Descrição de chapéu Eleições 2022

Tarcísio x Haddad no 2º turno em SP embaralha apoios de partidos a Bolsonaro e Lula

Alianças nacionais também impactam acordos no estado; PSD, PSDB e MDB estão em disputa

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São Paulo

Com um segundo turno que opõe o PT e o bolsonarismo, as eleições para a Presidência da República e para o Governo de São Paulo têm um xadrez de apoios partidários que se embaralham entre Lula (PT) e Fernando Haddad (PT) e entre Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O resultado do primeiro turno no domingo (2) foi um revés tanto para o ex-presidente Lula, que chegou a ter chances de vencer no primeiro turno, quanto para Haddad, que liderava as pesquisas de intenção de voto, mas terminou em segundo lugar, atrás de Tarcísio.

Com 99,99% das urnas apuradas, Lula teve 48,43% ante 43,2% de Bolsonaro. Em São Paulo, Tarcísio terminou com 42,32% contra 35,70% de Haddad.

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Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), que disputam o segundo turno em São Paulo - Marlene Bergamo e Bruno Santos/Folhapress

A disputa em São Paulo pode ser um entrave para que Lula consiga atrair as alianças de centro que almeja no segundo turno —com MDB, PSDB e PSD, por exemplo.

Por outro lado, partidos que no plano nacional já integravam as coligações de Lula ou de Bolsonaro, mas em São Paulo apoiavam o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que terminou em terceiro, devem migrar mais facilmente para Haddad ou Tarcísio.

É o caso do PP, que esteve com Rodrigo em São Paulo, mas apoia a reeleição de Bolsonaro. Nesta terça-feira (4), Tarcísio estará pela manhã no diretório estadual do PP em evento para anúncio de apoio.

Solidariedade e Avante, por outro lado, estão na coligação de Lula e também apoiavam Rodrigo em São Paulo –agora podem migrar para Haddad.

No estado, partidos considerados chave para a campanha de Lula já têm demonstrado tendência bolsonarista. O MDB, que na esfera federal tem Simone Tebet sinalizando ao petista, reúne em São Paulo líderes contrários a Haddad, como o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB).

A executiva nacional deve decidir quem apoiar no segundo turno até quarta-feira (5) —mas, em São Paulo, Nunes já adiantou que irá trabalhar para que a cúpula estadual faça uma adesão a Tarcísio.

Integrantes do MDB estadual avaliam que, para evitar conflitos e constrangimentos, o partido deveria estabelecer uma neutralidade entre Lula e Bolsonaro, liberando os emedebistas para tomarem decisões baseadas na realidade local.

A situação é parecida no PSDB. O diretório paulista deve se manter neutro e não é esperado que Rodrigo declare apoio público a Tarcísio ou Haddad, mas, nos bastidores, deputados da campanha tucana já estão direcionando prefeitos das suas regiões para apoiar o bolsonarista.

Grande aliado de Rodrigo, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), anunciou nesta segunda-feira (3) que apoiará Tarcísio e Bolsonaro. "Por coerência, não posso apoiar um candidato [Lula] que foi condenado e preso pelo maior escândalo de corrupção do nosso país. Luto contra a corrupção generalizada no PT há muitos anos", disse.

O PT de São Paulo, por sua vez, já buscou diálogo com o PSDB paulista em busca de apoio. Márcio França (PSB), que integrou a chapa de Haddad, mas perdeu a corrida para o Senado, chegou a trocar mensagens com Rodrigo, porém sem tocar na questão do apoio, segundo ele.

Ao ser questionado se Rodrigo havia se mostrado aberto a dialogar com Haddad, França disse que a conversa não chegou a esse ponto, mas afirmou acreditar que ela "vai chegar".

A posição dos tucanos de São Paulo cria dificuldades para a ofensiva de Lula sobre o partido. A executiva nacional do PSDB, que se reúne nesta terça, tende a ficar em cima do muro e liberar os líderes para apoiar Lula ou Bolsonaro.

A sigla está dividida entre a bancada de deputados federais —que são mais próximos do bolsonarismo do que da esquerda— e os cabeças brancas, que preferem Lula. O ex-senador Aloysio Nunes (SP) já estava com o petista no primeiro turno, e o senador Tasso Jereissati (CE) declarou apoio nesta segunda.

Outro enrosco é o PSD de Gilberto Kassab, que já fez acenos a Lula ao longo da campanha e cujo apoio era esperado para o petista. No entanto, o partido integra a coligação de Tarcísio —é adversário direto do PT em São Paulo.

Kassab está envolvido na campanha do ex-ministro e indicou o vice, Felicio Ramuth (PSD), na chapa. Além de São Paulo, PT e PSD se enfrentam diretamente no segundo turno em Sergipe.

Entre integrantes do partido, há a leitura de que os contextos estaduais não deveriam interferir numa posição nacional, mas líderes em São Paulo defendem a neutralidade justamente por causa da campanha de Tarcísio.

Mesmo nesse cenário de isenção no segundo turno, a avaliação é a de que o PSD poderia endossar Lula ou Bolsonaro após o resultado final da votação, em acordo pela governabilidade.

Membros da equipe de Tarcísio acreditam que não há necessidade de que o PSD se posicione já no segundo turno para, no futuro, integrar o governo federal, principalmente se o vencedor for Lula.

O PDT, que disputou o governo estadual com Elvis Cezar, caminha para um apoio a Haddad, na esteira da definição do partido nacionalmente, hoje na direção de Lula. O partido do ex-presidenciável Ciro Gomes deve anunciar sua decisão nas próximas horas. Ciro disse que seguirá a definição coletiva.

A campanha de Haddad tem o plano de buscar todos os partidos que não estão na aliança de Bolsonaro. O mesmo vale para Lula, que declarou nesta segunda que irá conversar "com todas as forças políticas que têm voto, que tenham representatividade e significância política nesse país".

Kassab afirmou ao Painel que a campanha de Tarcísio centraria esforços em atrair o PP e o MDB.

Aliados do bolsonarista afirmam que também há a estratégia de buscar o apoio de prefeitos e líderes políticos pelo interior. A leitura é de que essa militância espontânea é tão importante quanto o apoio formal de partidos.

Colaboraram Catia Seabra, Carlos Petrocilo, Victoria Azevedo, Mariana Zylberkan e Marcelo Toledo

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