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Lula ameniza fala de pressão a deputados e tenta explicar declaração sobre aborto

Ex-presidente petista havia pedido à militância que pressionasse famílias de parlamentares em suas casas

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Recife

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentou amenizar nesta quinta-feira (7) a sua declaração de estímulo para que a militância petista pressione as famílias de deputados sobre projetos em tramitação no Congresso.

Além disso, na mesma entrevista desta quinta, o petista se posicionou pessoalmente contra o aborto e defendeu o tratamento para mulheres que realizarem o procedimento na rede pública de saúde. Mais uma vez, Lula buscou explicar uma declaração que havia dado nesta semana e provocado reações.

O ex-presidente Lula (PT)
O ex-presidente Lula (PT) - Mauro Pimentel/AFP

O ex-presidente havia estimulado seus militantes a pressionar os parlamentares, com uma fala que provocou reação sobretudo de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL). Alguns deles insinuaram que poderiam receber com armas quem fosse pressionar por projetos nas suas residências.

"Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas na casa, não é para xingar não, é para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele, surte muito mais efeito do que fazer a manifestação em Brasília", disse Lula na última segunda-feira (4).

Nesta quinta, o petista reafirmou a sugestão de que o público possa conversar com os congressistas, mas sugeriu que isso ocorra de forma civilizada, após bater palmas na porta da casa dos deputados.

"Eu disse que, ao invés de gastar fortuna indo para Brasília fazer protesto, porque quando a gente está dentro do Congresso a gente não vê o protesto, todo deputado e senador mora numa cidade", disse.

"Não custa nada o povo que está reivindicando ir conversar na porta da casa dele de forma civilizada", completou Lula em entrevista à Rádio Jangadeiro BandNews, de Fortaleza.

"Não custa nada, o cidadão vai lá, bate palma, o deputado sai de forma civilizada, atende os eleitores, pergunta o que eles querem, eles vão dizer que não querem que aprove determinada lei e o deputado diz se vai votar ou não. Qual o mal nisso, ou será que o deputado vai votar escondido?", indagou.

"Lamentavelmente, me parece que tem deputado que não quer conversar com o povo, só na época das eleições", disse Lula, tentando amenizar a declaração anterior dada em tom de ameaça.

Outra fala do ex-presidente que ganhou repercussão nesta semana foi a de que o aborto deveria ser tratado como questão de saúde pública. Nesta quinta, ao ser questionado sobre o assunto na entrevista à rádio cearense, Lula se posicionou contra o aborto.

Além disso, o ex-presidente defendeu que mulheres que realizarem o aborto tenham acesso a tratamento na rede pública de saúde.

"Sou contra o aborto, tenho 5 filhos, 8 netos e uma bisneta. O que disse é que é preciso transformar essa questão do aborto em questão de saúde pública, ou seja, que as pessoas pobres que forem vítimas de um aborto tenham condições de se tratar na rede pública de saúde", disse.

"Mesmo eu sendo contra o aborto, ele existe, de forma diferenciada, quando é numa pessoa que tem poder aquisitivo bom essa pessoa vai pro exterior e vai se tratar, e uma pessoa pobre que quer se tratar, como faz?", questionou.

"O que acho é que tem que ser tratado por questão de saúde pública, o Estado tem que dar atenção a essas pessoas pobres que por diversas razões abortam, e que eu não quero saber porque estão abortando, e o Estado tem que cuidar, não pode abandonar. Por mais que a lei proíba e a religião não goste, ele [o aborto] existe", acrescentou Lula.

O aborto é permitido no Brasil apenas em três hipóteses, segundo a legislação: quando a gravidez é resultante de um estupro, quando há risco de morte para a mulher causado pela gravidez ou se o feto for anencéfalo (má formação no cérebro).

Em um debate na terça-feira (5), Lula falou que o aborto deveria ser um "direito de todo mundo". "Aqui no Brasil, as mulheres pobres morrem tentando fazer aborto, porque é proibido, o aborto é ilegal", afirmou, completando que quem tem dinheiro pode fazer o procedimento no exterior.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, as declarações iniciais do ex-presidente sobre aborto e a pressão a deputados geraram desgaste inclusive internamente no PT. Petistas históricos avaliam que Lula errou na forma de se expressar, o que pode dar munição a adversários, como Bolsonaro.

A avaliação interna no PT também é de que poderá haver um desgaste junto aos evangélicos, público com o qual Lula tenta aproximação.

As falas de Lula ocorrem em um momento em que Bolsonaro avança em pesquisas de intenção de voto na corrida presidencial, mesmo com o petista ainda na liderança, conforme mostrou o Datafolha.

Entre aliados de Geraldo Alckmin (PSB), a avaliação foi de que Lula teve uma recaída e voltou a falar para sua base tradicional em seus posicionamentos recentes sobre o aborto e sobre pressão nos deputados, conforme mostrou o Painel.

Tido como um assíduo praticante da religião católica, o ex-governador de São Paulo, no entanto, manteve-se quieto, apesar de já ter externado posições críticas ao aborto no passado. O gesto foi visto como um primeiro teste de fidelidade ao petista.

Sobre a possibilidade de uma terceira via, Lula indicou que não acredita na possibilidade de uma alternativa competitiva a ele e a Bolsonaro na disputa presidencial.

"Essa história de terceira via eu ouço dizer desde que eu era pequeno quando o mundo ficou dividido entre capitalismo e comunismo e diziam que iria haver a terceira via e não teve. O povo vai escolher entre quem tem chances de ganhar as eleições. Candidato não se inventa, candidato é quem tem estrutura partidária, estrutura econômica", disse Lula. "A disputa vai se dar entre a democracia e o autoritarismo", acrescentou.

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