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Lula faz nova ofensiva por agro com entrevista ao Canal Rural e viagem de Alckmin

TV voltada para produtores exibe sabatina com petista nesta quarta enquanto vice vai a Goiânia

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Brasília e São Paulo

Em mais um esforço para ampliar apoios e tentar ganhar as eleições no primeiro turno, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve realizar uma série de gestos ao agronegócio nesta semana —setor que representa uma das bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na terça-feira (20), o petista gravou uma entrevista para o Canal Rural e falou sobre temas sensíveis ao segmento. Pela primeira vez, Lula tratou de forma enfática sobre a questão das armas no campo.

De acordo com aliados do petista, o ex-presidente afirmou que é legítimo que o homem do campo tenha uma ou duas armas para defender sua propriedade rural e não ficar vulnerável. Também disse, por outro lado, que pretende reverter a possibilidade de compra de grandes quantidades de armamentos.

O petista já afirmou no passado que quer rever decretos armamentistas de Bolsonaro.

O ex-presidente Lula ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo
O ex-presidente Lula ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo - André Porto - 20.ago.22/UOL

Ainda segundo interlocutores, o ex-presidente ainda voltou a falar sobre o papel do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) num eventual governo e rechaçou a hipótese de que o grupo invada áreas produtivas.

Lula defendeu a reforma agrária e ressaltou que o governo é obrigado a pagar pela desapropriação de terras improdutivas, destacando que, se eleito, governará para todos.

A entrevista deve ir ao ar nesta quarta-feira (21). No mesmo dia, o candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), viaja para Goiânia (GO). Na quinta (22), ele segue para Porto Velho (RO).

A ideia da campanha petista é reforçar a mensagem de que o ex-presidente reconhece a importância do setor para a economia brasileira e que, num eventual novo governo, dará total atenção ao agronegócio.

Na segunda (19), numa preparação para a entrevista, o ex-presidente conversou com três dos principais fiadores da campanha petista junto ao agro: o senador Carlos Fávaro (PSD), o deputado federal Neri Geller (PP) —candidato ao Senado— e o empresário Carlos Ernesto Augustin.

Petistas se referiram ao encontro como "agrotraining", durante o qual Lula foi aconselhado a não fugir de nenhum assunto na entrevista e a "distensionar" a relação com o "ninho bolsonarista". O petista também pediu ao MST subsídios para elaborar as respostas na semana passada.

Lula sabe que precisa ser cuidadoso nas declarações envolvendo o movimento social, já que esse é um dos focos de ataque do presidente Bolsonaro e tema com forte apelo no agro.

Nos últimos dias, Fávaro, Geller e Augustin incentivaram o presidente a gravar a entrevista para reforçar o diálogo junto aos produtores rurais e furar a bolha da esquerda. Além disso, a avaliação é a de que a participação em um canal voltado para o setor pode ajudar a compensar a falta de agendas presenciais.

A campanha petista chegou a prever viagens de Alckmin a estados com forte presença do agronegócio, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Essas agendas, no entanto, não saíram do papel.

Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), os quatro presidenciáveis melhores colocados nas pesquisas de intenção de voto, foram convidados pelo Canal Rural para uma entrevista gravada e com duração de uma hora. A entrevista com o pedetista foi exibida no último dia 6 de setembro.

Levantamento do Datafolha divulgado no último dia 15 mostrou Lula com 45% das intenções de voto, ante 33% de Bolsonaro. Em terceiro lugar, empatados tecnicamente, apareceram Ciro, com 8%, e Tebet, com 5%.

Em Goiânia, Alckmin recebeu o apoio de uma ala do PSDB de Goiás, se reuniu com empresários do agronegócio e do comércio na Fieg (Federação das Indústrias do Estado de Goiás), e participou de um ato com militantes e candidatos da coligação do PT no estado.

