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Família de bolsonarista diz que crime em Foz não foi político e que vive pesadelo

Irmão de homem que matou petista afirma que ele havia ido fazer ronda no local da festa

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Foz do Iguaçu (PR)

Familiares do policial penal Jorge Guaranho negam que o caso em que ele matou o militante petista Marcelo de Arruda tenha sido político e dizem viver um pesadelo.

O bolsonarista invadiu a festa de 50 anos de Marcelo, que tinha o PT como tema, e o matou, no último sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR). Ele também acabou baleado e segue internado.

Irmão de Jorge, John Lenon Araújo diz que o policial foi até o clube social da Aresf (Associação Recreativa e Esportiva da Segurança Física), onde acontecia a festa, para fazer uma ronda. Ele era associado ao clube e, segundo o irmão, essa era uma rotina entre os membros da associação.

"Várias outras pessoas que eram associadas também faziam essa ronda. Então não foi nada de anormal como foi noticiado, é uma rotina deles fazerem isso", disse.

A polícia, por outro lado, investiga se o homem não foi até lá após ter tido acesso a imagens das câmeras do local onde acontecia a festa com temática petista.

O Ministério Público do Paraná solicitou, nesta quarta-feira (13), à Justiça que seja decretado sigilo no inquérito do assassinato do guarda municipal.

No pedido, a promotoria solicitou à investigação uma série de medidas. Entre elas, o exame do conteúdo do aparelho celular do autor do crime e a requisição da ficha funcional de Guaranho junto ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional).

No pedido, o promotor Tiago Lisboa Mendonça solicita o sigilo do inquérito, para evitar interferência na investigação conduzida pela Polícia Civil do Paraná.

O guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos (à esquerda), morreu após ser baleado na própria festa de aniversário, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. (à direita) O policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, autor dos disparos - Arquivo pessoal e Reprodução

Sobre o caso que acabou em morte, com base em relatos que diz ter ouvido da esposa que estava com o irmão na hora do episódio, ele diz que o episódio não se justifica por questões políticas.

Segundo pessoas que estavam na festa, no dia do crime, Jorge passou de carro em frente ao salão de festas dizendo "aqui é Bolsonaro" e "Lula ladrão", além de proferir xingamentos. Ele saiu após uma rápida discussão e disse que retornaria.

De acordo com as testemunhas, Marcelo então foi ao seu carro e pegou uma arma para se defender. Jorge de fato retornou, invadiu o salão de festas e atirou. O petista, já ferido no chão, também baleou o bolsonarista. Uma câmera de segurança registrou o crime.

O irmão contesta a versão das pessoas que estavam na festa. "Eu tenho certeza que ele estava ali defendendo a família dele, foi somente isso. Não teve nada a mais do que isso. Meu irmão não estava nem aí que o cara era Lula, aniversário era do Lula, tema do Lula."

"Pra gente isso é indiferente, tenho certeza que para o meu irmão também. O cara é que, quando ouviu uma música do Bolsonaro, infelizmente, perdeu a linha", disse Araújo.

Ele afirmou que o irmão era apoiador de Bolsonaro, mas não fanático. Araújo disse que Jorge jamais foi a alguma passeata ou participou de partido e que só fez algumas postagens a favor do presidente.

"Ele não estava nem aí se o cara era PT ou não. Tem vários amigos nossos que são da esquerda, que frequentam a minha casa, frequentam a casa dele, nunca tivemos problemas com isso", disse.

"A gente sempre teve esse relacionamento de diversidade. Eu sou flamenguista, meu irmão é vascaíno. Eu sou evangélico, meu irmão é católico, a gente conversava sobre esses assuntos, nunca discutimos por causa disso", disse.

Dalvalice Rosa, mãe de Jorge Guaranho, diz que toda a situação tem dois lados. "Nós estamos vivendo um pesadelo desde sábado", disse, em curta conversa por telefone.

A Folha entrou em contato com ela posteriormente. Rosa disse que estava muito mal e que a ficha estava caindo agora, por isso, não conseguiria falar mais naquele momento.

A reportagem também foi até a vizinhança de Jorge, em um bairro de classe média em Foz do Iguaçu. No local, encontrou a mulher de Jorge, que preferiu não falar. Ela disse apenas que estava indo até o hospital.

Identificando-se como parente, uma mulher que estava na casa também contestou que o policial teria agido daquela maneira por questões políticas e lembrou que ele tem uma criança pequena.

A Secretaria da Segurança Pública e a Polícia Civil do Paraná informaram nesta quarta-feira (13) que Jorge continua em estado grave, "sedado em assistência ventilatória mecânica, hemodinamicamente estável". Não há previsão de alta da UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Jorge José da Rocha Guaranho ao lado de Eduardo Bolsonaro, em 2021 - @jorgeguaranho no Twitter

Jorge Guaranho parece ter uma vida discreta na vizinhança do Jardim das Laranjeiras, onde vive com a família em Foz do Iguaçu. Em comércios próximos de sua casa, as pessoas se mostraram surpresas com o fato de que ele morava ali e não se lembravam de tê-lo visto.

Em suas redes sociais, Jorge se define como conservador e cristão. Ele usa as redes principalmente para defender Bolsonaro, se diz contra o aborto e as drogas e considera arma sinônimo de defesa.

Em junho de 2021, ele aparece sorrindo em uma foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do mandatário. "Vamos fortalecer a direita", escreveu em 30 de abril numa corrente da "#DireitaForte" para impulsionar perfis de conservadores com poucos seguidores.

Sua última postagem antes do crime é um retuíte de uma publicação do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo, dizendo: "Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós".

Semanas atrás, o policial penal [trabalha em unidades prisionais] publicou ainda uma mensagem de cunho LGBTfóbico ao comentar o anúncio do jogador de futebol Richarlyson sobre ser bissexual. "Popeye assume que come espinafre", escreveu Guaranho.

Colaborou UOL

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