Descrição de chapéu datafolha

Bolsonaro usará marco dos mil dias para viajar o país, inaugurar obras e tentar recuperar popularidade

Ideia é que presidente visite as cinco regiões, ao lado de ministros e congressistas, dê entrevistas e lance construções de impacto

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Brasília

Na esteira do pior patamar de reprovação ao governo desde que tomou posse, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) planeja uma sequência de eventos para celebrar a semana em que completa mil dias de mandato.

A ideia original do presidente é fazer viagens para todas as regiões do país, num esforço concentrado para apresentar entregas como estradas, casas populares e até hidrelétrica.

A confirmação das agendas nos estados, no entanto, depende do teste de Covid-19 que ele deve realizar neste fim de semana, após o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) ter se infectado em Nova York. Caso o resultado seja negativo, o mandatário terá luz verde para deixar o isolamento.

Com as viagens e os eventos, Bolsonaro espera recuperar parte da sua popularidade. Segundo o Datafolha divulgado na semana passada, 53% da população considera a gestão do presidente ruim ou péssima, um novo recorde.

A ideia de integrantes do Palácio do Planalto é que, liberado do isolamento, Bolsonaro visite ao menos uma cidade de cada região e participe por videoconferência de inaugurações de impacto.

Durante as viagens, além das solenidades de lançamento das obras, o presidente deverá conceder entrevistas a rádios locais. A medida faz parte de uma nova estratégia de comunicação que busca dar capilaridade às ações do governo.

No dia 27 de setembro, quando o governo completa mil dias, o plano é fazer um ato no Planalto.

De 28, terça-feira, a 1º de outubro, sexta-feira, Bolsonaro deve ir para Nordeste, Norte, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. As duas últimas regiões serão visitadas no mesmo dia pelo presidente, na sexta.

O chefe do Executivo está sendo aconselhado a participar dos eventos mais vistosos, como inaugurações de hidrelétrica ou rodovias. Mas caberá ao próprio Bolsonaro a escolha das cidades e dos eventos que participará.

Segundo auxiliares palacianos, o chamado "entregaço" já vinha sendo organizado há pelo menos quatro meses. Foram concentradas todas as entregas de ministérios previstas para setembro em uma única semana.

Estão planejados eventos que vão da alçada desde do Ministério da Defesa até a Saúde, passando por Educação, Desenvolvimento Regional, Ciência e Tecnologia e Infraestrutura, entre outros.

A lista de obras está sendo finalizada. A expectativa é que sejam incluídos atos de assinatura de concessão de aeroportos e rodovias, além da liberação de trechos duplicados em estradas.

Com a série de eventos, a meta do Planalto é tentar emplacar uma agenda positiva nos estados, diante das pesquisas de opinião que mostram Bolsonaro em desvantagem em relação ao seu provável adversário no ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A mais recente pesquisa Datafolha mostrou que a corrida presidencial está estagnada, com Lula mantendo larga vantagem sobre Bolsonaro na dianteira da disputa.

Comparado ao último levantamento, Lula oscilou de 46% para 44% e Bolsonaro, de 25% para 26%, numa hipótese em que o candidato tucano é João Doria (SP), que passou de 5% para 4%. Nesse cenário, Ciro Gomes (PDT) segue em terceiro (de 8% para 9%), tudo dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O petista foi de 46% para 42%, e Bolsonaro se manteve em 25%, na simulação em que o nome do PSDB é Eduardo Leite (RS) —que oscilou de 3% para 4%. A diferença no cenário com o gaúcho é que Ciro Gomes (PDT) pulou de 9% para 12%.

Durante as atividades dos mil dias, no mesmo dia e no mesmo horário, a previsão é que ocorram eventos simultâneos em diferentes estados do país com os ministros.

Bolsonaro quer participar presencialmente de um e, por videoconferência, aparecer nos demais. Nas cerimônias, o Planalto também pretende apresentar vídeo com o que foi entregue pelo governo federal aos estados.

Antes da pandemia, o governo realizava eventos no Planalto a cada cem dias para apresentar o que teria feito no período. Esta deve ser a primeira vez que Bolsonaro viajará com esse propósito.

O governo prepara eventos em dias e cidades distintas com os ministros como estrelas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, deve participar de cerimônia em Florianópolis em 1º de outubro.

Já a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, organiza a celebração de mil dias do governo Bolsonaro no Pará. Ela tem questionado ministérios sobre ações voltadas ao estado para consolidar em uma apresentação.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, seria o destaque do evento em João Pessoa, onde nasceu, mas está cumprindo isolamento em Nova York para respeitar a quarentena da Covid.

O ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Social) vai a Alagoas, São Paulo, Tocantins e Minas Gerais —nesses dois últimos estados ele acompanha o presidente.

A Covid deve levar ao desfalque nas celebrações de outra ministra. Tereza Cristina (Agricultura) recebeu resultado positivo em teste para o vírus e não deve mais viajar para o Amapá, onde lideraria as entregas no estado.

A pasta deve ser representada pelo secretário-executivo, Marcos Montes.

A entrega de obras, a recuperação da economia e o lançamento do Auxílio Brasil, programa que reformulou o Bolsa Família, são as apostas de líderes do centrão para tentar alavancar a popularidade do presidente.

Outra aposta dos dirigentes de siglas do centrão era que Bolsonaro moderasse seu discurso e parasse de provocar as instituições.

Após os protestos de 7 de Setembro, o presidente escreveu uma carta na qual disse que só agrediu ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) no "calor do momento" e desde então tem mantido um tom menos belicoso , apesar de políticos e magistrados desconfiarem do tempo que a moderação vai durar.

Nesta semana, em entrevista à revista Veja, Bolsonaro afirmou que não existe nenhuma chance de tentar um golpe no país.

"Daqui pra lá, a chance de um golpe é zero. De lá pra cá, a gente vê que sempre existe essa possibilidade", disse o presidente na entrevista.

"De lá pra cá é a oposição, pô. Existem cem pedidos de impeachment dentro do Congresso. Não tem golpe sem vice e sem povo. O vice é que renegocia a divisão dos ministérios. E o povo que dá a tranquilidade para o político voltar", disse.

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