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STF adia julgamento de marco temporal, alvo de pressão de Bolsonaro sobre tribunal

Análise do caso sobre terras indígenas estava prevista para ser retomada no dia 23, mas foi retirada de pauta

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Brasília

Um dos motivos de atritos entre o Judiciário e o presidente Jair Bolsonaro (PL), o julgamento do marco temporal sobre demarcação de terras indígenas foi retirado da pauta do STF (Supremo Tribunal Federal) e não deve mais acontecer neste mês.

A análise do caso estava marcada para o próximo dia 23. Em nota, o Supremo informou que o caso "foi retirado de pauta pela presidência por consenso entre os ministros". Não há nova data para julgamento.

O marco temporal começou a ser julgado no ano passado, inicialmente na plataforma virtual da corte, quando o ministro Alexandre de Moraes pediu para que o caso fosse para análise no plenário físico.

Indígenas de diversas etnias fazem ato contra o marco temporal em frente ao STF - Pedro Ladeira - 15.set.2021/Folhapress

Em setembro, o caso voltou à corte. Na ocasião, o relator do processo, Edson Fachin, refutou a tese do marco temporal. Ele disse que uma interpretação restritiva sobre os direitos fundamentais dos povos indígenas atenta contra a Constituição e contra o Estado democrático de Direito.

Kassio Nunes Marques, o segundo a votar, reafirmou o marco temporal, em um posicionamento que se alinha aos interesses do Palácio do Planalto. O ministro foi indicado à corte pelo presidente Bolsonaro. Após esse voto, Moraes pediu vista (mais tempo para analisar o caso).

O julgamento tem grande relevância para as demarcações de terras indígenas. Entre os pontos debatidos estão o conceito de terra tradicionalmente ocupada por indígenas e o marco temporal, tese não prevista na Constituição e que, na prática, trava demarcações.

O presidente Bolsonaro é um dos maiores defensores do marco temporal. Com aval de ruralistas, a medida prevê que terra indígena só poderá ser demarcada caso fique comprovado que já ocupavam a área na época da promulgação da Constituição.

O texto, assinado em 1988 por Ulysses Guimarães, também previa que a União concluísse a demarcação de todas as terras indígenas num prazo de até cinco anos, o que não ocorreu.

Ruralistas afirmam que a regra traria segurança jurídica, pois limitaria desapropriações. A AGU (Advocacia-Geral da União) se manifesta de forma favorável ao marco temporal.

Em abril, o presidente da República sugeriu que pode não cumprir eventual ordem da corte sobre o tema. "Se ele [Edson Fachin] conseguir vitória nisso [marco temporal], me resta duas coisas: entregar as chaves para o Supremo ou falar que não vou cumprir. Eu não tenho alternativa."

No ano passado, Bolsonaro ainda falou que a medida seria "o fim do agronegócio". "A proposta do ministro Fachin vingar, teremos que… Ou melhor, será proposto a demarcação de novas áreas indígenas que equivale a uma região Sudeste toda", disse o presidente.

Nesta quinta-feira (2), Bolsonaro vetou projeto de lei que alterava o nome do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas.

O argumento da proposta é de que "povos indígenas" é termo mais respeitoso e identificado com as comunidades. Especialistas apontam que a palavra "índio" é preconceituosa e estigmatizada.

O governo, por sua vez, diz que "índio" já é consagrado na cultura e, portanto, o projeto não tem interesse público. A comemoração da data é em 19 de abril.

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