Descrição de chapéu Eleições 2022

Kalil critica Bolsonaro, elogia Lula e dispensa 'pedigree' para governar Minas Gerais

Prefeito de BH indica que confirmará pré-candidatura ao Palácio Tiradentes no início de 2022, depois do período de chuvas

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Belo Horizonte

Alçado a um dos principais líderes políticos de Minas Gerais depois de ter sido reeleito prefeito de Belo Horizonte em primeiro turno no ano passado, Alexandre Kalil (PSD) prepara o lançamento de sua candidatura ao Governo de Minas Gerais.

Em entrevista à Folha, indicou que espera apenas passar o período das chuvas para confirmar seu nome na disputa.

O prefeito diz que para governar o estado não é necessário ter "grande pedigree". "Qualquer um que propuser uma esperança e mostrar que sabe fazer está cacifado para ser governador de Minas", afirma.

Sobre os candidatos à Presidência da República, chama o ex-presidente Lula (PT) de "um dos maiores líderes socialistas do mundo", mas diz que não pode "ligar o automático" para apoiar ninguém. É enfático, no entanto, ao afirmar que não sobe no mesmo palanque do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).

Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte - Amira Hissa - 13.ago.20/Divulgação

O senhor foi eleito para o primeiro mandato na prefeitura, em 2016, num momento em que as duas principais forças políticas da cidade e do estado, PSDB e PT, estavam em frangalhos por escândalos. O senhor viu nisso uma brecha e se candidatou ou sua entrada na disputa foi mais no "vamos ver no que dá", e que acabou dando certo? Sou muito apegado à ciência. O que me tirou de casa para se candidatar em 2016 foram pesquisas que indicaram que eu tinha uma chance.

O senhor foi atacado durante os estragos das chuvas na cidade no início de 2020 e também na pandemia, pelo fechamento da cidade. O senhor considera todas essas reclamações injustas? Isso faz parte. Eu sabia o que eu estava fazendo. Inclusive no momento de alta da pandemia, as manifestações pararam. É porque ninguém imaginou que nós íamos empilhar 620 mil caixões. As hostilidades, que não foram hostilidades, foram buzinaços na porta da minha casa.

Eu, graças a Deus, nunca fui hostilizado na minha vida. [Sobre a pandemia] só tinha uma opção. O cara de inteligência mediana, só tem uma opção: ou ele corre para a ciência ou ele fica perdido no meio do tiroteio. É esse caminho, ou a morte.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, seguiu o outro. É, mas seguiu sozinho. Solitário. No grito do poder absolutista que ninguém ouviu. Então não adiantou o próprio governador de Minas [Romeu Zema, do Novo], que é irmão do presidente da República, estão sempre abraçados, nem ele tinha o poder sobre Minas Gerais. Quem tinha eram os prefeitos. Lá na ponta.

O senhor é pré-candidato ao governo de Minas Gerais. Acredita que a bagagem conseguida na administração da prefeitura é suficiente para comandar o estado? Para ser governador do estado tem que ter, primeiro, vontade de ser. Segundo, um olhar humano. Então para ser governador de Minas não precisa ter grande pedigree. Qualquer um que vier e propuser uma esperança e mostrar que sabe fazer está cacifado para ser governador de Minas.

Romeu Zema, seu possível rival no ano que vem, é um dos poucos governadores que apoiam o presidente. Qual seria o interesse nessa relação? Eu não sei. Não sei se ele quer tomar cerveja com o presidente da República. Eu fui muito amigo do Michel Temer. Abrimos um hospital de 555 leitos com menos de um ano de mandato. Por que ele abriu para mim, até credenciar todos os leitos no SUS. Ao contrário desse que está aí, que nunca olhou para Belo Horizonte. Veio aqui, tivemos a tragédia das chuvas, voou de helicóptero, prometeu, dentro do aeroporto de Confins, R$ 1 bilhão, mandou R$ 7 milhões, e nós gastamos R$ 200 milhões.

Ao que parece, na época, o valor de cerca de R$ 1 bilhão era para todas as cidades que apresentaram problemas com as chuvas. Mas onde a chuva bateu? Foi em Belo Horizonte. Você acha que ele passou R$ 1 bilhão? Não é possível que ele mandou R$ 1 bilhão e Belo Horizonte recebeu só R$ 7 milhões. Estou contando [o que aconteceu]. Só que ele não é meu amigo íntimo. Ele é amigo do Zema. Não é meu amigo. Se fosse meu amigo, eu ia buscar R$ 1 bilhão lá em Brasília.

