Após mostrar dedo do meio a manifestantes, Queiroga recebe diagnóstico de Covid em NY

Ministro da Saúde é o segundo infectado na comitiva brasileira para a Assembleia da ONU

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Nova York

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recebeu diagnóstico de Covid-19 nesta terça-feira (21) durante viagem a Nova York para acompanhar Jair Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU. Foi a segunda contaminação confirmada na comitiva que acompanhou o presidente brasileiro no país.

Queiroga não embarcou junto com a delegação que retornou ao Brasil nesta terça. Ele deveria acompanhar a comitiva presidencial, mas ficou em Nova York, cumprindo isolamento.

Jair e Michelle Bolsonaro visitam memorial às vítimas do 11 de Setembro acompanhados do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga
Jair e Michelle Bolsonaro visitam memorial às vítimas do 11 de Setembro acompanhados do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (de máscara) - Divulgação Presidência da República

O ministro estava hospedado no mesmo hotel que Bolsonaro e permaneceu no local. Ele recebeu o resultado positivo do exame nesta terça. Ao embarcar para os EUA, no domingo, apresentou teste negativo, segundo uma das autoridades presentes na comitiva.

Queiroga esteve em vários eventos ao lado do presidente, como o jantar na noite de segunda que terminou em confusão. Na ocasião, ele mostrou o dedo do meio a ativistas que protestavam contra o governo.

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga mostra o dedo do meio para manifestantes durante viagem a Nova York
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga mostra o dedo do meio para manifestantes durante viagem a Nova York - Reprodução

Na segunda, Queiroga esteve no encontro com o premiê britânico, Boris Johnson —que depois se reuniu com o presidente dos EUA, Joe Biden. Ao ser questionado sobre o primeiro caso de Covid na comitiva, o ministro disse: “Estamos em pandemia, e coisas assim [contaminações] podem acontecer”.

Nesta terça, ele acompanhou Bolsonaro na Assembleia-Geral e circulou com o presidente e outros ministros pelos corredores do prédio da ONU. À tarde, também foi à parte externa do memorial dos ataques de 11 de Setembro, no World Trade Center. No local houve uma aglomeração em torno do presidente, que foi cercado por turistas.

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, esteve ao lado de Queiroga em vários desses eventos e também na van que os transportou na saída do jantar de segunda (20).

França se encontrou com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na tarde desta terça. Ele ficaria por mais alguns dias no país, para outras reuniões bilaterais. A princípio, essas agendas estão mantidas.

Além do evento no memorial do 11 de Setembro, Queiroga esteve em uma reunião com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).

À noite, em mensagem no Twitter, ele reforçou que ficará em quarentena nos EUA, "seguindo todos os protocolos de segurança sanitária". "Enquanto isso, o Ministério da Saúde seguirá firme nas ações de enfrentamento à pandemia no Brasil", escreveu.

O aviso da contaminação foi enviado a diplomatas da missão do Brasil na ONU. Os funcionários que permaneceram em Nova York entrarão em isolamento nos próximos dias e não acompanharão presencialmente os debates do evento, que continuam nesta quarta (22).

Queiroga já recebeu a vacina contra o coronavírus e inclusive aplicou doses em políticos como o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filhos do presidente, e em colegas como os ministros Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Tarcisio Freitas (Infraestrutura). Também cobrou de Bolsonaro, em uma live, que se imunizasse.

No sábado (18), um primeiro caso na comitiva brasileira foi confirmado. O funcionário, que trabalha no cerimonial da Presidência, tinha saído do Brasil havia cerca de dez dias para ajudar a planejar a logística da viagem. Ele se sentiu mal na sexta-feira (17) e recebeu o diagnóstico de Covid no dia seguinte, véspera da chegada do presidente Bolsonaro aos EUA.

Não ficou claro em quantas reuniões o funcionário infectado esteve nem se ele foi à sede da ONU nos dias anteriores. Pelo status que tem no governo, tudo indica que ele estava hospedado no mesmo hotel utilizado por Bolsonaro e sua comitiva.

Depois que a contaminação foi confirmada, a pessoa foi isolada e ficará 14 dias em quarentena antes de voltar ao Brasil. Procurada pela Folha na manhã de segunda-feira, a assessoria de imprensa da Presidência disse desconhecer esse primeiro caso.

Bolsonaro discursou na Assembleia-Geral nesta terça. Entre os temas abordados estava a pandemia de Covid-19, e o presidente —que diz não ter se vacinado— se posicionou contra a exigência de passe sanitário. Durante sua estadia em Nova York, ele se esquivou de entrar em restaurantes, já que a imunização é obrigatória para frequentar esses locais na cidade americana. Para isso, comeu pizza na calçada, e uma churrascaria brasileira fez um "puxadinho" para recebê-lo em uma área externa.

A ONU chegou a distribuir uma carta com orientações da prefeitura sobre a necessidade de imunização para participar de eventos em locais fechados, o que incluiria a sede da ONU e o plenário da Assembleia-Geral. No entanto, após críticas da Rússia, a entidade mudou de posicionamento.

O secretário-geral do órgão, o português António Guterres, disse que não teria como impedir líderes estrangeiros não imunizados de irem ao encontro, e a decisão foi formalizada na quinta (16). Se tivesse sido mantida, a regra poderia ter impossibilitado a entrada de Bolsonaro.

Ainda que não tenha vetado a presença de não vacinados, a ONU estabeleceu uma série de protocolos para prevenir a disseminação do vírus no evento, entre os quais distanciamento social e restrição de público: podem comparecer apenas funcionários da entidade e jornalistas que já trabalham no quartel-general da entidade e possuem um escritório ali. Não há plateia, e cada líder estrangeiro pode levar uma delegação de seis pessoas às dependências, quatro das quais ao salão da assembleia.

O uso de máscara é exigido o tempo todo, exceto enquanto a pessoa estiver falando em reuniões. A higienização da tribuna onde se pronunciam os líderes também é vista com frequência.

Ao chegar ao evento, os participantes precisam atestar que não tiveram sintomas ou diagnóstico de Covid nos últimos 14 dias nem contato com pessoas que tiveram a doença. E, caso apresentem algum sintoma durante o evento, a orientação é que deixem de comparecer presencialmente.

Os protocolos adotados pela ONU são mais brandos do que os das Olimpíadas de Tóquio, que mantiveram os atletas em uma espécie de bolha e exigiram que tanto eles quanto os jornalistas cumprissem um período de isolamento anterior ao evento. Reportagem da Folha mostrou que os cuidados definidos pela entidade ajudam a reduzir o risco de contágio, mas não a evitá-los por completo.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior deste texto, o ministro Marcelo Queiroga não acompanhou o presidente Jair Bolsonaro em encontros em Nova York com o presidente polonês, Andrzej Duda, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

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