Com a sua filiação praticamente acertada ao PL de Valdemar Costa Neto, o presidente Jair Bolsonaro tentou nesta terça-feira (9) rebater eventuais críticas à sua ida para uma sigla do centrão —grupo de partidos ao qual o mandatário pertenceu por mais de 20 anos, mas condenou durante a campanha de 2018.
"Pessoal critica: ‘Ah, o cara está conversando com o centrão’. Quer que eu converse com o PSOL, com o PC do B, que não centrão?", questionou o presidente, em entrevista ao portal bolsonarista Jornal Cidade Online.
"Se você tirar o centrão, tem a esquerda. Para onde é que eu vou? Tem que ter um partido, se eu quiser disputar as eleições do ano que vem."
Bolsonaro lembrou ainda que ele próprio foi filiado ao PP, outro partido do centrão com o qual vinha negociando até o momento. "Eu fui do centrão", disse.
A filiação não está completamente acertada, mas o presidente disse a apoiadores pela manhã que deve decidir nesta semana. Haverá uma reunião entre Valdemar e Bolsonaro na quarta-feira (10) para acertar alguns palanques regionais, segundo o próprio presidente disse a apoiadores.
Uma eventual filiação de Bolsonaro e seus apoiadores ao partido consolida ainda mais a mudança de postura do presidente, eleito com a promessa de acabar com o que chama de "velha política", moldada no toma lá dá cá.
O "toma lá" são os vários cargos de segundo e terceiro escalão da máquina federal, postos cobiçados por caciques partidários para manter seu grau de influência em Brasília e nos estados.
O "dá cá" é uma base de apoio mínima no Congresso para, mais do que aprovar projetos de seu interesse, evitar a abertura de um possível processo de impeachment.
O general Augusto Heleno (GSI), na campanha de 2018, cantou: "Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão". O PL e o PP ocupam as principais cadeiras no Palácio do Planalto: Casa Civil, com Ciro Nogueira, e Secretaria de Governo, com Flávia Arruda.
Nesta terça, em frente ao Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo foi questionado sobre para qual partido iria. Bolsonaro disse que deve decidir nesta semana e aproveitou para já se blindar de eventuais críticas.
"Todos os partidos têm problemas. Eu não consegui fazer o meu, [por] que a burocracia cresceu muito e foi impossível ter um partido", disse o presidente.
"Não queiram tudo, que o partido não é meu. Tem uma outra pessoa lá que fez o acordo comigo e nós temos que alinhar nossos objetivos, só isso", afirmou, sem citar Valdemar Costa Neto.
O presidente completa, no próximo dia 19, dois anos sem legenda, desde que deixou o PSL, partido pelo qual se elegeu.
A expectativa de aliados é de que, com a filiação, Bolsonaro leve ao menos 20 deputados para o PL, na janela partidária, no ano que vem. Em 2018, o PSL elegeu 52 deputados.
A demora do presidente em escolher um partido foi motivo de crítica de apoiadores e aliados, que esperam a decisão para poder se filiar a uma legenda. Enquanto isso, a maioria dos palanques estaduais já estão organizados.
"Tem gente já reclamando, ‘por que que não estou vindo candidato?’, porque não tem legenda para você, uai", disse Bolsonaro no cercadinho.
A prioridade do presidente será lançar senadores, como ele próprio confirmou nesta terça. Comentou ainda a possibilidade de o empresário catarinense Luciano Hang ser candidato ao Senado, como ele sinalizou ter interesse. Ele disse que nem precisaria sair de casa para ser eleito.
O VAIVÉM PARTIDÁRIO DE BOLSONARO
- PDC (1989 - 1993)*
- PPR (1993 - 1995)*
- PPB (1995 - 2003)*
- PTB (2003 - 2005)
- PFL, atual DEM (2005)
- PP, antigo PPB (2005 - 2016)
- PSC (2016 - 2018)
- PSL (2018 - 2019)
* Fusões
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