Descrença e acusação de fraude marcam grupos bolsonaristas no dia da eleição

Flávio Bolsonaro (PL-RJ) propaga afirmações falsas sobre votação no exterior

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São Paulo

Intervalos da apuração de votos no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), longas filas para votação durante o dia e divulgações não oficiais de contagem de votos no exterior fomentaram a desinformação e a descrença na Justiça Eleitoral ao longo deste domingo (2) nos grupos bolsonaristas no Telegram e WhatsApp.

As mensagens mostram que, após um mandato marcado por ataques ao sistema de votação, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) conseguiu transmitir a um núcleo relevante de seus eleitores a ideia de que as urnas eletrônicas não são confiáveis.

Durante a apuração dos votos do TSE, a narrativa sobre fraude se intensificou. "Fraude na cara dura", "estão acompanhando a fraude?", diziam eleitores em grupos no Telegram. "Não podemos aceitar isso meu povo."

Fila de eleitores, com alguns de camisa verde e amarela, em Brasília
Fila de eleitores para votar em Brasília neste domingo (2) - Lucio Tavora/Xinhua

A narrativa entre bolsonaristas era que cada intervalo na divulgação do tribunal servia para aumentar votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "15 minutos de pausa sem apuração no TSE… Começou a malandragem", escreveu o influenciador Bernardo Küster no Twitter.

O youtuber Renato Barros, que fazia uma live durante a apuração do TSE, reclamava que, a cada pausa, Bolsonaro perdia votos e Lula ganhava. "Estamos vendo o efeito Joe Biden no Brasil", disse logo após Lula ultrapassar Bolsonaro.

Mobilizados pela desconfiança, eleitores entraram em diferentes grupos de Telegram e WhatsApp chamados "meu voto é Bolsonaro" para realizar o que chamam de "contagem pública de votos". Neste domingo, vários deles compartilharam fotos de seus comprovantes de votação, nos quais escreviam 22 ou Bolsonaro.

"Se Bolsonaro não ganhar é fraude nas urnas, devemos ir todos as [sic] ruas!", disse um dos integrantes.

Os grupos foram divididos por estado e, somados, passaram de 110 mil integrantes apenas no Telegram. Os de São Paulo e Rio de Janeiro reuniram quase 17 mil usuários cada.

No cenário captado pelo Observador Folha/Quaest, que monitora grupos públicos de WhatsApp e Telegram, as mensagens m ais compartilhadas até o fim da tarde buscavam enfatizar a força do apoio a Bolsonaro, por meio de vídeos de eleitores de verde e amarelo à espera de sua vez de votar nas seções eleitorais.

As filas registradas neste domingo (2) em diversas cidades brasileiras foram logo transformadas em pretexto para acusar uma tentativa de fraude por parte do tribunal.

A teoria conspiratória não foi disseminada apenas por eleitores comuns em grupos de conversa, mas por influenciadores nas redes sociais e pela Jovem Pan. Em um link ao vivo, uma repórter na zona sul de São Paulo disse que chegou a uma escola "com filas quilométricas". "Assim que nós pisamos, olha o que aconteceu: as filas se abriram", disse.

Segundo ela, o TRE afirmou que a situação não estava ligada à biometria, uma das hipóteses aventadas para explicá-la, mas a um "probleminha relacionado a segurar as pessoas do lado de fora, já que do lado de dentro estava um turbilhão de pessoas. Mas eu entrei e estava vazio", disse a repórter. Ela entrevista dois eleitores bolsonaristas, e um garante que as filas se normalizaram justamente quando a Jovem Pan chegou.

Entre eleitores comuns, a fila nas seções deram origem a menções às Forças Armadas no Telegram.

"As filas imensas e gigantes em algumas seções eleitorais me fizeram tristemente lembrar das mesmas filas gigantescas que vimos e foram formadas de propósito nos Estados Unidos, nas eleições de meio mandato de 2018 e na presidencial de 2020", dizia um texto longo que circulou por vários grupos bolsonaristas, lembrando a derrota de Donald Trump.

A mensagem ainda diz que "o crime da supressão de votos" ocorreu em várias seções eleitorais para impedir "a maioria da população de votar no horário estabelecido".

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, afirmou que quem estivesse nas filas às 17h, horário oficial de encerramento da votação, poderia concluir a votação.

No início da tarde, mensagens divulgando números do que seriam os totais de votos no Japão, Nova Zelândia e Austrália, de acordo com boletins de urnas, já estavam entre as mais virais do dia. Números oficiais do TSE só passariam a ser divulgados a partir das 17h.

Filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi um dos principais propagadores do assunto nas redes sociais. No Twitter, ele compartilhou, por exemplo, uma postagem que dizia que Lula tinha tido 327 votos na Alemanha contra mais de 12 mil de Bolsonaro. Mas só em Berlim, com 94% das urnas apuradas, Lula tinha 5.399 votos, ante 755 votos de Bolsonaro.

Tuíte do perfil @RenzoGracieBJJ que aparece como retuítado por Flávio Bolsonaro, em que constam supostas apurações na França, Alemanha e Portugal
Post com informações falsas compartilhado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e que depois foi apagado pelo autor - Reprodução/@FlavioBolsonaro no Twitter

No Facebook, a quarta postagem com mais interação até o fim da tarde de domingo era de Flávio afirmando que seu pai teria 70% dos votos no exterior —sem dizer de quantos e de quais países. À noite, com 55% das urnas do exterior apuradas, o TSE apontava 52,4% dos votos para Lula e 36,2% para Bolsonaro como resultado parcial dos que votaram fora do país.

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