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Pedido de Eduardo Leite para adiar vacinação vira dor de cabeça para tucano

Caso, revelado pela Folha, virou tema de redes sociais; gaúcho acusa Doria de distorcer resposta

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São Paulo

O pedido feito pelo governo Bolsonaro e atendido por Eduardo Leite (PSDB-RS) para tentar convencer seu colega João Doria (PSDB-SP) a adiar o início da vacinação contra a Covid-19 em janeiro caiu como uma bomba nas fratricidas prévias presidenciais tucanas.

Ambos os governadores disputam a indicação do partido no próximo domingo (21), num certame que ainda conta, sem chances de vitória, com o ex-prefeito manauara Arthur Virgílio.

Doria e Leite em visita do paulista à sede do governo gaúcho, na terça-feira (16)
Doria e Leite em visita do paulista à sede do governo gaúcho, na terça-feira (16) - Gustavo Mansur - 16.nov.2021/Palácio Piratini

Nesta quarta (17), a Folha revelou em uma entrevista com Leite a existência do pedido, feito pelo general Luiz Eduardo Ramos (então secretário de Governo, hoje secretário-geral da Presidência).

Leite admitiu que procurou Doria. "Houve uma conversa nessa direção, não foi um pedido de intervenção, mas um pedido de reflexão. Talvez tivesse sido positivo ao país que se fizesse um esforço de coordenação e engajamento, já que era uma questão nacional. Mas é um episódio superado", afirmou.

Nas redes sociais, Leite foi alvo de diversas críticas por parte tanto de tucanos, quanto de figuras associadas à esquerda.

O caso desagradou parte do tucanato, cioso do ativo eleitoral que é a defesa da vacinação por Doria. O paulista patrocinou a produção da chinesa Coronavac em São Paulo, e é considerado até por adversários o responsável por forçar Bolsonaro a acelerar a campanha nacional.

Comentando a entrevista de Leite ao jornalista Lauro Jardim, de O Globo, Doria disse que respondeu: "Lamento, Eduardo, que você tenha se prestado a atender um pedido dessa natureza do general Ramos. Diga a ele que vamos iniciar a vacinação, tão logo a Anvisa autorize a utilização da Coronavac. E que eu estou ao lado da vida e dos brasileiros".

O gaúcho reagiu, e em nota disse que o paulista quis se atribuir uma "frase heroica" que não teria ocorrido.

"Naquele dia, o general Ramos ligou para Eduardo e pediu que convencesse Doria a aderir ao projeto de coordenação nacional da vacina. Naquele momento, havia uma inflexão do governo federal quanto a aceitar a vacinação ampla. Leite ligou para Doria para debater como os dois conduziriam esta questão", diz o texto.

"Privilegiariam a coordenação nacional num momento em que o governo federal assumira o compromisso de vacinar, ou trabalhariam sem ela? Doria rechaçou a coordenação nacional e disse que iria conquistar, a qualquer custo, a aplicação da primeira vacina. Leite questionou se isso seria seguro para a população —valia a pena sacrificar a ideia da coordenação nacional? Doria respondeu: 'Eu vou aplicar a primeira vacina, custe o que custar'. Leite, então, desistiu de continuar a conversa".

A resposta foi mal recebida entre integrantes da cúpula tucana, pois alinhou Leite aos interesses de Bolsonaro. Um entusiasta da candidatura do gaúcho diz que, embora fique claro para ele que Doria queria faturar politicamente a vacinação, a urgência sanitária não permitiria ambiguidade. Para ele, a nota foi um tiro no pé.

No momento da conversa, o fato de Doria ter anunciado um calendário estadual de vacinação havia levado o Ministério da Saúde a tentar acelerar o seu, após protelações e sabotagens que foram explicitadas durante a CPI da Covid no Senado.

Foi a percepção e pesquisas mostrando que a opinião pública queria vacina que gerou a inflexão transmitida por Ramos. Ao fim, a Coronavac e a vacina da AstraZeneca foram aprovadas pela Anvisa em 17 de janeiro.

Minutos depois, Doria estava ao lado da primeira vacinada no país. Em Brasília, o então ministro Eduardo Pazuello o criticava em uma entrevista coletiva chamada às pressas.

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