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Eleições 2022 Datafolha

Debate expõe fragilidades de Lula e de Bolsonaro sem mudar o jogo

Petista se enrola ao falar de corrupção; presidente perde a linha com mulheres e economia

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São Paulo

O altamente antecipado debate entre presidenciáveis não destruiu nenhuma candidatura na pista para a eleição de outubro, mas demonstrou pontos de fragilidade a serem explorados pelos principais rivais da disputa, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Havia tensão no ar, mas também um indisfarçável cheiro de antiguidade política. Lula parecia fora de forma, dado que seu último encontro do tipo havia sido contra seu atual vice, Geraldo Alckmin, seu adversário então tucano no longíquo 2006.

Os candidatos a presidente na abertura do debate da Folha, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura
Os candidatos a presidente na abertura do debate da Folha, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura - Marlene Bergamo/Folhapress

Fixou-se em falar do passado, o que seria algo natural para quem passou oito anos no poder. Mas assim perde a oportunidade de buscar os pontos que lhe faltam para uma vitória em primeiro turno, a serem pescados apenas no lago dos eleitores centristas.

Pior, o petista enrolou-se acerca do tema da corrupção. Na entrevista concedida ao Jornal Nacional na semana passada, Lula havia ensaiado um mea culpa retórico, mas no debate apenas balbuciou seu caminho para tentar fugir da pergunta.

Por fim, defendeu Dilma Rousseff (PT) e seu governo, derrubado no que Lula disse ter sido um golpe em 2016. Novamente, aliena-se aí a classe média cujo antipetismo foi um dos motores da ascensão de Bolsonaro em 2018. Não é o mesmo fenômeno, claro, até porque Lula está à frente nas pesquisas, mas poderá ter impacto decisivo na primeira rodada da eleição.

Já Bolsonaro, que só participou de dois encontros do gênero antes da facada que sofreu em 2018, encarnou o candidato de quatro anos atrás com a avalanche de frases lacradoras e a mitomania usual.

O presidente da República falou para seus convertidos, mas também para essas franjas: seu principal crescimento na mais recente pesquisa do Datafolha foi justamente na dita baixa classe média. Encaixou golpes ideais para uso intensivo em redes sociais, quando chamou Lula de mentiroso e ex-presidiário, além de associar o petista a aliados na esquerda latino-americana.

Poderia cantar uma vitória por pontos se não tivesse sido ele mesmo, agredindo verbalmente uma jornalista e sendo rude com as duas candidatas mulheres presentes. Ele já enfrenta dificuldades no majoritário eleitorado feminino, e sua posição será cobrada.

Também foi mal ao lidar como tema central desta campanha, a carestia. Enumerou dados de forma claramente decorada, sem a construção de uma mensagem central facilmente assimilável. Lula, por sua vez, curiosamente não insistiu no tema —coube a Ciro Gomes (PDT) lembrar que o presidente havia dito que não se passa fome no Brasil.

O pedetista pontificou, logo ele conhecido pelo gênio esquentado, cenas de temperança ante os rivais. Deu a Lula um mau momento, quando disse que o petista havia se corrompido. Sua intenção de voto, abaixo dos 10%, é um dos obstáculos centrais à pretensão petista de vencer de vez em 2 de outubro.

Por fim, Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D'Ávila (Novo) ocuparam o papel lateral esperado, com maior destaque às candidatas quando o tema de seu gênero esteve em destaque.

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