Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula agradece a Deus, fala em conciliação e diz ter derrotado a máquina do governo de Bolsonaro

Presidente eleito pediu respeito à Constituição e disse ser a hora de baixar as armas

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São Paulo

No primeiro discurso após ser eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agradeceu a todos os que votaram neste domingo (30) e prometeu encontrar uma saída para o país voltar a ter paz e viver democraticamente. O líder petista falou em diálogo com o Congresso e o Judiciário.

Lula pediu respeito à Constituição e disse ser a hora de baixar as armas, que a bandeira verde e amarela não tem dono e que precisará de todos da política, da imprensa e da sociedade para governar o país. O petista disse que todos terão de encontrar uma saída para que o Brasil volte a viver harmonicamente.

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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao lado de sua esposa, Janja, do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB) e de outros apoiadores - Carla Carniel/Reuters

Em sua fala lida, o líder petista definiu a eleição deste ano como uma das mais importantes da história e afirmou que um grande movimento foi formado, acima dos partidos políticos e dos interesses pessoais, em prol da democracia.

"A eleição colocou frente à frente dois projetos opostos e que hoje têm um único e grande vencedor: o povo brasileiro. Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nesta campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático", disse Lula, que pouco antes havia agradecido a senadora Simone Tebet (MDB-MS), aplaudida pelos presentes.

O presidente eleito afirmou que será preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário sem tentativas de "exorbitar, intervir, controlar ou cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes".

Lula disse que pretende também retomar o diálogo com os governadores e prefeitos para que sejam definidas em conjunto as obras prioritárias para a população.

"Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade", disse Lula, em referência indireta às emendas do relator, uma das marcas da gestão de Jair Bolsonaro (PL) na relação com o Legislativo.

O petista não citou nominalmente o adversário, mas afirmou que enfrentou durante a campanha não um candidato, mas "a máquina do Estado brasileiro".

"Tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui para governar este país em uma situação muito difícil", disse.

O presidente eleito falou em avanços sociais e na economia. "A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias".

O petista falou em geração de renda, em especial com os pobres fazendo parte do Orçamento e destacou como prioridade o combate à fome e o programa de inclusão e de moradias populares.

Lula falou também em igualdade salarial de gênero e no combate à violência contra as mulheres e disse que irá enfrentar o preconceito, o racismo e a discriminação.

Ele reiterou promessas que fez durante a campanha, entre as quais incentivos aos micros e pequenos empreendedores, apoio aos pequenos e médios produtores rurais e a retomada do programa habitacional Minha Casa Minha Vida.

Lula adotou tom conciliador ao afirmou que não interessa a ninguém viver em um país dividido e que, a partir de janeiro, irá governar para todos os brasileiros, não apenas aos que votaram nele. "O verde amarelo não pertence a ninguém, e sim ao povo brasileiro", disse.

Ao longo da campanha, Lula criticou o isolamento do Brasil no cenário internacional. Antes da votação deste domingo, disse que, se fosse eleito, iria viajar para restabelecer relações antes mesmo de ocupar o Palácio da Alvorada, em janeiro.

No discurso da vitória, disse que pretende retomar parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia e que o Brasil vai reconquistar a credibilidade e estabilidade para que os investidores —nacionais e estrangeiros— retomem a confiança no país.

Em relação à Amazônia, que registrou aumento dos incêndios durante o governo de Bolsonaro, Lula afirmou que sua gestão vai lutar pelo desmatamento zero e que o país retomará o monitoramento e a vigilância da floresta para combater toda e qualquer atividade ilegal —seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

"Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania", afirmou.

O petista discursou ao lado da esposa, Janja, do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), e do candidato derrotado do PT ao Governo de São Paulo, Fernando Haddad.

Também estiveram presentes os deputados André Janones (Avante-MG) e José Guimarães (PT-CE), os senadores Fabiano Contarato (PT-ES), Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o prefeito do Recife, João Campos (PSB), a presidente nacional do PC do B, Luciana Santos, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, o ex-secretário de Educação Gabriel Chalita, entre outros aliados.

Lula classificou sua vitória como uma "ressurreição política" e agradeceu a Deus "que permitiu sair de onde saí para chegar onde cheguei".

Mais cedo, ao votar em São Bernardo do Campo, o petista afirmou que hoje é o dia "mais importante" de sua vida e enalteceu a democracia.

"Acho que é um dia muito importante para o povo brasileiro, porque hoje o povo está definindo o modelo de Brasil que ele deseja. O povo está definindo hoje um modelo de vida que ele quer."

De camisa branca e acompanhado de aliados, Lula disse que, sob o atual governo, o país andou para trás.

"Esse país já tinha quase chegado lá e, lamentavelmente, ele andou para trás. E nós precisamos fazer ele andar para frente outra vez, mas andar para frente não apenas uma parte da sociedade, mas toda a sociedade junto", continuou o petista.

A vitória na corrida à Presidência simbolizou o ápice da reviravolta na carreira política de Lula, que teve a prisão decretada pelo então juiz Sergio Moro em abril de 2018 e ficou 580 dias na cadeia.

O ex-presidente foi solto em novembro de 2019, um dia depois de o Supremo Tribunal Federal decidir que a execução da pena só deveria acontecer com o trânsito em julgado da sentença.

Em março de 2021, Lula recuperou os direitos políticos diante da decisão do ministro do STF Edson Fachin de anular suas condenações na Lava Jato, ao considerar a Justiça Federal do Paraná incompetente para julgá-lo.

Foi então que o ex-presidente começou a costurar alianças políticas, ainda que algumas antes consideradas improváveis. A começar pelo vice: Geraldo Alckmin se filiou ao PSB depois de 33 anos no PSDB, partido que ajudou a fundar.

A campanha petista ainda angariou a coligação mais robusta da disputa, com dez partidos e o maior espaço na propaganda eleitoral na TV e rádio.

A ressurreição de Lula numa campanha eleitoral veio com apontamentos a casos de corrupção durante os governos petistas e cobranças de novas medidas para evitá-los. O petista também foi criticado por não deixar claros seus planos no campo da economia e por não antecipar ministeriáveis.

Por outro lado, o ex-presidente partiu para o ataque em temas como a gestão do atual governo na pandemia e o aumento da pobreza no Brasil.

Não à toa Lula fez do programa social uma de suas principais bandeiras do segundo turno. O ex-presidente disse que, se eleito, vai manter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 e prometeu às famílias um adicional de R$ 150 para cada um dos filhos de até seis anos.

O petista também se comprometeu a retirar o Brasil do mapa da fome e a reajustar o salário mínimo acima da inflação todos os anos.

No segundo turno, obteve o apoio dos ex-presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), ainda que de forma discreta, e Simone Tebet (MDB), esta que passou a atuar ativamente em prol da eleição de Lula.

Também declaram voto no petista antigos adversários, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José Serra (PSDB), ex-governador de São Paulo, além de economistas de peso como Armínio Fraga, Pedro Malan e Henrique Meirelles.

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