Bolsonaro diz que institutos de pesquisa têm intenção de interferir na democracia

Presidente e aliados trocam ataques às urnas por críticas às pesquisas eleitorais; campanha pede investigação

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta quarta-feira (5), que institutos de pesquisa não são sérios e têm a intenção de interferir na democracia, após números dos levantamentos serem divergentes do resultado final das urnas.

"Esses institutos estão trabalhando, na verdade, para quem os contrata, não é para fazer pesquisa séria. A intenção é interferir na democracia. Falam tanto de atos antidemocráticos. Isso é um ato antidemocrático", disse Bolsonaro a jornalistas, no Palácio da Alvorada.

"Esses números abusivos desses institutos de pesquisa que quase decidiram eleição presidencial no primeiro turno, o que seria um desastre no Brasil."

Bolsonaro disse esperar que institutos não "dobrem a aposta" no segundo turno.

Bolsonaro antes de debate entre os candidatos à Presidência - Eduardo Anizelli-29.set.22/Folhapress

Em live transmitida à noite, Bolsonaro comentou a divulgação de pesquisa Ipec e disse que "recomeçou a palhaçada dos institutos de pesquisa".

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou para a segunda etapa da eleição com 48,4% de votos, contra 43,2% de Bolsonaro.

Como a Folha mostrou, a campanha do chefe do Executivo acionou a PGE (Procuradoria-Geral Eleitoral) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para que investiguem os institutos.

Os advogados do chefe do Executivo querem uma investigação dos órgãos para, segundo eles, apurar se houve irregularidade ou crime na divulgação de resultados divergentes.

Além disso, o Ministério da Justiça mandou para a PF (Polícia Federal) pedido para que apurem a discrepância dos resultados.

O ministro Anderson Torres também estava com Bolsonaro na manhã desta quarta, durante entrevista coletiva para registrar o apoio do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) no segundo turno.

Aos jornalistas o ministro negou tratar-se de "intimidação". "Existe um crime previsto para isso que é a divulgação de pesquisas falsas. A própria fake news. Tem maior que essa na véspera de uma eleição? Tem que fazer com muito cuidado, o inquérito é muito sério e a realidade vai vir à tona".

O governador do Distrito Federal foi ainda mais duro em suas críticas. "Os institutos de pesquisa do Brasil têm agido contra a democracia e merecem, sim, ser investigados e punidos", afirmou.

A ofensiva de aliados do presidente contra os institutos começou ainda durante o primeiro turno, quando propagavam a tese apelidada de "Datapovo": contrapor aos levantamos que mostravam liderança de Lula a imagens de atos bolsonaristas para tentar deslegitimar os institutos.

Com o resultado do TSE apurado, aliados trocaram o discurso de ataque às urnas eletrônicas por críticas aos institutos, chegando até mobilizar senadores próximos ao Planalto por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).

À Folha Arthur Lira, presidente da Câmara, descartou essa possibilidade, mas disse que algo precisa ser feito a respeito dos institutos.

"Há muita especulação. Tenho recebido muitos pedidos de CPI, mas não acho que seja o caso. Precisamos penalizar os institutos que erram, sim. Alguma coisa precisa ser feita. E estou falando de qualquer instituto, não de um específico", disse o parlamentar.

Integrantes do núcleo do comitê eleitoral de Bolsonaro passaram a pregar boicote às sondagens. Eles também têm defendido meios, inclusive pelo Legislativo, de questionar ou punir institutos cujos resultados divirjam muito do apurado pelas urnas.

O objetivo de aliados é usar o fato de que os principais levantamentos do país indicaram Bolsonaro com desempenho inferior ao registrado nas eleições para argumentar que o mandatário tem sido subestimado de forma proposital.

Após ser alvo de críticas de Bolsonaro e aliados, o Datafolha afirmou que as pesquisas eleitorais servem para mostrar tendências e não o resultado final de uma eleição.

"Pesquisa não é prognóstico. Cada pesquisa é a fotografia de um determinado momento. O resultado final é só na urna", afirmou Luciana Chong, diretora do Datafolha, que refutou a tese de ter acontecido algum tipo de erro metodológico.

Segundo Chong, é bastante provável que tenha emergido nas horas finais um voto útil pró-Bolsonaro oriundo dos eleitores que antes declaravam preferência por Simone Tebet e, principalmente, por Ciro Gomes. O temor de que Lula fosse eleito no 1º turno pode, segundo ela, ter contribuído para esse comportamento.

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