A candidata à Presidência da República Simone Tebet (MDB) fechou a rodada de entrevistas com presidenciáveis no Jornal Nacional. Ela foi questionada pelo jornalista William Bonner sobre o desempenho em Mato Grosso do Sul no Ideb para o ensino médio, índice usado para avaliar a educação básica no Brasil. Na resposta, ela citou uma informação falsa: que o estado está entre os três mais bem colocados no Brasil. Na verdade, em 2019, estava em sétimo lugar.
Apesar de criticar os caciques do seu partido durante a conversa, ela defendeu o fato de que o MDB apenas cumpre a cota mínima de candidaturas femininas com o argumento de que todas as legendas fazem o mesmo. No entanto, a informação é falsa: três partidos —UP, PC do B e PSTU— têm mais de 40% de candidaturas femininas nesta eleição.
A Lupa checou estas e outras declarações da candidata durante a entrevista. A assessoria de imprensa da senadora foi procurada, e a checagem será atualizada se houver resposta. Veja o resultado:
Eu sou privilegiada porque, veja, eu estou diante de um partido que saiu na vanguarda e teve a coragem de lançar, neste momento mais difícil do Brasil, uma mulher candidata à presidência da República. Isso é inédito, é inédito na história
FALSO
Ao contrário do que afirma Tebet, uma candidatura feminina não é um feito inédito na história do Brasil — nem mesmo na atual eleição, na qual ela concorre com Vera Lúcia (PSTU), Sofia Manzano (PCB) e Soraya Thronicke (União Brasil).
A primeira mulher candidata à presidência foi Lívia Maria Pio, em 1989, pelo extinto Partido Nacional. Em 2010, o país elegeu sua primeira presidente mulher, Dilma Rousseff (PT). Além das citadas, Thereza Ruiz, Ana Maria Rangel, Heloísa Helena, Marina Silva e Luciana Genro também foram candidatas.
[O MDB] É o partido que tem o maior número de prefeitos, de vice-prefeitos, de vereadores e de vereadoras
VERDADEIRO
De acordo com dados das eleições municipais de 2020 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o MDB foi o partido que mais elegeu prefeitos (800), vice-prefeitos (676), vereadores (7.326) e, especificamente, vereadoras (1.288). Logicamente, o MDB é o partido com maior número de eleitos nas eleições municipais, 8.802, seguido pelo PP (7.615) e pelo PSD (6.867). Veja os dados do TSE compilados aqui.
Só [o estado de] São Paulo é 24% da população brasileira
VERDADEIRO
De acordo com a estimativa oficial mais recente do IBGE, publicada no Diário Oficial da União, o estado de São Paulo responde por 21,87% de toda a população do país. Em 1º de julho de 2021, data de referência da última atualização do dado, o Brasil tinha 213,3 milhões de habitantes, com 46,6 milhões deles morando em território paulista.
Os dados de outro levantamento do IBGE, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, apontam para números semelhantes. No segundo trimestre deste ano, a população brasileira era estimada em 213,9 milhões, englobando 46,9 milhões de pessoas no estado de São Paulo — 21,94% do total.
Não é só do meu partido [que lançou apenas 33% de candidatas mulheres]. São de todos os partidos. Eles só cumprem a cota [mínima de candidaturas femininas]
FALSO
Embora a maioria dos partidos tenha ficado próximo do percentual mínimo de candidaturas femininas, nem todos cumpriram somente a cota, como afirma Tebet. Um deles, o UP, lançou mais candidatas mulheres (41) do que homens (22). Outros dois partidos, o PC do B (44,8%) e o PSTU (40,8%), têm mais de 40% de candidaturas femininas em 2022. Os dados são do TSE.
A lei no 12.034/2009 exige uma disparidade máxima de 70-30 entre os dois sexos nas chapas para eleições proporcionais —o que, na prática, significa uma cota mínima de 30% de candidaturas femininas. Desde 2012, a maioria dos partidos lança um número ligeiramente superior ao obrigatório por lei. No total, 33,6% das candidaturas nas eleições de 2022 são femininas. No MDB, essa proporção é de 34%.
Mulheres ganham 20% menos que homens
VERDADEIRO
Uma pesquisa da consultoria IDados mostrou que, no Brasil, as mulheres ganharam, em média, 20,5% menos que os homens no 4ª trimestre de 2021. No mesmo período de 2020, o percentual era menor: 19,70%. Esse levantamento foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE e divulgado em março de 2022 pelo G1.
Meio milhão de anjos da guarda no Brasil. São os assistentes sociais e agentes comunitários de saúde
VERDADEIRO
De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, do Ministério da Saúde, 289.689 agentes comunitários de saúde atuavam no país em julho deste ano. Já o Conselho Federal de Serviço Social estima em cerca de 200 mil o número de assistentes sociais com registro nos conselhos regionais da categoria. Dessa forma, somados os números, seriam aproximadamente 489 mil profissionais.
[...] o Ideb de Mato Grosso do Sul para o ensino médio: se não for o primeiro ou o segundo, é o terceiro
FALSO
O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do ensino médio ofertado pela rede estadual de Mato Grosso do Sul era o 7º melhor do país em 2019, dado mais recente divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). O estado da candidata recebeu a nota 4,1, atrás de Goiás (4,7), Espírito Santo (4,6), Paraná e Pernambuco (4,4), São Paulo (4,3) e Ceará (4,2).
Mato Grosso do Sul iniciou a série histórica do Ideb em 2005 na 14ª posição e chegou a figurar com a 4ª melhor nota em 2007. Entre 2009 e 2017, o estado flutuou entre a 6ª e a 9ª colocação nacional. No entanto, entre 2015 e 2019, não atingiu as metas projetadas. Tebet foi vice-governadora do estado entre 2011 e 2015.
Eu prefeita reeleita com 76% dos votos
VERDADEIRO
Em 2008, Simone Tebet (MDB) concorreu à reeleição da prefeitura do município de Três Lagoas (MS), em uma chapa formada com a vice Marcia Moura (MDB). Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul (TRE-MS), a emedebista venceu o pleito no 1º turno com 36.226 votos, o que equivale a 76,80% dos votos válidos. A senadora, no entanto, ficou no cargo apenas até 2010, quando saiu para disputar o governo do estado como vice-governadora de André Puccinelli (MDB).
Edição Chico Marés e Marcela Duarte
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