Bolsonaro repete discurso pró-voto impresso e cita 'legitimidade' do Congresso após motociata em SC

Em Florianópolis, presidente criticou STF e fez aceno a parlamentares; Câmara vai analisar PEC em plenário

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Florianópolis e Rio de Janeiro

Após participar de uma nova motociata em Florianópolis neste sábado (7), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insistiu na pregação a favor do voto impresso e, em meio a críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal), exaltou a "legitimidade" dele e do Congresso Nacional.

"Quem decide as eleições são vocês. Não são meia dúzia [de pessoas] dentro de uma sala secreta que vão contar e decidir quem ganhou as eleições. Não vão ser um ou dois ministros do Supremo Tribunal Federal que vão decidir o destino de uma nação. Quem teve voto, quem tem legitimidade, além do presidente, é o Congresso Nacional", declarou.

Nesta sexta (6), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que vai levar a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso ao plenário da Casa, mesmo após o texto ter sido derrotado em comissão especial no dia anterior.

O projeto deve ser votado na próxima terça (10) no plenário. A estratégia, segundo pessoas próximas a Lira, seria rejeitá-lo e esvaziar a pressão de Bolsonaro. Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que comanda o Senado, afirmou que a tendência é que a mudança seja rechaçada.

Jair Bolsonaro participa de motociata em Florianópolis
Jair Bolsonaro participa de motociata em Florianópolis - Eduardo Valente/iShoot/Agência O Globo

Sem máscara contra a Covid, o presidente gerou aglomeração durante a motociata ao parar algumas vezes para cumprimentar apoiadores. A maioria também não usava máscara e levava bandeiras do Brasil —alguns vestiam camisetas pedindo o voto impresso.

A Polícia Militar de Santa Catarina estimou o público em aproximadamente 35 mil pessoas e 24 mil motos. Os veículos se estenderam por um trecho de cerca de 30 km, levando 40 minutos de uma ponta a outra, segundo a corporação.

No discurso após o passeio, o presidente repetiu a retórica de defesa do que chama de "eleições limpas" e disse que seus adversários "vão quebrar a cara".

"Quem não quer contagem de votos pode ser tudo, mas não é democrata. E quem não é democrata não tem espaço no nosso Brasil. Eu tenho limites, alguns outros poucos acham que são donos do mundo. Vão quebrar a cara", declarou.

Apesar das ameaças golpistas feitas nos últimos dias, citando a possibilidade de atuar fora da Constituição, Bolsonaro disse que "continuamos jogando dentro das quatro linhas da Constituição" e que "o outro lado" é que "não raro sai fora delas para nos atingir".

Mais cedo, em um vídeo transmitido em suas redes sociais, ele voltou a afirmar que "querem decidir as coisas no tapetão", jargão futebolístico que se refere aos tribunais esportivos que tomam as decisões fora do campo de jogo, de má fama entre os torcedores.

"Agradeço ao povo brasileiro que reconhece o momento que o Brasil atravessa, reconhece o que está em risco na política. Querem no tapetão decidir as coisas no Brasil, isso não pode ser dessa maneira. A democracia nasce do voto responsável e contabilizado", declarou em vídeo transmitido em suas redes sociais.

Bolsonaro também voltou a atacar Lula, a quem chamou de "bandido de nove dedos" e com quem tem polarizado com vistas às eleições de 2022.

Em rede social, o petista disse neste sábado que "Bolsonaro desafiou a sociedade" e que ele, em algum momento, "será julgado". "E é disso que ele tem medo. Essa loucura toda de voto impresso é medo. Bolsonaro sabe que vai perder e tem medo de ser preso, aí fica nessa bobagem", afirmou.

"Não acredito em golpe do Bolsonaro. Ninguém que ganhar as eleições precisa dele pra passar a faixa. O povo entrega. O grande golpe que ele deu já foram as eleições de 2018. Mentiu a campanha toda, não participou de nenhum debate e foi eleito", escreveu Lula.

Neste sábado, Florianópolis parou com o trânsito provocado pelo comboio da motociata, que obrigou o fechamento de diversas ruas. O presidente chegou ao aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, por volta das 10h, e seguiu de helicóptero até o local de partida da motociata, na região sul da ilha da capital catarinense.

Na moto, ele estava acompanhado do senador Jorginho Mello (PL-SC), membro da CPI da Covid. Seguiu pela região central e depois norte, onde estacionou novamente para acenar aos motociclistas em frente à loja de departamento Havan.

O empresário Luciano Hang, dono da marca, o acompanhou durante todo o trajeto. Manifestantes de jet ski também participaram, parando embaixo da ponte que liga a ilha à parte continental da cidade.

Esta é a sétima motociata promovida por Bolsonaro pelo país, sempre aos finais de semana. Em todas elas o presidente desrespeitou os protocolos sanitários ao gerar aglomerações e cumprimentar apoiadores sem máscara.

As outras edições do evento ocorreram em Brasília (9 de maio), Rio de Janeiro (23 de maio), São Paulo (12 de junho), Chapecó, em Santa Catarina (26 de junho), Porto Alegre (10 de julho) e Presidente Prudente, no interior de SP (31 de julho).

Ao fim dos trajetos de moto, Bolsonaro costuma fazer discursos em cima de carros de som, com ataques às eleições e às urnas eletrônicas, citações às Forças Armadas e críticas a prefeitos e governadores por medidas de restrição.

A passagem do presidente também envolve uma estrutura de segurança nessas cidades. Em São Paulo, por exemplo, o reforço no policiamento custou R$ 1,2 milhão e contou com cinco aeronaves, dez drones e 600 viaturas, segundo o governo de João Doria (PSDB), seu adversário político.

Na quarta (4), Doria afirmou que se o presidente fizer novas motociatas no estado será cobrado pelos custos de segurança pública. "Não é obrigação do Governo do Estado de São Paulo fazer segurança de motociatas sem que o custo seja suportado por quem as organiza e as promove”, declarou.

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