Quando o senhor começa a ir para o interior? O governador Zema mantém uma agenda intensa de viagens. Não estou com pressa. Tenho que cuidar da minha cidade. Tenho responsabilidade. Irresponsável é quem está fazendo campanha extemporânea.

O senhor acha que o Zema está fazendo campanha extemporânea? Claro. Isso é irresponsabilidade. Nós temos compromisso.

O senhor está montando sua equipe para a campanha do ano que vem. Não. Ainda não. Isso vai ser pensado na hora certa. Eu fui o último candidato em 2016 a sair prefeito de Belo Horizonte. E ganhei a eleição. Então essa pressa desmedida o prefeito de Belo Horizonte não tem.

O senhor tem que se desincompatibilizar daqui a pouco. Tá vindo chuva. Tá vindo tempestade. Tá vindo inundação. O prefeito de Belo Horizonte tá perdendo tempo em passar madrugada na janela, vendo se vai chover muito. Não tenho tempo para isso. Essa chuva tem que passar.

Depois da chuva é o momento bom para confirmar a candidatura ao governo? Depois da chuva é depois da chuva. Não estou falando que não vou sair, que não sou candidato. Não tô falando nada disso. Tô falando que é fora de hora. O povo ainda não estava comendo osso, o gás ainda podia ser comprado e já estavam falando em campanha. Cuidaram tanto da eleição que o povo foi para o vinagre. O povo se fodeu.

Seu ex-secretário de Governo Adalclever Lopes (PSD) esteve com o ex-presidente Lula há cerca de 15 dias. O senhor teve alguma participação na organização desse encontro? Vai adiantar eu te falar que eu nem sabia que o Adalclever estava indo no Lula?

O senhor não sabia? Não. E não vai adiantar eu te falar que não sabia, então deixa todo mundo pensar o que quiser. E outra coisa, ser ventilado por ter apoio de um líder como o Lula não envergonha ninguém. Deixa todo mundo muito orgulhoso. Lula é um dos maiores líderes socialistas do mundo. Ex-presidente da República que saiu com mais de 90% de aprovação [segundo pesquisa Datafolha de dezembro de 2010, aprovação de Lula era de 83%]. Então, alto lá.

Lula desmarcou uma viagem a Belo Horizonte que aconteceria em setembro. O senhor o receberia nessa ocasião? Ele não marcou encontro comigo. O Bolsonaro esteve aqui duas vezes.

Aqui na prefeitura? Aqui, nessa sala onde você está. Não como presidente da República, como candidato. Aqui não tem discriminação de ninguém, apesar de ele nunca ter me recebido.

Mas num palanque, o senhor subiria no de Lula ou no de Bolsonaro no ano que vem? Do Bolsonaro, não subo no palanque. Definitivamente. Pela consideração que ele teve comigo como prefeito da capital. Ele não me recebeu. Ele veio aqui duas vezes. Foi recebido, quando candidato, e, quando presidente da República, ele não me recebeu.

O senhor tentou quantas vezes falar com ele? Duas.

Para quais assuntos? Quais assuntos tenho que conversar com o presidente da República? Assuntos institucionais, de repasse de dinheiro, de convênio que ele não fez para Minas Gerais. O dinheiro do Brasil foi para Nordeste, Rio e São Paulo. Aqui só é bom para pedir voto.

O senhor afirma que pode subir no palanque do ex-presidente Lula, mas seu partido, o PSD, tem um pré-candidato, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Ótimo candidato. Se o PSD tiver candidato tenho a obrigação, não só moral como institucional, de apoiar. Aí a história do Lula vai por água abaixo. Para você ver como é tudo fantasia absoluta. Como vou apoiar o Lula, se o Rodrigo for candidato a presidente?

Mas se não for o Pacheco, é o Lula? Alto lá. Aqui não tem "liga o automático" não. O prefeito de Belo Horizonte, se for apoiar alguém como prefeito de Belo Horizonte, não liga o automático. Tem que avaliar. A cidade tem que se posicionar através do seu prefeito em busca de algum bem para a cidade. Um governo melhor, que cuide de Belo Horizonte, nada aqui é no piloto automático.

RAIO X - Alexandre Kalil, 62

Elegeu-se prefeito de Belo Horizonte em outubro de 2016, pelo PHS, partido que foi extinto em 2019. Entrou para o PSD no mesmo ano. Foi reeleito prefeito em novembro de 2020. Antes, foi dirigente esportivo e presidiu o Atlético-MG de 2008 a 2014. Comandou a empreiteira Erkal, fundada pela família e que teve falência decretada em 2016.

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