Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro afirma que nem todo político é igual ao desincentivar voto nulo e abstenção

Presidente fala a evangélicos em SP, pede desculpas por usar palavrão e diz que ninguém vai controlar o que se escreve no WhatsApp

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (PL) buscou desincentivar votos nulos e brancos e a abstenção em culto na Igreja Mundial do Poder de Deus, no Brás (centro de São Paulo). Ele afirmou que nem todo político é igual e que quem pensa assim acaba anulando o voto.

"Eu não sou igual àquele cara de nove dedos", afirmou em referência ao seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Adesivos da campanha de Bolsonaro estavam à disposição na igreja, que tinha o palco decorado com a bandeira e as cores do Brasil, além dos dizeres "pátria amada".

Ao falar a evangélicos na manhã deste domingo (23), Bolsonaro afirmou que a censura chegou à imprensa e que o conteúdo do WhatsApp não pode ser alvo de controle, em referência a decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra fake news.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), na Igreja Mundial do Poder de Deus - Ronny Santos/Folhapress

O presidente voltou a se desculpar por usar palavrão: "Eu falo palavrão, mas não sou ladrão".

"Por vezes eu me pergunto: por que cheguei até aqui? [...] Não é fácil ser presidente. Tinha capacidade? Não. Mas sabemos que Deus nos capacita", afirmou.

Bolsonaro falou em censura, tema explorado por sua campanha. Decisões que geraram críticas por suposta censura por parte de bolsonaristas são a que expandiu os poderes do TSE no combate a fake news e a que abriu investigação contra a rede Jovem Pan por suposto tratamento desigual a candidatos.

"Ninguém pode controlar o que vamos escrever no zap", disse ainda Bolsonaro.

"Vocês viram que a censura chegou na imprensa. [...] O outro lado diz que a imprensa tem que ser censurada. A melhor maneira de censurar a imprensa é deixá-la livre. Quem por ventura vai derrubar o órgão de informação ou não é o povo", disse, argumentando que o público irá escolher veículos que falem a verdade.

Nesse momento, o público gritou "Globo lixo".

Segundo ele, foi possível aumentar o valor do Bolsa Família, agora Auxílio Brasil, graças ao bom desempenho da economia.

"Se compararmos nos últimos governos o valor do Bolsa Família e dividirmos pelo preço da picanha... No nosso governo, dividindo o Auxílio Brasil pelo atual preço da picanha, se compra três vezes mais picanha", disse, ignorando que a inflação dos alimentos é a maior até setembro desde o início do Plano Real.

Embora não tenha pedido votos explicitamente, o discurso de Bolsonaro, assim como o de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da igreja de denominação neopentecostal, tratou da eleição.

"Se essa for a vontade de Deus, sei que vocês nos darão a vitória no dia 30", disse Bolsonaro.

Como mostrou a Folha, a campanha eleitoral em igrejas foi tema de ações judiciais em 7 estados. A legislação proíbe propaganda eleitoral em templos por considerarem esses espaços bens de uso comum do público.

As decisões com punição a candidatos ou pastores foram dadas apenas quando houve, na avaliação dos magistrados, pedido de voto. De acordo com a legislação, a multa prevista para esses casos pode variar de R$ 2.000 a R$ 8.000.

O presidente ainda repetiu, em seu discurso, fake news a respeito de ideologia de gênero, do comunismo e da economia. Ele disse que seu governo não teve corrupção, ignorando escândalos como o do MEC (Ministério da Educação), e afirmou que o governo do PT buscava "a desconstrução da heteronormatividade", o que seria "a destruição da família".

Tarcísio, candidato ao Governo de São Paulo de Bolsonaro, acompanhou o presidente, assim como no evento evangélico da Igreja de Itaquera, zona leste de São Paulo, na noite de sábado (22).

O ex-ministro repetiu seu discurso religioso da noite anterior, com parábolas em referência a eleição, que foi comparada por ele a uma disputa entre o bem e o mal. Ele fez uso de fala semelhante em evento com evangélicos e Michelle Bolsonaro, na quarta (19).

"Deus tem uma bênção declarada para o Brasil. O Brasil vai ser próspero porque o bem vai vencer o mal", disse.

O candidato do Republicanos afirmou que o momento é de decisão e perguntou: "Vocês querem o mordomo infiel, o administrador infiel de volta?", referindo-se a Lula. "Não dá para servir a dois senhores."

Depois que Bolsonaro se disse incapacitado para exercer a Presidência e pediu desculpas por usar palavrão, Tarcísio também se empenhou em amenizar a imagem do presidente. A campanha de Lula tem explorado falas agressivas de Bolsonaro, além de frases insensíveis ditas durante a pandemia.

"Davi errou e pediu perdão, mas foi um grande rei. [...] A madeira é torta, é dura, mas é a madeira escolhida", disse em referência a Bolsonaro.

"Pela primeira vez eu vi um presidente levar a igreja para dentro do Palácio do Planalto, para dentro do Palácio da Alvorada. No passado, o que acontecia no Palácio do Planalto e da Alvorada era outra coisa", emendou Tarcísio.

Santiago afirmou que Bolsonaro e sua equipe são diferentes, porque têm prazer em adorar a Deus, e criticou Lula. Ele chamou o presidente de "rei" e disse que o mandatário resistiu à pandemia da corrupção, que é pior do que a da Covid. Também afirmou que, como pastor, vai levar seu rebanho "ao pasto verdejante".

O apóstolo disse que a economia cresce com Bolsonaro e tentou associar Lula ao fechamento de igrejas, uma informação falsa, e à recessão econômica, dizendo ter medo.

"Até eu tenho medo, todo mundo tem medo na vida. Se a economia vai mal, seu dízimo, ó [faz sinal de queda com as mãos]. Se a economia vai bem, seu dízimo, ó [faz sinal de crescimento]. Melhora. Como eu vou pagar as contas desse jeito?", disse Santiago.

Ele falou sobre fechamentos anteriores de seus templos em anos recentes, mas que não tiveram relação com o governo petista. Em 2010 e 2011, por exemplo, a Justiça determinou o fechamento da igreja por falta de licenças e porque normas de segurança e a capacidade máxima não eram atendidas. A igreja tem ainda templos que são alvo de ação de despejo por dívidas no pagamento de aluguel.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.