Descrição de chapéu Eleições 2022

Campanha de Bolsonaro vê dúvidas sobre urnas como superadas e eleva tom contra pesquisas

Aliados querem apresentar projeto no Congresso para punir institutos

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Brasília

Depois de um primeiro turno marcado por declarações golpistas de Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, que tentaram colocar em xeque a segurança das urnas eletrônicas, a campanha do presidente elevou o tom contra outro alvo para a segunda etapa do pleito: as pesquisas de intenções de voto.

Já neste domingo (2), integrantes do núcleo do comitê eleitoral do chefe do Executivo deram declarações duras contra os levantamentos. Eles pregaram boicote às sondagens e passaram a defender meios, inclusive pelo Legislativo, de questionar ou punir institutos cujos resultados divirjam muito do apurado pelas urnas.

O objetivo de aliados é usar o fato de que os principais levantamentos do país terem dado resultados em que Bolsonaro registrou um desempenho inferior ao alcançado nas eleições para argumentar que o mandatário tem sido subestimado de forma proposital.

Bolsonaro passou para o segundo turno das eleições com 43,25% dos votos, ante 48,37% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O candidato Jair Bolsonaro (PL), que busca ser reeleito à Presidência da República, ao votar na Escola Municipal Rosa da Fonseca, no Rio de Janeiro. - Eduardo Anizelli 10.fev.22/Folhapress

"Eu acho que se desmoralizou de vez os institutos de pesquisa", afirmou Bolsonaro, ao ser questionado sobre se houve fraudes nas urnas, após o resultado ter sido divulgado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "Isso tudo ajuda a levar voto para o outro lado. Isso vai deixar de existir, até porque eu acho que não vão continuar fazendo pesquisa", disse.

O Datafolha de sábado (1º) registrou o atual presidente com 36% dos votos válidos, contra 50% de Lula. Já Simone Tebet (MDB) marcou 6%, empatada tecnicamente com Ciro Gomes (PDT, 5%). Eles terminaram a corrida com 4,16% e 3,05%, dos votos válidos, respectivamente.

A margem de erro foi de dois pontos percentuais, abrangendo os resultados de Lula, Ciro e Tebet, mas não o de Bolsonaro.

Diante da perspectiva de que pudesse liquidar a fatura da eleição já neste domingo, o PT trabalhou para ganhar no primeiro turno e apostou em campanhas pró-voto útil e antiabstenção.

Frente às investidas do adversário, membros da campanha de Bolsonaro sempre buscaram afirmar que ele iria para o segundo turno, colocaram em xeque as pesquisas e divulgaram sondagens em que o presidente aparecia como primeiro colocado —o que não ocorreu.

Também se anteciparam e propagaram questionamentos ao resultado da eleição de antemão, caso ela desse vitória a Lula.

Agora, a dúvida sobre a lisura do processo eleitoral é considerada superada por aliados de primeira hora do presidente. Por outro lado, eles prometem reforçar os ataques a pesquisas.

"Não houve problema nas urnas. Essa questão está totalmente superada. O problema grave da eleição foram as pesquisas. Foi muito grave", afirma o ministro Fábio Faria (Comunicações), um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro.

"Vamos fazer investigações dessas pesquisas, saber o que tinha por trás delas. Vamos fazer isso, na Câmara ou em algum lugar", continua.

Faria diz que a estratégia eleitoral de Bolsonaro não vai mudar e a expectativa é de vitória no segundo turno.

Outro aliado de Bolsonaro, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), defende ser preciso encontrar meios de punir pesquisas eleitorais cujos apontamentos divirjam do resultado das urnas acima da margem de erro.

"Eu estou convencido que a solução é criminalizar [as pesquisas]. Não bateu com o resultado da urna, é crime, porque ela influencia as pessoas. Muita gente não quer perder o voto, e muda de voto", diz Barros, reeleito neste domingo.

"É para votarmos uma lei decidindo a punição para quem erra a pesquisa. Vou apresentar o projeto amanhã mesmo".

O deputado apresentou um projeto na Câmara para tentar impedir a divulgação de pesquisas a menos de 15 dias das eleições, mas ele não foi aprovado.

Barros diz que também já tentou processar institutos de pesquisas eleitorais, mas nunca teve sucesso porque não há nada na lei que puna as pesquisas. Por isso, defende alterar a legislação.

Em outra frente, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) pregou um boicote aos levantamentos antes mesmo da conclusão da apuração das urnas.

"Depois do escândalo que cometeram, todos os eleitores do presidente Bolsonaro só têm uma resposta às empresas de pesquisa: Não responder a nenhuma delas até o fim da eleição!!!", afirmou Nogueira nas redes sociais.

"Assim, ficará desde o início provado que qualquer resultado é fraudulento! Elas erraram absurdamente, criminosamente ou não? Somente uma investigação profunda poderá revelar", continuou.

Embora agora reforcem ataques às pesquisas eleitorais, Bolsonaro também tentou se valer de sondagens que o beneficiavam para tentar ganhar votos.

De um lado, usou a estratégia do chamado "Datapovo", de usar imagens de apoiadores para se contrapor aos levantamentos. Nas manifestações de 7 de Setembro, por exemplo, Bolsonaro tentou esvaziar o resultado das pesquisas devido ao fato de ter reunido milhares de pessoas nas ruas.

"Nunca vi um mar tão grande aqui, com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso 'Datapovo'. Aqui a verdade, aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador", afirmou o chefe do Executivo, na ocasião.

De outro lado, como mostrou a Folha, bolsonaristas também divulgaram pesquisas contestadas por especialistas na tentativa de endossar a ideia de que o presidente liderava a disputa e alimentar teorias conspiratórias de insegurança das urnas.

Levantamento da Brasmarket Análise e Investigação de Mercado divulgado na sexta (30), por exemplo, mostrou o presidente liderando com folga a corrida eleitoral, com 45,4% das intenções de voto no cenário estimulado. Lula apareceu com 30,9%.

Desde agosto a Brasmarket mostra Bolsonaro à frente do petista, numa série de pesquisas registradas no TSE.

Além do mais, influenciadores de peso da ala bolsonarista na Internet passaram a divulgar o que chamam da "maior pesquisa já feita", referindo-se à amostra do até então desconhecido Instituto Equilíbrio Brasil. Também registrada no TSE, ela ouviu 11.500 pessoas em 1.286 cidades.

O resultado de votos válidos da Equilíbrio mostrou Bolsonaro com 46%, contra 41% de Lula, cenário que tampouco ficou próximo do resultado oficial do primeiro turno.

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