Publicações sobre fraude nas urnas crescem 154% no Facebook ante 2018

Publicações que mencionam, sem provas, problemas dos equipamentos mais do que dobraram no comparativo com o período de 1º de janeiro a 29 de julho

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Nathália Afonso
Agência Lupa

Publicações no Facebook que mencionam fraude nas urnas eletrônicas aumentaram 154% neste ano em comparação com o mesmo período de 2018.

Pesquisa feita pela Lupa com a ferramenta de monitoramento CrowdTangle, da Meta, mostra que houve 5.600 posts virais em grupos e páginas do Facebook citando ao mesmo tempo os termos "urnas eletrônicas" e "fraude" do dia 1º de janeiro a 29 de julho de 2022, totalizando 356 mil interações.

Na comparação com as últimas quatro eleições, este é o ano com maior número de publicações que tentam indicar que os aparelhos não são confiáveis. Embora uma parte desses posts indique que não houve fraude nas urnas, a quantidade é pequena dentro do universo apurado.

TSE apresenta as novas urnas eletrônicas, que devem ser usadas a partir das eleições de 2022 - Abdias Pinheiro/SECOM/TSE/Divulgação

Uma pesquisa com os termos "não houve fraude nas urnas eletrônicas" usando o CrowdTangle traz apenas 477 publicações este ano no período indicado —equivalentes a 8,5% do total.

Nos anos em que ocorreram as eleições de 2014 e 2016, houve, respectivamente, 497 e 1.100 posts virais que falavam sobre fraude nas urnas. Em 2018, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi eleito, houve o primeiro aumento nesse tipo de publicação. Posts virais que citavam irregularidades no pleito cresceram para 2.200, com um total de 150 mil interações.

Esse aumento se refletiu no período eleitoral, quando uma onda de conteúdos falsos questionando o resultado das eleições —especialmente no primeiro turno— circulou nas redes sociais. Um exemplo emblemático são vídeos de eleitores dizendo que Bolsonaro não estava na urna.

Nos casos em que foi possível averiguar a situação, ficou provado que eles estavam tentando preencher "17", número do então candidato, no espaço destinado para escolher governador. Como não existia candidato ao governo estadual com aquela numeração, a urna indicava que o voto era nulo, ou seja, não houve erro do equipamento.

Em 2020, contudo, o número de publicações que tentavam colocar em dúvida a segurança das urnas diminuiu, totalizando 1.600 de 1º de janeiro a 29 de julho. Mesmo assim, uma quantidade significativa de desinformação circulou durante o período eleitoral, incluindo uma situação similar ao exemplo de 2018 — uma eleitora tentou votar em Carlos Bolsonaro, errou o número, e acusou falsamente a ausência do candidato na máquina.

Usando a ferramenta CrowdTangle, também foi possível verificar que houve mais de 60,7 mil publicações nos últimos 12 meses que citam urnas eletrônicas e um dos três candidatos à presidência da República mais bem posicionados no último Datafolha: Jair Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT). Entre eles, Bolsonaro foi o que teve mais menções, com 48 mil publicações. Lula aparece, por sua vez, em segundo lugar, com 9.200 publicações e Ciro aparece em terceiro, com 1.500.

A Lupa procurou a assessoria de imprensa da Meta, que informou que, recentemente, a empresa adotou mudanças na distribuição de conteúdos políticos.

Ataques às urnas

Desde que foi eleito, o presidente Bolsonaro tem falado para seus apoiadores que as urnas eletrônicas não são confiáveis. Ele já afirmou em diversas ocasiões, sem provas, que houve fraude em eleições passadas —inclusive em 2018, quando teria sido eleito no primeiro turno.

Contudo, não houve fraude na votação. O número de posts que apoiam essa tese de fraude nas urnas também aumentou ao longo do governo do presidente.

Traçando uma análise dos últimos 10 anos com a ferramenta do CrowdTangle, foi possível observar que houve ondas desinformativas que citavam fraude nas urnas mais altas em 2021 e 2022. No ano passado, um dos grandes picos ocorreu em julho.

Naquele mês, durante uma live, Bolsonaro acusou o resultado das eleições de 2014 de ter sido alterado e disse que isso poderia ser observado por conta de um suposto padrão na apuração dos votos. Segundo a tese, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) teriam trocado de posição na liderança das parciais em um total de 241 vezes de forma consecutiva. Isso, no entanto, é falso.

Checagens

Nas redes sociais, a desinformação envolvendo as urnas eletrônicas já foi assunto de pelo menos 111 checagens e reportagens realizadas pela Lupa. Supostas falhas nesses equipamentos costumam ser apontadas na tentativa de indicar que o processo eleitoral não é seguro.

Em alguns casos, os boatos distorcem dados obtidos durante testes realizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em outros, as publicações nem citam o motivo da suposta fraude.

Outras postagem contendo informações falsas sobre o equipamento também citam autoridades, indicando que elas teriam advertido que as máquinas não são seguras, como, por exemplo, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Além disso, outras publicações falsas já usaram o nome da Globo e de peritos da Polícia Federal para espalhar o boato de que houve alteração nos resultados.

O processo eleitoral tem vários mecanismos —realizados antes, durante e depois da votação— que ajudam a garantir uma eleição segura. Antes da disputa, o TSE organiza eventos para analisar os mecanismos de segurança adotados.

Um deles é o TPS (Teste Público de Segurança), no qual especialistas tentam invadir o sistema eleitoral. Além disso, no dia da eleição, o TSE também realiza o teste de integridade, sorteando urnas e testando os aparelhos em uma votação simulada e gravada. Após a votação, há ainda a emissão do Boletim de Urna (BU), um documento que mostra todos os votos que cada máquina recebeu. Essas informações ficam disponíveis para consulta na internet.

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