Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro enfrenta campo minado no centrão para definir partido

Presidente quer decisão neste ano, mas sinaliza caminho de obstáculos e barganhas

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Salvador

Sem filiação partidária há dois anos, quando deixou o PSL em novembro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro terá que superar uma série de entraves e campos minados para se filiar ao PP, ao PL ou ao Republicanos.

Bolsonaro negocia com os três maiores partidos do centrão e tem até março para definir a legenda na qual concorrerá à reeleição. Mas quer uma definição ainda este ano, ganhando tempo para organizar a sua base de apoiadores.

Bolsonaro e o presidente da Câmara, Arthur Lira, em Brasília - 9.ago.21/Presidência/AFP

Depois de negociar com PP e PL, o presidente incluiu nesta semana o Republicanos no rol de possíveis destinos quando afirmou na Itália que iria decidir entre "três namoradas". Nesta sexta-feira (5), em solenidade no Paraná, voltou a citar a trinca do centrão.

"Eu estou na iminência de decidir. Tem três partidos me namorando. Por enquanto, sou bonito. Não sei amanhã. Mas tenho que negociar para os outros dois não darem pancada em mim", afirmou o presidente, sinalizando um caminho de obstáculos, barganhas e muita negociação até a decisão.

Um dos entraves é a oposição de diretórios estaduais alinhados a outros presidenciáveis, como o ex-presidente Lula (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e os tucanos João Doria e Eduardo Leite.

Também há resistência em acolher nomes ligados ao bolsonarismo hoje dispersos em outros partidos. A oposição acontece sobretudo em estados menores, onde nomes ligados a Bolsonaro entrariam em competição direta com caciques locais na disputa pela Câmara dos Deputados.

Entre os três, o PP do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, é o partido do centrão com mais poder, maior fundo partidário e é visto como favorito para fechar com o presidente.

Ao mesmo tempo, é a legenda onde Bolsonaro enfrentará mais obstáculos para formar uma base coesa. Em ao menos sete estados, líderes do partido são aliados de potenciais adversários do presidente.

Em São Paulo, o partido é próximo do governador João Doria e tende a apoiar o tucano para o Planalto caso ele vença as prévias contra Eduardo Leite e Arthur Virgílio.

O PP de Goiás também é próximo ao governador paulista. O diretório é controlado pelo ex-deputado federal Alexandre Baldy, que foi secretário na gestão Doria até outubro. Ele deixou o cargo para pavimentar sua candidatura ao Senado em 2022.

Na Bahia, Pernambuco, Ceará e Maranhão, o PP tem alianças locais com partidos de esquerda. Em agosto, quando Lula fez um périplo pelo Nordeste, o vice-governador da Bahia, João Leão (PP), anunciou apoio ao petista: "Estamos juntos com Lula independente de qualquer condição".

A filiação de Bolsonaro ao partido, contudo, pode azedar a relação entre o PP e o PT no estado. Petistas baianos dizem que será difícil manter o PP na chapa majoritária que será liderada pelo senador Jaques Wagner (PT) tendo Bolsonaro como candidato a presidente pelo partido.

Isso porque uma das estratégias da legenda em 2022 será justamente ligar o ex-prefeito de Salvador e pré-candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (DEM), a Bolsonaro, que tem baixa popularidade no estado.

O jogo duplo do PP tem gerado tensões, como no caso da votação da PEC dos Precatórios. Na quinta-feira (4), o governador Rui Costa (PT) chamou os deputados que votaram com Bolsonaro de traíras, gerando reações duras.

"O tempo do chicote e do coronelismo já acabou na Bahia faz tempo e não será reeditado por ninguém. Somos aliados fiéis, mas não somos capachos e exigimos respeito", afirmou em uma rede social o deputado federal Cacá Leão (PP-BA).

A situação é semelhante no Ceará, Pernambuco e Maranhão. O PP maranhense, comandado pelo deputado federal André Fufuca, é aliado do governador Flávio Dino (PSB). Em Pernambuco, o partido também deve manter a aliança com o PSB do governador Paulo Câmara.

