Eleições devem ter STF como tema de campanha e TSE protagonista de decisões

Para magistrados, embates com Bolsonaro e decisão a favor de Lula levarão Poder Judiciário para arena de debates políticos

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Brasília

O STF (Supremo Tribunal Federal) se prepara para enfrentar em 2022 a eleição em que estará mais em voga na história. O protagonismo das decisões judiciais, porém, deverá ficar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Para magistrados, o tribunal estará em evidência mais do que em 2018, quando a Operação Lava Jato e o Judiciário tinham relevância na disputa. Cientistas políticos também apostam que o STF estará no centro das discussões.

A avaliação de magistrados em conversas reservadas é que embates com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a decisão de liberar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para disputar o pleito colocarão a STF como um dos temas centrais da campanha.

Bolsonaro tem repetido que o STF merece ser renovado e que o próximo presidente da República irá indicar dois ministros ao órgão em 2023. Tem dito ainda que, se reeleito, conseguirá fazer indicações suficientes para ter um STF alinhado ao governo.

TSE apresenta as novas urnas eletrônicas que serão usadas a partir da eleição de 2022
TSE apresenta as novas urnas eletrônicas que serão usadas a partir da eleição de 2022 - Abdias Pinheiro - 13.dez.21/Secom/TSE/Divulgação

Já o TSE deverá concentrar os julgamentos mais polêmicos após a maioria das investigações contra autoridades de renome saírem do STF com a restrição do foro e o enfraquecimento da Lava Jato.

A corte consolidou recentemente jurisprudência firme para casos de fake news e promete ser incisiva no combate a notícias falsas. Além disso, o TSE será presidido na eleição por Alexandre de Moraes.

O ministro é relator no STF das principais investigações contra Bolsonaro e aliados. Na eleição, ele deverá voltar a ser alvo da militância do presidente, o que reforça o papel de destaque que a cúpula do Judiciário terá na eleição de 2022.

Além dos embates com o chefe do Executivo por causa de ameaças golpistas, as decisões relativas à pandemia da Covid-19 também compõem o cenário que põe o STF no foco.

Logo após o surgimento da doença, em 2020, a corte decidiu que estados e municípios teriam autonomia para estabelecer medidas sanitárias a fim de conter o avanço do coronavírus.

Por todo o país, a maioria dos prefeitos e governadores aproveitou o poder concedido para determinar regras de distanciamento social e de uso de máscara e álcool em gel.

Os gestores seguiram recomendações médicas e, no início da pandemia, mandaram fechar comércios e escolas para que a população ficasse em casa. A medida contém a disseminação do vírus.

Bolsonaro, contudo, foi na contramão do consenso científico, criticou as iniciativas e defendeu a continuidade das atividades para que se atingisse a chamada "imunidade de rebanho".

Como não tinha poder para revogar as medidas de distanciamento decretadas pelos Executivos locais, o presidente ignorou as consequências que o desrespeito às medidas sanitárias teria e passou a apontar o Supremo como culpado pela crise econômica desencadeada pela pandemia.

Isso porque, segundo ele, a corte o impediu de agir no combate à Covid e não permitiu que ele baixasse decretos a fim de manter a normalidade para não deixar desaquecer a economia.

Com base nesse raciocínio, o presidente costuma dizer que não tem culpa pelos índices econômicos de sua gestão e tenta repassar a responsabilidade a ministros do STF, governadores e prefeitos.

Além da questão da pandemia, a decisão de liberar Lula para disputar o pleito também deve esquentar os debates. Neste caso, o STF viverá papel inverso ao protagonizado em 2018.

Na eleição passada, a corte tinha sido a responsável por, meses antes da eleição, determinar a prisão do petista. Mesmo preso, o ex-chefe do Executivo se manteve na disputa presidencial, e o TSE teve de cassar a candidatura com base na Lei da Ficha Limpa.

O PT, então, passou a acusar a cúpula do Judiciário de cometer ilegalidades e injustiça.

Agora, movimentos políticos indicam que será a vez de Bolsonaro apontar o Supremo como culpado por eventuais problemas eleitorais. Neste ano, após a decisão do STF a favor do petista, o chefe do Executivo já insinuou que há um complô no TSE e no Supremo para derrotá-lo.

A condução da eleição pelo TSE com o sistema eletrônico de votação deverá ser outro argumento do atual presidente contra a cúpula do Judiciário.

Neste ano, Bolsonaro já fez inúmeros ataques falsos às urnas eletrônicas e disse que a tecnologia pode ser usada para fraudar uma eventual vitória de sua chapa.

As chamadas pautas de costumes também poderão estar na mira do presidente.

O cientista político Christian Lynch, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), disse acreditar que decisões do STF como o reconhecimento do casamento gay serão outro fator que levarão a corte para o centro do debate eleitoral.

"Uma vez que a Lava Jato percebeu que o Supremo tinha um poder imenso, inclusive na agenda progressista, o populismo bolsonarista erigiu o tribunal como o inimigo, porque eles não podem controlar o tribunal. Eles podem controlar o Congresso, o Executivo, mas o Supremo não", afirmou Lynch.

Para o cientista político, a Constituição de 1988 tornou o Judiciário brasileiro o mais poderoso do mundo. Por isso, é inevitável que este Poder tenha papel central em qualquer debate político.

No entanto, por causa dos movimentos golpistas de Bolsonaro e das decisões do STF para conter o presidente, ele disse acreditar que a corte será ainda mais protagonista na próxima campanha.

Lynch afirmou que o desenho institucional do país leva o Supremo para o centro das discussões políticas.

"O STF é a cúpula do Judiciário para analisar recursos de tribunais inferiores e, ao mesmo tempo, é responsável pelo controle de constitucionalidade dos atos dos outros Poderes e ainda é o tribunal penal da classe política. Com tantas atribuições importantes, não tem como ser visto como neutro", disse.

Lynch espera reações do bolsonarismo.

"A militância bolsonarista vai atacar, dizer que o Supremo não presta e que é antidemocrático porque não reflete a maioria da população. Mas isso é papo furado, a maioria que eles falam diz respeito a 15%, 20% da população que vai tentar invadir o TSE e melar as eleições", disse.

Em recente entrevista à Folha, o cientista político e professor Fernando Abrucio seguiu a mesma linha e relacionou a vitória de Bolsonaro na indicação de André Mendonça para ministro do STF com o tema central da campanha do presidente à reeleição em 2022.

"O STF será parte da chamada guerra cultural, com a defesa de valores e a discussão moral, que será uma das estratégias políticas do Bolsonaro", afirmou.

Para Abrucio, o uso político-eleitoral da corte é sinal de enfraquecimento da democracia.

PRÓXIMAS APOSENTADORIAS NO SUPREMO

GOVERNO 2023-2026 

  • Ricardo Lewandowski (mai.23)
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GOVERNO 2039-2042 

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GOVERNO 2043-2046 

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  • André Mendonça (dez.47)
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