Descrição de chapéu ameaça autoritária

Bolsonaro reedita em ato de 7 de Setembro coalizão que o levou ao poder

Grupos com agendas díspares, incluindo evangélicos, ruralistas, policiais, e caminhoneiros, se unem por reeleição do presidente

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São Paulo

Os atos em defesa do presidente Jair Bolsonaro, marcados para o feriado de 7 de Setembro, deverão reeditar grande parte da coalizão de direita que o elegeu em 2018, apesar dos interesses fragmentados dos diversos grupos participantes.

O presidente Jair Bolsonaro durante manifestação de apoiadores na praça dos Três Poderes, em Brasília, em maio do ano passado - Pedro Ladeira - 31.mai.2020/Folhapress

Estarão presentes evangélicos, ruralistas, policiais, militares, caminhoneiros, monarquistas e ativistas em geral, que têm em comum o apoio à reeleição de Bolsonaro e o repúdio à volta da esquerda ao poder, representada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Haverá concentrações em todas as capitais e principais cidades do interior. As maiores deverão ocorrer na praça dos Três Poderes, em Brasília, pela manhã, e na avenida Paulista, em São Paulo, à tarde. Bolsonaro é esperado em ambas.

Ainda que não haja um cabeça oficial da organização, o Nas Ruas, movimento fundado pela hoje deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), deve ser a abelha-rainha do ato. “Por uma nova independência” é um dos motes escolhidos para, nas palavras do grupo, motivar os “patriotas”.

É neste trio elétrico que Bolsonaro e ele estarão, diz o pastor Silas Malafaia.

O atual coordenador do Nas Ruas, Tomé Abduch, apareceu no vídeo divulgado por Malafaia em que os apóstolos Estevam Hernandes (Renascer em Cristo), Rina (Bola de Neve) e César Augusto (Fonte da Vida), entre outros líderes evangélicos, pedem a presença do “povo abençoado de Deus” na Paulista.

Dono de uma construtora que leva seu sobrenome, Abduch diz na gravação que estão em jogo a democracia, a Constituição e sobretudo a liberdade de expressão. Finaliza o aceno aos evangélicos com um “o povo cristão jamais se calará”.

“Bolsonaro representa o que a maioria desse país cristão acredita: Deus pátria e família”, diz o ex-senador Magno Malta, que aos poucos volta a orbitar o círculo presidencial após ter sido um apoiador de primeira hora de Bolsonaro que, no entanto, acabou excluído de seu governo.

A convocação de fiéis para uma data marcada por um desfile com tropas militares é inédita. O cortejo oficial, aliás, foi suspenso pelo segundo ano consecutivo, por causa da pandemia. A expectativa é a de que a manifestação em São Paulo seja a ponta de lança dos bolsonaristas no feriado.

Lá estará também, com a trupe dos motociclistas, Jackson Vilar, o pastor dono de uma loja de imóveis no Capão Redondo, na periferia paulistana, que em junho organizou a Acelera para Cristo. O ato se vendia como uma versão evangélica das motociatas pelo presidente, mas na prática reuniu a turma bolsonarista de sempre.

A diversidade de ativismos é como uma mesma janela de computador com várias abas abertas, descreve um pastor que pretende marchar no dia.

Nem todos concordam com as pautas alheias. Mauro Reinaldo, empresário que idealizou o União pelo Brasil, um dos movimentos previstos para o dia, é um exemplo.

Até fala em “CPI da Lava Toga”, reproduzindo uma quase unânime animosidade ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas diz não ver sentido no voto impresso, ao menos o projeto proposto por Filipe Barros (PSL-PR), relator da PEC que tornava obrigatória a impressão da escolha depositada nas urnas eletrônicas e que acabou rejeitada no plenário da Câmara.

Algumas bandeiras, contudo, são coletivas, como o coro pela reeleição de Bolsonaro e a tentativa de repelir a atmosfera golpista sobre a manifestação, encorpada por reiteradas falas do presidente contra o Judiciário, sobretudo os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF.

“Seu Alexandre de Moraes e seu Barroso estão levando todo o STF para o buraco”, diz Malafaia. “Ninguém tá falando em golpe. Forças Armadas no parâmetro da Constituição.”

A referência ao artigo 142, que trata do papel das Forças Armadas na República, é uma piscadela comum entre bolsonaristas para justificar uma eventual intervenção militar no país.

Questionado sobre intenções golpistas atribuídas a Bolsonaro, Malta diz que é importante “não perder tempo com quem cria narrativas pra ver se cola”.

“O golpe já foi dado rasgando a Constituição”, diz, numa reprise do argumento de que são os ministros da corte superior os desinteressados em seguir a Carta Magna. Aproveitou para espezinhar Lula, provável nêmesis de Bolsonaro em 2022: "Quem assaltou o país, aparelhou as cortes e tentou amordaçar a mídia quer voltar pra comer o resto do pernil".

Carla Zambelli, uma de suas soldadas mais leais no Congresso, também replica uma fala do presidente ao dizer que, se os acusam de golpistas, “não atuamos fora das quatro linhas da Constituição”.

Outro movimento de caráter nacional que planeja participar das manifestações é o Foro Conservador, uma coalizão de 120 entidades de direita, entre nacionais e regionais.

