Congresso turbina Bolsonaro e libera doações do governo em ano eleitoral

Deputados e senadores aprovam dispositivo que flexibiliza lei eleitoral e permite doações do governo

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Brasília

O Congresso Nacional aprovou nas últimas semanas propostas que turbinam o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) no ano eleitoral, ao mesmo tempo que flexibilizou algumas amarras impostas pela legislação eleitoral.

Contando com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e colocando a oposição contra a parede, Bolsonaro conseguiu ver o Congresso Nacional atuar para conter a alta dos preços dos combustíveis —que vinha desgastando o governo— e ainda poderá colher os dividendos de um pacote de bondades de R$ 41,25 bilhões.

Deputados e senadores também conseguiram flexibilizar a legislação eleitoral, permitindo doações do governo federal de bens, valores ou benefícios para entidades privadas ou públicas dentro do período restrito pela legislação eleitoral.

Presidente Jair Bolsonaro (PL)
Presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto - Sergio Lima-11.jul..22/AFP

O Congresso também havia flexibilizado as restrições financeiras e de tempo relacionadas com publicidade institucional dos governos. Essa iniciativa, no entanto, acabou barrada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Em uma sessão tumultuada na terça-feira (12), deputados e senadores aproveitaram que o foco estava na polêmica em torno da impositividade das emendas de relator e aprovaram dispositivos que combatem a transparência e liberam o governo de amarras eleitorais.

Em uma proposta que tratava de recursos para a área de ciência e tecnologia, foi incluído dispositivo que flexibiliza a legislação eleitoral e permite ao governo Bolsonaro realizar as doações, como informou O Estado de S. Paulo.

A legislação eleitoral veda atualmente uma série de práticas para agentes públicos que podem afetar "a igualdade de oportunidade entre candidatos no plano eleitoral".

Estão entre elas proibir a cessão de imóveis, contratar novos servidores e realizar pronunciamentos em rádio e televisão.

O dispositivo incluído excetua esse artigo e permite a "doação de bens, valores ou benefícios por parte da administração pública a entidades privadas e públicas, durante todo o ano, e desde que com encargo para o donatário". Ou seja, permite repasse para aliados políticos nos estados e municípios.

Em relação ao encargo para o donatário, um consultor legislativo explica que seria como, ao receber do governo federal um trator ou um caminhão, um município seria o responsável por providenciar o combustível e a manutenção.

Em abril, o Congresso já havia aprovado essa liberação para doações, mas para um período de até três meses antes das eleições.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) protestou contra a inclusão desse dispositivo, que libera as doações.

"Sem nada ter a ver com Orçamento nem com FNDCT (Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia), com ciência, coisa nenhuma, um jabuti do tamanho de um bonde para autorizar doações do patrimônio público em período eleitoral, o que é proibido por lei", afirmou.

O relator da proposta, deputado Carlos Henrique Gaguim (União Brasil-TO) defendeu a inclusão do dispositivo argumentando que se tratam de equipamentos que estão se "depreciando" e que chegarão "na ponta para quem precisa".

O presidente da comissão do Orçamento, deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), afirma que a medida não desrespeita a legislação eleitoral porque não se trata de doações direta para os eleitores.

"E, como bem disse o Deputado Gaguim, abre a possibilidade de associações, por exemplo, de pescadores, de produtores rurais receberem tanques suspensos, receberem rede de pesca", afirmou.

Durante a sessão, os parlamentares aprovaram um item dentro de projeto que tratava de receitas e despesas que diminui a transparência no pagamento de emendas.

O trecho prevê que seus autores sejam identificados, exceto quando houver um remanejamento das emendas de comissões e das emendas de relator. Ou seja, quando uma emenda de relator, por exemplo, for remanejada e transformada em uma emenda discricionário do Executivo, não haverá necessidade de identificar o novo responsável por indicar a emenda.

Em maio, o Congresso já havia concluído a votação de um projeto de lei que retirava as amarras para a publicidade institucional em ano eleitoral. Esse tipo de publicidade é composta por inserções e publicações em veículos de mídia que divulgam atos, obras e programas dos governos.

A primeira flexibilização aumentou o limite de recursos que podem ser empenhados no primeiro semestre dos anos em que há eleições. A legislação atual proíbe publicidade institucional no segundo semestre, quando o pleito ocorre no território nacional.

O outro ponto, no entanto, flexibiliza a regra para determinar que a proibição não se aplica para a publicidade que esteja relacionada com o enfrentamento da pandemia.

PT e PDT ingressaram no STF com ação buscando barrar os efeitos desse projeto, o que aconteceu no começo deste mês.

A retirada das amarras se soma às articulações que possibilitaram a transformação de uma proposta destinada inicialmente a amenizar o impacto dos preços dos combustíveis e que depois se tornou um pacote de bondades.

O governo Bolsonaro chegou a anunciar que destinaria cerca de R$ 30 bilhões para compensar estados que optassem por zerar as alíquotas dos tributos estaduais sobre os combustíveis.

Com a articulação do governo e de líderes do Senado, esses recursos foram direcionados e depois aumentados para se tornar no pacote de benefícios bilionários.

A PEC (proposta de emenda à Constituição) bilionária foi aprovada pela Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (13). Ela prevê o aumento de R$ 400 para R$ 600 no valor do programa Auxílio Brasil, busca zerar a fila para o benefício, cria um auxílio para caminhoneiros e taxistas e dobra o valor do vale-gás.

O problema dos preços dos combustíveis, por sua vez, foi amenizado com a aprovação do projeto de lei que limitou em 17% a alíquota do ICMS sobre os combustíveis, em uma vitória do governo contra os governadores estaduais.

Nesta quarta, em conversa com apoiadores no Palácio do Alvorada, Bolsonaro ironizou que a imprensa o culpava pela alta dos preços dos combustíveis, mas não o culpava pela queda recente registrada nas bombas.

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