O apoio dos tucanos à chapa Lula-Alckmin foi articulado pelo ex-governador de Goiás José Eliton, que se filiou ao PSB neste ano a pedido do candidato a vice. O grupo defendeu a candidatura de Eduardo Leite (PSDB) à Presidência da República nas prévias feitas pela legenda, no ano passado.

Eliton foi vice do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), candidato ao Senado. Apesar da proximidade entre os dois, Perillo se mantém neutro na disputa. Ele tem evitado declarar apoio a Tebet e não sinalizou se pretende referendar o petista em um eventual segundo turno.

"É uma ala histórica do PSDB, tradicionalmente ligada aos Santilismo [ex-governador Henrique Santillo, que deixou o cargo em 1991] e majoritariamente formada por grupo tradicional que sempre se posicionou no campo de centro-esquerda do PSDB", disse Eliton.

"Apoio o Alckmin e o Lula por tudo que imagino que eles representam e podem fazer pelo Brasil. Eu conheço o Alckmin como pessoa, governador e presidente do meu partido anteriormente", disse o ex-deputado Giuseppe Vecci, membro da executiva tucana desde 2014 e tesoureiro-adjunto do partido.

"Acho que ele vai dar uma contribuição grandiosa para o Lula e para o Brasil. Não podemos arriscar a nossa democracia", continuou.

A agenda com empresários sofreu resistência de representantes da área em Goiás. Na véspera, o presidente da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), o deputado federal José Mário (MDB), publicou uma mensagem nas redes sociais repudiando o encontro.

Depois de Goiânia, Alckmin iria para Cuiabá. A viagem para Mato Grosso acabou cancelada pela campanha petista após informações de que apoiadores de Bolsonaro e do ruralista Antônio Galvan (PTB) —candidato ao Senado— se organizavam para tumultuar a agenda no estado.

Procurada, a assessoria de Antônio Galvan não esclareceu se ele articulava algum ato contra Alckmin, e afirmou apenas que "a maioria dos produtores rurais e da população mato-grossense" apoia Bolsonaro, e não Lula.

Apoiadores de Bolsonaro e Galvan confirmaram à reportagem, no entanto, que fariam uma mobilização em Cuiabá para mostrar que Alckmin "não era bem-vindo" no estado.

Alckmin participaria de um ato com a primeira-dama de Cuiabá e candidata ao governo estadual Marcia Pinheiro (PV), e se encontraria com empresários ligados ao agronegócio. A viagem a Mato Grosso estava sendo organizada por Geller e Fávaro.

O ex-governador do Piauí Wellington Dias, que faz parte da coordenação da campanha, afirma que a tentativa de criar pontes com representantes do agronegócio é menos uma estratégia "apenas pensando no voto" e mais um indicativo de que haverá diálogo com "todos os setores que são essenciais".

Wellington citou o encontro de Lula com oito ex-presidenciáveis na segunda como exemplo de que, em caso de vitória, o governo petista será "de coalizão".

"[Será] um governo de coalizão ampla numa conjuntura de reconstrução, em que a tônica vai ser diálogo, harmonia e estabilidade para que existam as condições de um projeto com medidas emergenciais de curto, médio e longo prazo", diz o petista.

A campanha de Lula investiu em ao menos um anúncio no Google voltado a buscas relacionadas ao agronegócio. Nele, os usuários eram direcionados a um texto no site do ex-presidente que afirma que Lula "valoriza o agronegócio" e que é mentira que "Lula vai acabar com o agro". O anúncio foi exibido de 5 a 20 de setembro e visualizado por cerca de 15 mil pessoas.

O ex-presidente foi alvo de críticas quando disse, em entrevista ao Jornal Nacional, que existe uma parcela do agro "fascista e direitista" que se opõe ao PT por ser contra políticas de preservação do ambiente.

À época, Augustin disse à Folha que o ex-presidente errou ao se referir a parte do setor como "fascista" e defendeu que ele pedisse desculpas pela generalização.

Colaborou Thiago Resende

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