Big techs têm plantão, reforço e treino para atuar em cenário de crise eleitoral

Empresas de redes sociais analisam diferentes cenários desencadeados por desinformação

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São Paulo

Às portas do primeiro turno, as big techs realizaram treinamentos para diferentes cenários de crises eleitorais desencadeadas por desinformação. As empresas não divulgam o tamanho das equipes mobilizadas para os dias próximos à eleição, mas afirmam que há reforço internacional, com especialistas deslocados dos EUA para o Brasil, plantão 24 horas e "war room", a sala de guerra de operações.

Embora não exista cooperação oficial entre as redes sociais para combater fake news –e as mentiras pipoquem de uma plataforma para outra–, as companhias dizem que o meio de campo será feito pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Nenhuma delas vai publicar um relatório de transparência específico sobre a eleição.

Na sexta-feira (30), o TSE chamou as empresas para apresentar um mapeamento de eventuais cenários de violência e contestação de votos, numa espécie de último chamado para que as redes atuem com celeridade no veto de conteúdos extremos no domingo (2), dia da votação.

O tribunal pediu atenção com publicações citando ataques infundados contra o sistema eleitoral, possíveis incitações à violência, deep fakes e contestações de votos.

Logos das plataforma de internet Instagram, Twitter, Facebook e Google
Logos das plataforma de internet Instagram, Twitter, Facebook e Google - Denis Charlet/AFP

A discussão sobre o bloqueio de figuras públicas, a exemplo do que ocorreu com o ex-presidente dos EUA Donald Trump após a invasão do Capitólio, costuma chegar até as cúpulas dos gigantes de tecnologia.

No Brasil, redes chinesas como TikTok e Kwai, amplamente usadas pelos presidenciáveis, participam pela primeira vez de uma disputa presidencial. O Kwai afirma que terá reforço no time de segurança na eleição.

O TikTok, por sua vez, atualizou em 22 de setembro a política de integridade eleitoral e passou a incluir em lives sobre o pleito botões que direcionam os usuários a uma página com informações oficiais do TSE.

A plataforma também afirma que redirecionará alguns resultados de pesquisas para restringir o acesso a conteúdos que violem suas diretrizes. Isso vale para termos associados a discurso de ódio, violência e desinformação sobre fraude —a empresa não detalha quais palavras entrarão nesse filtro.

No caso de alegações não verificadas, como declaração de vitória antes da confirmação, a empresa pretende reduzir a capacidade de disseminação desses conteúdos.

No prédio do Google, dona do YouTube, na Faria Lima, em São Paulo, uma sala de operação está em funcionamento há semanas, com o reforço de profissionais da matriz dos Estados Unidos.

Neste ano, a plataforma de vídeos incluiu o Brasil na política que proíbe conteúdos com alegação de fraude. A medida, retroativa, foi aplicada a publicações sobre os pleitos de 2014 e 2018 e levou a empresa a excluir lives do presidente Jair Bolsonaro (PL), como a que registrou a reunião com embaixadores para atacar as urnas.

Questionada se pretende incluir a disputa de 2022 na regra assim que o TSE certificar o resultado da eleição, a empresa disse contar com fontes de informações confiáveis, como o tribunal, e que mantém contato próximo com a corte "para estar atualizada sobre informações corretas relacionadas ao pleito".

Nos Estados Unidos, o YouTube foi alvo de críticas porque só passou a remover vídeos com alegações falsas de fraude eleitoral em dezembro de 2020, mais de um mês após o dia final da votação.

A plataforma também não revelou se aumentará a fiscalização sobre anúncios políticos. Estudo do NetLab, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostra que cerca de 7 em cada 10 anúncios eleitorais exibidos no Google estão irregulares, com CNPJ do responsável pela peça ausente ou ilegível e financiamento empresarial, o que não é permitido.

"Qualquer anúncio feito por meio das plataformas do Google precisam respeitar políticas rígidas que proíbem, por exemplo, anúncios que exibem conteúdo chocante ou promovem ódio, intolerância, discriminação ou violência", afirmou a companhia em nota.

No Twitter, haverá "dedicação extra" da equipe que analisa potenciais violações às regras e toma as medidas cabíveis. O período em que a rede social funcionará em esquema de emergência será definido de acordo com o que o contexto demandar.

As decisões sobre remoção ou etiquetagem de postagens devem ser tomadas mais rapidamente, a depender do potencial de dano do conteúdo. "De acordo com a violação cometida e o potencial de dano do conteúdo no mundo offline, a análise do conteúdo e posterior tomada de medida são priorizadas."

O Twitter considera estar mais preparado para esta eleição. Em 2018, por exemplo, não contava com políticas específicas para lidar com desinformação —hoje possui quatro.

Já a Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, afirma que seu centro de operações reúne de forma presencial e remota especialistas de diferentes equipes no Brasil e no exterior.

A empresa destaca ter removido mais de 140 mil conteúdos que violavam as políticas contra interferência eleitoral no primeiro turno da eleição de 2020.

Assim como outras big techs, a empresa de Mark Zuckerberg realiza análises de risco online e offline e, baseada nos resultados, prevê diferentes cenários e medidas a serem tomadas. Algumas investigações internas geradas por denúncias já estão sendo realizadas, segundo a empresa, que anunciou em junho um acordo com mais duas agências de checagem, ampliando para seis o número de parceiros.

Após ter bloqueado o perfil de Trump em 2021, por incitação à violência no caso da invasão do Capitólio, o Facebook criou uma regra que dá base para a restrição de figuras públicas durante agitações civis, política que poderá ser adotada se houver algum tipo de insurgência no Brasil.

Nos EUA, a Meta anunciou que proibirá anúncios políticos na semana que antecede a eleição de meio de mandato, em novembro, algo que fez na semana anterior ao pleito presidencial americano de 2020.

No Brasil, porém, essa medida não será adotada. Procurada, a Meta afirmou que os EUA não possuem uma legislação federal que determina prazos para a campanha, diferentemente do Brasil. Assim, restringir publicidade online uma semana antes da votação colocaria a empresa em desacordo com a lei local.

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