Seu coordenador-geral, Lúcio Flavio Rocha, reforça que não haverá defesa de intervenção militar.

“Não há nenhuma inclinação para isso”, diz ele, que também procura desfazer o temor de que haverá atos de vandalismo contra prédios públicos, especialmente em Brasília.

“Do nosso lado será pacífico. Mas a gente considera que haverá infiltrados para criar baderna. Vai ter provocação”, afirma.

O Foro diz que recomenda a seus simpatizantes que acatem as medidas protetivas contra a Covid nas cidades onde houver mobilizações. O próprio Bolsonaro, no entanto, reiteradamente ignora o uso de máscaras.

Alguns ativistas aproveitarão para promover pautas laterais. Um grupo mandou fazer banners defendendo a candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, para o Governo de São Paulo.

Movimento com forte presença na Grande São Paulo, o Aliança Nacional também vai pedir o voto impresso e fará críticas aos ministros do STF. “O Bolsonaro, de todos os políticos que nós temos, é o único honesto”, diz Giovani Falcone, da coordenação do movimento.

Em grupos bolsonaristas, os atos estão sendo chamados de “históricos”. A expectativa em torno deles cresceu, nos últimos dias, em razão de dois acontecimentos: primeiro, a ameaça feita pelo cantor sertanejo Sérgio Reis contra o Senado, para que inicie processo de impeachment contra ministros do STF. Caso contrário, afirmou, caminhoneiros e produtores rurais iriam parar o país.

Além disso, espera-se a presença de diversos policiais militares da reserva, e até alguns da ativa, que compareceriam à paisana.

“Tem ônibus que vem do interior fechado só com policial. Aí são mais os da reserva. Os da ativa virão daqui de São Paulo, de Osasco e outras cidades. Mas eles vêm sem farda, só de verde e amarelo”, afirma o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), ligado à categoria.

Segundo ele, o afastamento do coronel Aleksander Lacerda, por ter feito postagens convocando para o ato, teve o efeito de estimular a presença de policiais.

“Essa decisão do Doria está repercutindo muito negativamente na tropa”, afirma Tadeu, que prevê ao menos 500 policiais na manifestação.

Também deve haver a presença de militares reformados. No Rio, o Clube Militar já anunciou que participará do ato.

Outra entidade que reúne membros das Forças Armadas aposentados, o B38, planeja carreatas em diversas cidades pelo país.

“Estamos presentes em 2.200 cidades. Em algumas haverá milhares de carros, em outras algumas centenas”, diz Valeria Cavalheiro, diretora-administrativa da entidade.

Segundo ela, as pautas principais do movimento são a defesa do voto impresso e do governo Bolsonaro. “Mas não queremos falar em ruptura democrática, nem em sair das quatro linhas da Constituição. Como diz o próprio presidente, aliás”.

Quanto a Sérgio Reis, ele está proibido pelo ministro Alexandre de Moraes de participar da manifestação, em razão das ameaças que fez.

Mas diversos grupos ligados ao agronegócio prometem marcar presença, sobretudo em Brasília, liderados pelo Movimento Brasil Verde e Amarelo.

Além disso, diversos sindicatos de produtores rurais preparam caravanas para a capital federal.

O Sindicato Rural de Uberlândia (MG), por exemplo, promete oferecer ônibus de graça para seus associados na “Caravana para Brasília em Defesa do Brasil”. Os cerca de 425 km serão cumpridos em um bate-volta, com saída pela manhã e retorno à tarde.

OS PROTAGONISTAS DO 7 DE SETEMBRO DE BOLSONARO

RURALISTAS

Quem são Sindicatos rurais, associações de produtores, movimentos nacionais como o Brasil Verde e Amarelo

Pauta Avanço da área plantada, menos restrições ambientais, obras de infraestrutura

CAMINHONEIROS

Quem são Lideranças regionais e caminhoneiros autônomos independentes, sem coordenação unificada

Pauta Redução do preço do diesel, reajuste da tabela do frete, diminuição do pedágio

POLICIAIS

Quem são Associações de policiais militares da reserva, além de alguns da ativa que devem ir à paisana

Pauta Defesa do governo Bolsonaro, melhores condições salariais, combate à ameaça esquerdista, críticas ao STF

MILITARES

Quem são Associações de pessoal da reserva, como Clube Militar

Pauta Defesa de temas conservadores em geral, utilização do artigo 142 da Constituição, críticas ao STF

EVANGÉLICOS

Quem são Puxados pelo pastor Silas Malafaia, lideranças como Estevam Hernandes (Renascer em Cristo), César Augusto (Fonte da Vida) e Rina (Bola de Neve) convocaram fiéis a ocupar a avenida

Pauta Respaldo ao presidente, defesa das liberdades religiosa e de expressão, críticas a valores progressistas, ataques ao STF

ATIVISTAS

Quem são Grupos nacionais, como Nas Ruas, Avança Brasil e Foro Conservador, além de dezenas de movimentos regionais

Pauta Voto impresso, defesa de valores conservadores, críticas ao STF, reeleição de Bolsonaro

OUTROS

Quem são Grupos díspares, como motociclistas, monarquistas, integralistas e liberais econômicos

Pauta Voto impresso, defesa de valores conservadores, críticas ao STF, reeleição de Bolsonaro, reformas econômicas, privatizações

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