No Ceará, o jogo duplo acontece na mesma família. O deputado federal AJ Albuquerque apoia Bolsonaro em Brasília. Já o seu pai, Zezinho Albuquerque (PDT), é secretário na gestão Camilo Santana (PT) e mantém pontes com Ciro. Ele deve migrar para o PP na janela eleitoral.

Na Paraíba, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) e a senadora Danielle Ribeiro (PP) ameaçaram deixar o partido em caso de filiação de Bolsonaro. O partido retomou pontes com o governador João Azevêdo (Cidadania), que busca o apoio de Lula para sua reeleição.

Já em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, o deputado federal Marcelo Aro costuma criticar o presidente, mas diz que não será um empecilho caso o partido acolha Bolsonaro: "O que o presidente Ciro Nogueira decidir, terá nosso apoio", diz.

O PL intensificou as conversas com Bolsonaro nas últimas semanas, com direito a um vídeo em que o chefe do partido, Valdemar da Costa Neto, convida publicamente o presidente a migrar para a legenda. Por outro lado, a sigla tem indicado que pode abandonar o barco bolsonarista caso não seja a escolhida.

A avaliação do partido é que, com Bolsonaro, o PL terá capacidade de ampliar sua bancada no Congresso Nacional e se tornar um dos maiores partidos do país.

Apesar de ser liderado por bolsonaristas em estados como Santa Catarina e Espírito Santo, o partido tem dissidências no Amazonas, no Piauí e em Alagoas, onde líderes do partido fazem oposição a Bolsonaro.

No Piauí, por exemplo, o deputado federal Fábio Abreu (PL) é aliado do governador Wellington Dias (PT) e deve manter a parceira com o petista em 2022: "Os aliados de Bolsonaro no Piauí são nossos ferrenhos opositores, não teria como conviver com eles. Se houver algum tipo de imposição, saio do partido".

No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL), que disputará a reeleição, tem feito um movimento de afastamento do presidente em uma tentativa de construir um palanque mais amplo em 2022.

São Paulo também é um entrave, já que o partido faz parte da base do governador João Doria e assegurou apoio ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) na sucessão ao governo paulista.

Na Bahia, a legenda deixou a base do governador Rui Costa e aproximou-se de ACM Neto, que busca se afastar do presidente e descolar sua pré-campanha ao governo da eleição nacional.

Depois de negociar com PP e PL, Bolsonaro citou na última semana o Republicanos como uma terceira opção de partido. Parte da bancada, contudo, viu o movimento do presidente como forma de sinalizar ao PP e PL que ele tem outras opções e barganhar mais espaços para os seus aliados.

Na última reunião da executiva, antes da sinalização de Bolsonaro, o Republicanos deliberou que não teria candidato ao Planalto e iria centrar esforços na eleição de senadores e deputados federais.

O aumento da bancada é um projeto de longo prazo do partido e que já vinha sendo tocado nas últimas eleições. O movimento incluiu a filiação de líderes políticos de fora do meio evangélico, buscando suavizar a ligação com a Igreja Universal do Reino de Deus.

A ligação do partido com a Universal, inclusive, é vista como um fator que tornaria mais difícil a adesão de Bolsonaro já que o movimento poderia indispor o presidente com outras denominações evangélicas.

A maioria dos diretórios estaduais do Republicanos está alinhada a Bolsonaro, mas o partido deve apoiar a candidatura de Lula em estados do Nordeste como Pernambuco, Maranhão e Sergipe.

Em Pernambuco, por exemplo, o deputado federal Sílvio Costa Filho trabalha para ter o apoio do petista para concorrer a uma vaga no Senado.

Também há setores do partido que atuam pelo apoio a uma possível candidatura de terceira via entre Lula e Bolsonaro, caso dos diretórios de Minas Gerais e de São Paulo e Rio Grande do Sul –o partido faz parte da base de apoio dos governadores tucanos João Doria e Eduardo Leite.

Por outro lado, o Republicanos é visto com bons olhos pelo seu nível de disciplina e organização. Ao contrário de PP e PL, que funcionam mais como um ajuntamento de caciques locais, o partido é marcado por um maior centralismo e organização de base nos estados.

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