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Descaso com a cidade de SP preocupa campanha de Rodrigo Garcia

Governo estadual pretende implementar ações na cidade, onde o tucano tem menor avaliação positiva

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São Paulo

Os problemas de zeladoria da capital paulista e uma menor aprovação na cidade acenderam o sinal de alerta na campanha do governador Rodrigo Garcia (PSDB).

O medo de que assuntos de responsabilidade do prefeito Ricardo Nunes (MDB) respinguem na campanha do governador para se manter no Palácio dos Bandeirantes já gera movimentação por parte da gestão Rodrigo.

Problemas como buracos de rua e no transporte público acabam sendo uma bola dividida entre município e estado.

Nesse cenário, o governo tem sinalizado ao prefeito de São Paulo a necessidade de um choque de gestão. Ligado ao governador e em busca de emplacar seu ex-secretário de Saúde Edson Aparecido (MDB) como vice na chapa de Rodrigo, Nunes respondeu fazendo cobranças aos secretários.

Governador Rodrigo Garcia e o prefeito Ricardo Nunes cumprem agendas na capital
Governador Rodrigo Garcia e o prefeito Ricardo Nunes cumprem agendas na capital - Governo de SP

A campanha do tucano vinha se concentrando no interior. Ele criou o programa Governo na Área, possibilitando ao governador participar de eventos com liberação de verbas, anúncios de obras e de equipamentos para as cidades.

A ação é avaliada pelos coordenadores da campanha como um sucesso e vista como uma das razões para o crescimento de Rodrigo nas pesquisas. Agora, o programa chegará à capital, batizado como Governo nos Bairros.

"Os problemas na cidade de São Paulo e nas cidades do interior são de responsabilidades do prefeito e do governador. Estou ao lado para enfrentá-los e não fechar os olhos", afirmou Rodrigo na quarta-feira (13).

Dados da ouvidoria da prefeitura mostram que, somente no primeiro trimestre deste ano, foram feitas 750 manifestações sobre buracos e pavimentação, uma média mensal de 225 registros. No relatório da ouvidoria, a demanda com buraco e pavimentação é a segunda mais alta, atrás apenas do bilhete único.

Em 2020, no primeiro trimestre da gestão Bruno Covas/Nunes, foram 714 registros e, no mesmo período de 2021, 784 relatos.

A prefeitura afirma, em nota, que o serviço de atendimento passou por "aprimoramento" e, consequentemente, mais cidadãos estão sendo ouvidos.

Também diz que reduziu em 95% a demanda dos serviços de tapa-buraco e deu início, em junho, ao recapeamento de 5,8 milhões de metros quadrados de asfalto —equivalente a 3,1% de toda a malha viária da capital paulista (que é de 187 milhões de metros quadrados).

Em relação ao transporte público, o paulistano teve de lidar dois dias com a greve de motoristas e colaboradores em junho. A última, no dia 29, só foi interrompida após decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) que considerou a paralisação como abusiva.

A greve afetou 6.008 ônibus e prejudicou cerca de 2,5 milhões de passageiros, segundo a SPTrans.

As pesquisas mostram que os paulistanos estão bem pouco satisfeitos com o que veem nas ruas da capital. A gestão Nunes é aprovada por apenas 18% da população paulistana, segundo Datafolha. Por outro lado, 31% avaliavam a gestão como ruim ou péssima.

Os números de Rodrigo são melhores. O Datafolha mostra sua gestão aprovada por 24% dos moradores do estado e reprovada por 15%. O desafio, porém, é melhorar os números na capital, onde apenas 19% classificam a administração do governador como boa ou ótima, contra 28% no interior.

Líder em todas as pesquisas até o momento, Fernando Haddad (PT), prefeito em São Paulo de 2013 a 2017, tem a preferência de 35% dos entrevistados na capital e contra 23% no interior, de acordo com o Datafolha.

Bruno Silva, pesquisador do Labpol da Unesp Araraquara e diretor do Movimento Voto Consciente, diz que as preocupações com a capital fazem sentido.

"O PSDB, que é partido atual do Rodrigo Garcia, é o mesmo que havia vencido as eleições municipais na figura do ex-prefeito Bruno Covas. Fica uma ideia na população de que a responsabilidade é de um mesmo grupo que está à frente", diz.

"Uma cidade mais abandonada, que tem problemas de zeladoria, sempre chama muita atenção. Isso pode respingar no governador ou outros concorrentes podem forçar a barra dizendo que governo do estado tem sido incompetente", acrescenta Silva.

Antes de instituir o Governo nos Bairros, o tucano já apregoava parcerias feitas com a prefeitura como, por exemplo, na área de assistência à população em situação de rua e o recapeamento de 90 km de vias, com investimento de R$ 120 milhões. Estão previstas obras em vias de grande importância e visibilidade, como a estrada do M'Boi Mirim e a estrada Coronel Sezefredo Fagundes.

Em nota, a Secretaria Municipal de Comunicação diz que mantém parcerias com o governo estadual independentemente do calendário eleitoral. "O único objetivo é tornar as políticas públicas mais eficientes, racionalizar os investimentos e as despesas de manutenção com foco no cidadão", afirma a nota.

A questão também é estratégica para Nunes, que gostaria de emplacar Edson Aparecido, de seu partido, como vice de Rodrigo. A possibilidade é vista com ceticismo.

O mais provável é que esta indicação seja feita pela União Brasil, partido que anunciou apoio ao governador, mas exige a cadeira de vice.

O próprio Rodrigo sofre pressão para escolher uma das três mulheres avaliadas pela sua equipe: a senadora Mara Gabrilli e a deputada federal (licenciada) Bruna Furlan, ambas do PSDB, e a ex-promotora de Justiça Gabriela Manssur, filiada ao MDB.

Uma ala do PSDB defende que a vaga seja ocupada por uma mulher e com potencial para agregar votos ao governador, sobretudo na capital. Após a saída de João Doria (PSDB) da corrida presidencial, a esperança da campanha é que ele deslanche, sem a impopularidade do ex-governador para travá-lo no caminho.

Hoje, o principal adversário de Rodrigo na corrida é Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e com quem o governador está empatado no Datafolha.

Na tentativa de minar Tarcísio, Rodrigo tem apostado na imagem de "paulista raiz", fez investimento recorde em obras de asfaltamento (o candidato de Bolsonaro é apelidado por aliados de "Tarcisão do Asfalto") e também adotou um discurso linha-dura na segurança pública.

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