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Evangélicos querem Damares candidata ao Senado no Amapá contra Alcolumbre

Ministra seria aposta de grupo contra ex-presidente do Senado; Ela foi convidada por Bolsonaro para disputar cargo em SP

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Brasília

Última ministra do núcleo ideológico ainda no governo, Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) entrou nos planos do Palácio do Planalto para aumentar a representação bolsonarista no Senado, Casa que impôs derrotas seguidas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e que barrou a sua chamada pauta de costumes.

Ainda resta indefinido, porém, o estado onde a ministra vai lançar sua candidatura. Bolsonaro a convidou para tentar se eleger por São Paulo, mas aliados relatam problemas na composição de chapas, desagradando outros bolsonaristas.

A outra alternativa seria o Amapá, em uma grande articulação dos evangélicos para dar o prometido troco no senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, durante discurso para o Conselho de Direitos Humanos da ONU
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, durante discurso para o Conselho de Direitos Humanos da ONU - Reprodução

O parlamentar trabalhou contra a aprovação de André Mendonça, ex-advogado-geral da União, para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), e acabou derrotado.

Mendonça foi indicado à vaga na corte, e Alcolumbre recebeu em troca uma promessa de evangélicos de que dificultariam sua eleição no estado. O senador deverá tentar mais um mandato de oito anos nesta eleição.

Após a saída de Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Damares Alves se tornou o bastião do conservadorismo ideológico no governo.

Suas falas e posições contra identidade de gênero, em defesa da família, entre outros assuntos, são ainda apontadas como um elemento de coesão entre o governo e seus militantes, após as mudanças nos ministérios, em particular a chegada do centrão.

Aliados dizem que Damares está muito entusiasmada com a possibilidade de disputar a eleição, mas continua a indefinição sobre o estado em que disputaria a vaga —neste ano, apenas uma cadeira no Senado está em disputa em cada estado.

Está em aberto também o partido ao qual ela se filiaria. Damares estava em conversas avançadas com o Republicanos, mas o PP depois passou a cortejá-la.

Segundo integrantes desses partidos, porém, a ministra oscila muito em relação à pretensão política e à legenda à qual pretende se filiar.

Bolsonaro dá sinais conflitantes sobre sua posição. Em entrevista a uma rádio, chegou a afirmar que a convidou a concorrer em São Paulo, na mesma articulação que terá como nome ao governo do estado o do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. A ministra ainda não respondeu ao convite.

Em transmissão em suas redes sociais, nesta quinta-feira (20), disse que Damares está "mais apaixonada pelo Amapá do que por São Paulo".

A ideia de Damares ser candidata em São Paulo partiu do próprio Bolsonaro, que busca uma candidatura competitiva para compor a chapa de Tarcísio.

A proposta irritou a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), que quer ser candidata ao Senado e tem o apoio inclusive de líderes do centrão para isso.

O próprio Tarcísio vê com simpatia a candidatura de Damares, por avaliar que ela tem carisma e potencial de votos.

Mas também são cogitados os nomes de Janaina e do ex-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) Paulo Skaf para concorrer ao Senado ao lado de Tarcísio.

Hoje, porém, quem conversa com a ministra a vê mais disposta a entrar na disputa pelo Amapá. Damares tem domicílio eleitoral em São Paulo, mas pode alterá-lo até abril.

No Amapá, a candidatura de Damares seria uma aposta para tirar do cenário político de Brasília o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

O político amapaense entrou em rota de colisão com os evangélicos ao segurar por quase quatro meses a sabatina na CCJ (Comissão de Const ituição e Justiça) de André Mendonça, o nome "terrivelmente evangélico" que Bolsonaro indicou para uma vaga no STF.

Lideranças evangélicas em todo país alertaram que iriam retaliar Alcolumbre, que busca a reeleição no Senado. Chegaram a pedir que os fiéis transferissem o seu título para o Amapá.

"Se quer derrotar Alcolumbre, Damares não é a receita mais eficiente. Mas, se ela acha que tem condições, será bem-vinda. Acho que seria um bom teste eleitoral para ela, para ver qual seu potencial nas urnas", afirmou o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também apontado como pré-candidato ao governo do Amapá.

Políticos amapaenses lembram que não é tradição no estado escolher paraquedistas, nomes de outras localidades que buscam se eleger no Amapá. Uma das exceções foi o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney (MDB-AP), cuja base política é o Maranhão.

Também não foi aceita a frase recente de Damares, que disse amar os seus "indiozinhos do Amapá".

"Estou orando, presidente? A minha vida é dirigida por Deus. Mas eu confesso que amo o Amapá. Eu amo meus indiozinhos do Amapá!", escreveu a ministra em sua rede social, ao lado de uma foto da entrevista dada por Bolsonaro, na qual a legenda cita o convite a disputar por São Paulo.

A frase incomodou eleitores, que se manifestaram nas redes sociais, lembrando que menos de 5% da população amapaense é indígena.

A candidatura no Amapá se daria na mesma chapa do atual vice-governador Jaime Nunes (Pros), que ainda define por qual legenda se lançará para tentar comandar o estado.

Políticos amapaenses afirmam que Nunes está se empenhando nessa articulação com Damares, de forma a receber um apoio mais direto de Bolsonaro.

Aliados de Alcolumbre estão acompanhando atentos à articulação da ministra. A família do senador já vem de uma derrota nas eleições municipais de 2020, quando seu irmão Josiel Alcolumbre perdeu a prefeitura de Macapá após liderar a maior parte do tempo.

Um apagão no período que antecedeu a eleição contribuiu para o desgaste do candidato, apesar das ações de Alcolumbre e do governo federal para restabelecer a energia —governo e congressista estavam em sintonia maior, na época, quando ele era presidente do Senado.

Na semana passada, em entrevista ao bispo Fábio Sousa (PSDB-GO), a ministra disse que ficou impressionada com a receptividade que Bolsonaro teve em uma viagem ao Amapá e que viu imagens de pessoas que viajaram para ver o presidente.

"Quando eu vi aquelas imagens, eu escrevi: 'Agora eu sei qual é o estado que serei senadora'. Mas era brincadeira… Pegaram como uma verdade e me lançaram como candidata. E vou dizer para você que estou gostando dessa ideia", afirmou.

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