Descrição de chapéu Eleições 2022

Tarcísio chega em 1º lugar e enfrenta Haddad no 2º turno em SP

Bolsonarista obteve 42,32% dos votos, e petista ficou com 35,70%; PSDB sofre derrota histórica

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São Paulo

Tarcísio de Freitas (Republicanos), 47, e Fernando Haddad (PT), 59, avançaram para o segundo turno na eleição ao Governo de São Paulo. O resultado impõe uma derrota inédita ao PSDB do atual governador, Rodrigo Garcia, 48, que terminou em terceiro, e compromete o futuro da sigla.

Tarcísio terminou na frente, com 42,32% dos votos, seguido por Haddad, com 35,70%. Rodrigo acabou com 18,40%.

"A gente esperava um bom resultado, obviamente o resultado foi maravilhoso", afirmou Tarcísio na noite deste domingo (2). "Essa eleição mostra a força do bolsonarismo."

O bolsonarista e o petista vão disputar um governo que, desde 1994, esteve nas mãos dos tucanos –com vitórias inclusive no primeiro turno, em 2006, 2010 e 2014.

Segundo aliados, Rodrigo não deve declarar apoio formal a nenhum dos adversários no segundo turno. Ao discursarem após a apuração, tanto Tarcísio quanto Haddad afirmaram que vão buscar apoio nos quadros do PSDB.

Tarcisio de camiseta amarela com fotos dele e de bolsonaro faz sinal de positivo com os dois polegares; ao lado, Haddad, de camisa escura e terno escuro, olha para o lado
Os candidatos ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, e Fernando Haddad, do PT - Danilo Verpa e Ronny Santos - 2.out.2022/Folhapress

Nesta segunda etapa, Tarcísio e Haddad pretendem seguir a mesma fórmula das últimas semanas –uma campanha casada com a de seus padrinhos políticos, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foram ao segundo turno na disputa pela Presidência da República.

A prioridade de Haddad era que Lula vencesse no primeiro turno, o que o impulsionaria e, ao mesmo tempo, enfraqueceria o candidato bolsonarista.

Além de não atingir esse trunfo, Haddad viu Tarcísio chegar à sua frente no primeiro turno e deve enfrentar grande dificuldade na segunda etapa –a última pesquisa Datafolha apontou o bolsonarista em trajetória ascendente e a apenas cinco pontos percentuais do petista, e o resultado da eleição confirmou esse crescimento.

A direita sempre venceu no estado, considerado conservador e antipetista. Agora, o apoio do vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB) —que governou o estado por mais de 12 anos pelo PSDB —, é peça-chave para que Haddad conquiste votos de alas mais conservadoras de São Paulo.

O candidato petista afirmou, no início da noite deste domingo, que o resultado obtido foi menor do que o imaginado e que o voto útil favoreceu o bolsonarismo.

"Era um pouco menos do que almejávamos, mas perto dos 40% que era a meta do estabelecida do início da campanha", disse, ressaltando que foi o melhor resultado do PT no estado e que vê boas perspectivas para o segundo turno.

A campanha de Lula avaliou que Haddad cometeu um erro na estratégia de preservar Tarcísio e mirar sua artilharia em Rodrigo.

As pesquisas do comando da campanha nacional já apontavam uma reação de crescimento de Tarcísio e de Marcos Pontes (PL), eleito para o Senado —o que foi informado para a coordenação da campanha de Haddad, que alegou ter outro número.

Nas palavras de um íntimo aliado de Lula, São Paulo foi o calcanhar de Aquiles do ex-presidente.

A rejeição ao petista cresceu ao longo da campanha e chegou ao pico de 40%, ante 33% do bolsonarista. Os estrategistas do PT minimizavam esse dado, argumentando que o índice não impede uma vitória e tem relação com o nível de conhecimento dos candidatos pela população.

Até a véspera das eleições deste domingo, o PT ainda se agarrava ao fato de que o antibolsonarismo seria expressivo em São Paulo, o que as urnas não confirmaram. No estado, Bolsonaro teve 47,7%, e Lula, 40,9%.

Na campanha, Tarcísio se esforçou para se apresentar como aliado do presidente e alguém que conhece São Paulo —era criticado por oponentes por ter nascido no Rio e mudado seu domicílio para São José dos Campos (SP) só para a eleição. Em uma entrevista, não soube indicar o colégio em que vota —a hesitação viralizou e foi alvo de rivais.

Ele foi lançado ao governo de São Paulo por Bolsonaro, não sem antes ter cogitado se candidatar ao Senado por Goiás ou pelo Mato Grosso.

Tarcísio também foi alvo de fogo amigo. Aliados do presidente se incomodavam com o fato de o ex-ministro não embarcar na guerra contra as urnas e o Judiciário, embora defenda o governo federal em termos de economia e resultados.

Por outro lado, o ex-ministro chegou a questionar a obrigatoriedade de vacinação para servidores e o uso das câmeras acopladas aos uniformes da Polícia Militar do estado, medida que reduziu a letalidade policial.

Haddad, por seu lado, passou boa parte da campanha se esquivando de críticas à sua gestão na Prefeitura de São Paulo. A administração do petista foi considerada ruim ou péssima por 48%, e apenas 14% a avaliaram como ótima ou boa, de acordo com pesquisa Datafolha, o pior índice desde Celso Pitta.

Seguindo a indicação da campanha nacional do PT de centrar o discurso na inflação e na fome, Haddad apostou em promessas populares, como o aumento do salário mínimo paulista, a retirada do ICMS da carne e da cesta básica e a criação de um Bilhete Único metropolitano.

Em relação às coligações, o bolsonarista, do Republicanos uniu ao redor de sua candidatura PSD, PL, PTB, PSC e PMN. Aliados polêmicos, como Eduardo Cunha (PTB), Fernando Collor (PTB) e o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos), suspeito de ligação com a facção criminosa PCC, tornaram-se munição para os rivais.

Haddad também montou uma coligação numerosa (PT, PSB, PV, Rede, PC do B e PSOL), numa inédita união da esquerda. Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) desistiram de concorrer ao governo estadual para apoiá-lo.

O petista teve a seu dispor R$ 25,8 milhões e declarou despesa de R$ 18,9 milhões, segundo dados de sábado. A maior parte (R$ 24,7 milhões) é de verba pública doada por PT e PSB.

Tarcísio arrecadou menos (R$ 16,3 milhões), R$ 10 milhões dos quais oriundos de partidos, e o restante de doações de pessoas físicas. Rodrigo, por sua vez, teve R$ 25,2 milhões de receitas e R$ 23,8 milhões de gastos –R$ 23,1 milhões em recursos públicos bancados sobretudo por PSDB e União Brasil.

Rodrigo Garcia amarga uma dura derrota para o PSDB mesmo com a máquina estatal a seu favor e o apoio de mais de 500 prefeitos –irrigados com verba e entregas do governo. Teve ainda a maior coligação e o dobro do tempo de TV, além da aliança com a União Brasil, que detém o maior volume de recursos para o pleito.

Por outro lado, o governador tinha o antecessor, João Doria (PSDB), de quem foi vice-governador, como âncora. A tentativa de Doria, cuja rejeição é alta, de se lançar ao Planalto gerou uma crise no partido, que acabou por enterrar sua candidatura. Assim, Rodrigo buscou esconder o aliado na campanha.

Rodrigo se manifestou através de um post no Twitter, após a sua derrota.

"Quero agradecer o carinho em que fui recebido durante nossa campanha e os votos recebidos", escreveu o tucano. "Vou continuar trabalhando para o estado que tanto amo."

Colaborou Catia Seabra, de São Paulo

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