Militares, usados por Bolsonaro em teses golpistas, fiscalizarão urnas eletrônicas em três etapas

Forças Armadas preparam checagem de boletins de urna e realização de teste de integridade e da zerésima

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Brasília

A atuação inédita das Forças Armadas na fiscalização das eleições que ocorrem neste domingo (2) foi utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para desacreditar o sistema eletrônico de votação e motivo para acirrar a crise entre o governo e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mesmo com toda a turbulência, generais ouvidos pela Folha afirmam que a atuação não busca promover uma ruptura institucional, por mais que Bolsonaro use os militares para fazer insinuações golpistas. Para eles, a tentativa é de auxiliar no aprimoramento do processo eleitoral, mesmo sem experiência no assunto.

O presidente Jair Bolsonaro, com o ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, durante cerimônia no Palácio do Planalto
O presidente Jair Bolsonaro, com o ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, durante cerimônia no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 4.ago.22/Folhapress

No dia da votação, as Forças Armadas trabalharão em duas frentes. Como de costume, vão atuar em operações de Garantia de Votação e Apuração, cujo objetivo é auxiliar em questões logísticas e de segurança. Ao todo, 34 mil militares vão a 585 municípios em 11 estados para transporte de urnas e segurança de eleitores. O trabalho envolve ainda proteção aeroespacial e cibernética.

Em outra frente, as Forças Armadas vão trabalhar em três etapas da fiscalização. Na manhã de domingo, os militares vão checar a emissão da zerésima, boletim cujo objetivo é confirmar que as urnas não possuem votos antes do início da votação. Durante o pleito, representantes das Forças também vão acompanhar o teste de integridade —auditoria que confirma se as urnas registram corretamente os votos.

Após a votação, militares espalhados pelo país vão tirar fotos de 385 boletins de urna e enviá-las a técnicos das Forças Armadas em Brasília. O objetivo é conferir se os votos não sofrem mudanças ao chegar ao TSE. Essa última etapa, revelada pela Folha, causou mal-estar entre Defesa e tribunal.

Estimulado por integrantes da corte eleitoral, o TCU (Tribunal de Contas da União) também decidiu realizar uma checagem semelhante à dos militares no dia da eleição, para servir como uma salvaguarda contra possíveis questionamentos dos militares. Auxiliares da Defesa e generais do Alto Comando do Exército ouvidos pela Folha afirmam que o objetivo da fiscalização não é contestar o resultado do pleito.

Dizem, porém, que se encontrarem falhas no processo eleitoral que possam influenciar no resultado das eleições há caminhos previstos em resoluções do TSE para pedir a verificação dos sistemas eleitorais.

Os militares foram incluídos na discussão do processo eleitoral em setembro de 2021. Numa tentativa de frear os ataques de Bolsonaro às urnas, o então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, criou a Comissão de Transparência Eleitoral e incluiu as Forças Armadas no colegiado. A ideia era trazer os militares para perto do processo e, assim, conseguir o respaldo deles na defesa do sistema de votação.

Em conversas reservadas, porém, magistrados avaliam que a tentativa de obter um antídoto teve o efeito contrário: em vez de aumentar a confiabilidade do pleito, forneceu uma ferramenta para as Forças Armadas inflarem ainda mais o discurso de Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro.

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