? Isso teria que ser analisado. Caso fique uma visão de quase impossibilidade de vencer as prévias, aí vou pensar a respeito do assunto. Mas eu confio que a gente vai encontrar uma convergência sobre esse ponto. ​

A conversa de bastidor é que o sr. e Tasso irão unificar as candidaturas, que um irá ceder para o outro. Sempre tive uma boa relação com Tasso, tenho convicção de que teremos entendimento. Mas o momento para definição de candidaturas [das prévias do PSDB] vai ser bem lá na frente, em setembro. Então muitas coisas podem acontecer.

Mas o sr. vai manter sua candidatura? É a minha disposição. Eu fui procurado por um grupo de pessoas que acredita que a candidatura tem viabilidade. Então já não é um projeto pessoal. Eu não sou um obcecado. É sobre ajudar o partido a ter uma alternativa.

Tem um cenário eleitoral que nos preocupa em viabilizar uma candidatura que seja capaz de furar uma polarização que se apresenta neste momento. Candidaturas de personalidades mais conhecidas da política até aqui não conseguiram demonstrar essa capacidade de furar a polarização. É nesse sentido que eu estou me apresentando.

Se houver alguma outra candidatura que daqui a pouco consiga demonstrar clara forma de furar essa polarização, eu não tenho nenhum problema de retirar minha candidatura e apoiar.

Até agora, no centro democrático, não conseguiram demonstrar. Estou falando em comparação com os mais conhecidos, desde Ciro Gomes [PDT], que vai para a quarta candidatura; Tasso Jereissati, que já é um nome nacional; João Doria, que é também um nome nacional. E até a rejeição a alguns desses nomes mostra menor capacidade de crescimento.

A gente tem que ter uma análise sobre potencial eleitoral. É verdade que meu nome não é tão conhecido nacionalmente, mas isso é até em meu favor. Porque estamos falando de construir uma candidatura que seja capaz de se conectar com o sentimento do cidadão.

Se acontecer alguma mudança nisso tudo, pode acontecer. Vai retirar para o Tasso, o Tasso vai retirar para mim, não sei, eu não consigo fazer esse exercício de projeção.


REGRAS DAS PRÉVIAS APROVADAS PELO PSDB

Colégio eleitoral de quatro grupos, com 25% de peso cada

  1. filiados
  2. prefeitos e vice-prefeitos
  3. vereadores, deputados estaduais e distritais
  4. governadores, vice-governadores, deputados federais, senadores, ex-presidentes do PSDB e o atual

Datas

  • 20.set - inscrição dos candidatos
  • 18.out - início dos debates
  • 21.nov - primeiro turno
  • 28.nov - segundo turno

PROPOSTAS AINDA EM DISCUSSÃO

Serão votadas em 15 de junho, após presidenciáveis tucanos conversarem entre si​

  • Aumentar participação dos filiados (grupo um) para 50%
  • Acrescentar dirigentes estaduais no grupo dois, e não um

OS NÚMEROS DO PSDB

  • Prefeitos: 520 (202 em SP)
  • Vereadores: 4.372 (1.028 em SP)
  • Deputados estaduais: 72 (9 em SP)
  • Deputados federais: 33 (7 em SP)
  • Senadores: 7 (2 em SP)
  • Filiados: 1,36 milhão (cerca de 300 mil em SP)
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