Descrição de chapéu Eleições 2022

Derrotado, Rodrigo deve se manter neutro entre Tarcísio e Haddad no 2º turno em SP

Petistas pretendem conquistar eleitorado tucano com Alckmin; bolsonaristas estão de olho em prefeitos aliados do governo

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São Paulo

Derrotado na eleição para o Governo de São Paulo, o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) deve se manter neutro no segundo turno entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de acordo com aliados próximos dele.

No primeiro turno realizado neste domingo (2), Tarcísio terminou em 1° com 42,3% dos votos, seguido de Haddad, com 35,7%. Rodrigo amargou uma inédita derrota do PSDB no estado, com 18,4%.

A ideia de não declarar apoio é não entrar em contradição com a imagem de candidato independente, bastante explorada por Rodrigo para colocar Haddad e Tarcísio como subservientes, respectivamente, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Durante a campanha, o governador afirmou que queria "proteger São Paulo da briga política" e adotou o slogan "nem direita nem esquerda, é pra frente".

O candidato Rodrigo Garcia (PSDB) ao chegar para votação em colégio
O candidato Rodrigo Garcia (PSDB) ao chegar para votação em colégio - Zanone Fraissat/Folhapress

A Folha apurou que ao menos o diretório municipal do PSDB, na capital, não deverá apoiar ninguém.

Já o prefeito da capital e aliado de Rodrigo, Ricardo Nunes (MDB), tende a se juntar ao candidato dos Republicanos. O MDB deverá se posicionar sobre o tema nesta semana, mas o prefeito já adiantou que é contra defender Haddad.

Rodrigo encerra campanha eleitoral com mágoas de Haddad e Tarcísio

Outro fator preponderante é que o tucano deixa a corrida eleitoral com mágoa de Haddad e Tarcísio em razão de ataques nos debates e no horário eleitoral. Os rivais chegaram a fazer dobradinha contra o governador.

Haddad, por exemplo, questionou Rodrigo sobre o desconhecimento dos atos praticados pelo irmão Marco Aurélio Garcia, o Lelo, condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS.

O petista também tentou colar a imagem de Rodrigo na de Paulo Maluf, enquanto o tucano dizia que debutou na política durante a gestão de Mário Covas (PSDB).

Já o bolsonarista fez inserções na TV em que ironiza Rodrigo por sugerir ao eleitor que consultasse o seu nome no Google. Tarcísio, então, pede que a população também pesquise o patrimônio do tucano.

A Folha mostrou que Rodrigo é dono de fazendas, mansões e outros imóveis que estão em nome da sua empresa e não foram declarados à Justiça Eleitoral. Não declarar bens em nome da empresa, porém, não é algo ilegal, mas dificulta a transparência sobre o patrimônio do candidato.

Haddad e Tarcísio justificavam a mira em Rodrigo afirmando que, na eleição para o governo, cabe aos adversários apontar críticas na gestão de quem está no poder. O PSDB administra o estado desde 1995.

A leitura do tucano, porém, é bem diferente. Rodrigo acredita que virou alvo de Tarcísio porque ambos protagonizaram um duelo à parte pela outra vaga no segundo turno, e que foi confrontado por Haddad porque representava uma ameaça maior ao petista do que o bolsonarista.

Tarcísio aposta em antipetismo para atrair eleitor de Rodrigo

Tarcísio diz que vai iniciar a busca de apoios para o segundo turno pelos prefeitos de cidades paulistas.

"Vamos abrir as conversas com os prefeitos, porque você não governa o estado sem eles", afirmou o ex-ministro em entrevista após o resultado das urnas no primeiro turno.

"E vamos falar com partidos, buscar alianças e adesões ao nosso projeto", completou.

Ele afirmou não acreditar que os ataques trocados entre ele e Rodrigo atrapalhem uma transferência de votos do tucano para ele e nem devem afetar conversas de apoio com o PSDB.

"Algumas coisas são inerentes à campanha", afirmou. "A gente sabe que o PSDB tem excelentes quadros. Vamos conversar com as pessoas que estão dispostas a construir esse grande projeto."

Aliados de Tarcísio esperam contar com o batalhão de prefeitos que trabalhou por Rodrigo na primeira etapa.

Por causa do antipetismo em São Paulo, a equipe de Tarcísio acredita que o ex-ministro deve herdar mais votos de Rodrigo do que Haddad, o que deve impulsionar o bolsonarista no segundo turno.

Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (1º) mostrava que, num segundo turno entre Tarcísio e Haddad, os eleitores de Rodrigo se dividiriam entre 44% para o bolsonarista e 33% para o petista.

Ao votar neste domingo, Tarcísio afirmou que, se passasse para o segundo turno, começaria articulações de apoio imediatamente. "De certa forma, a linha que nós adotamos no primeiro turno vai ser a mesma do segundo", completou.

Alckmin é arma de Haddad para atrair eleitor tucano

Neste domingo, Haddad afirmou que vai buscar os aliados de Rodrigo na tentativa de atrair apoios.

"Temos um segundo turno para falar com nossos aliados potenciais. Acho que tanto o Lula tem uma conversa a fazer, quanto eu aqui em São Paulo tenho todo o interesse em dialogar com as forças que sustentaram a campanha do Rodrigo Garcia", disse Haddad.

Questionado sobre como pretende se aproximar após fortes críticas a Rodrigo na campanha, Haddad afirmou que é preciso pensar no bem comum e que o que fez foi procurar se defender, principalmente de ataques feitos nas propagandas de Edson Aparecido (MDB), candidato ao Senado da chapa de Rodrigo.

"Eu tive que me defender, se não não seria eu que estaria no segundo turno", disse.

Na avaliação dele, os favoráveis a Tarcísio dentro do grupo de eleitores tucanos já mudaram seu voto no primeiro turno, e cabe agora disputar o voto do contingente que permaneceu fiel ao tucano.

A aposta de Haddad para conquistar o público que votou no tucano será a presença intensa de Geraldo Alckmin (PSB), agora aliado dos petistas, durante a campanha do segundo turno.

"O Alckmin ganhou cinco eleições em São Paulo, duas como vice e três como titular. Não dá para deixar de reconhecer que isso é um feito", disse Haddad na sexta (30). "O fato de ele estar avalizando essa transição é uma coisa que tem significado."

Integrantes da campanha de Haddad acreditam que obter um apoio formal de Rodrigo é difícil, mas não descartam esse cenário. Mesmo interlocutores do governador admitem que, em seu núcleo político, há muita gente que rechaça o bolsonarismo.

Seja como for, a equipe de Haddad espera que ele consiga surfar no antibolsonarismo e herdar votos do tucano.

"Nós vamos discutir com as forças políticas que não forem para o segundo turno, com pressupostos da ética, da justiça social, programático e da democracia", disse Haddad na sexta.

A saída de Rodrigo também abre espaço para que os chamados cabeças brancas do PSDB possam se manifestar. Aloysio Nunes é um dos tucanos históricos que apoiou Lula, por exemplo.

Além disso, eventuais costuras na esfera nacional poderiam influenciar apoios de siglas que hoje integram a coligação de Rodrigo.

Por exemplo, o Solidariedade, de Paulinho da Força, apoiou o tucano e está com Lula na eleição presidencial. O MDB, embora tenha apoiado Simone Tebet como candidata ao Planalto, tem parte de seus integrantes que são mais próximos do PT.

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