O presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrou com prefeitos e vereadores em São Paulo na tarde desta quinta-feira (20) e teve como cabo eleitoral fervoroso o governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), que subiu o tom nos ataques contra o PT.
Primeiro a discursar, Rodrigo citou o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para explicar o motivo de ter declarado apoio a Bolsonaro, decisão pela qual "foi bastante questionado", segundo ele.
"Minha história de vida é de combate ao PT, que votou contra a Constituição, contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e que cometeu o maior assalto do dinheiro público neste país e no mundo inteiro", afirmou Rodrigo, que chamou de amigo o seu ex-rival na disputa ao governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
"No dia 1º de janeiro, Tarcísio, vou estar no Palácio dos Bandeirantes para te passar a bandeira, vou passar para um homem de bem", disse o governador.
O tucano declarou apoio a Bolsonaro e Tarcísio dois dias depois do primeiro turno, quando ficou em terceiro lugar, numa derrota histórica ao PSDB paulista. Antes, Rodrigo se dizia um candidato independente, como forma de provocar os seus rivais pelo Governo de São Paulo Tarcísio e Fernando Haddad (PT).
Após o evento em que Rodrigo atuou como cabo eleitoral e lhe chamou de amigo, Tarcísio afirmou em entrevista ao SPTV2, da TV Globo, que a saída do PSDB, que governou o estado por 28 anos, é positiva. "A alternância [de poder] é positiva, é bem-vinda. A oxigenação é positiva. A gente vai manter as políticas públicas que são boas e dar velocidade para ir além", disse.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também estava presente no evento durante a tarde desta quinta e disse que a reeleição de Bolsonaro depende de seu estado e de São Paulo. "O futuro do Brasil está nas mãos de vocês paulistas e de nós mineiros, que temos a obrigação de virar essa eleição", disse.
Antes, Zema afirmou ter assumido "um estado arrasado e destruído pelo PT". "Em Minas, o PT fez barbaridades, coisas impensáveis que nunca se viu no Brasil."
Bolsonaro também evidenciou que a prioridade de sua campanha no segundo turno são os dois estados do Sudeste. "Já viramos em Minas Gerais e ampliamos [a votação] em São Paulo", disse Bolsonaro. "O futuro da nossa pátria passa pelo empenho de cada um. Tem que buscar voto fora da família", continuou.
O presidente defendeu o que chamou de "pautas conservadoras". "Somos um país 90% cristão, não queremos essa coisa de ideologia de gênero, não queremos liberar as drogas", disse. "O Brasil está arrumadinho, está pronto para decolar, é um exemplo para o mundo."
Tarcísio se referiu ao encontro como "reunião de trabalho". "Eu estava esperando essa reunião, estava me preparando para isso", disse o candidato, antes de dizer mais uma vez que os compromissos do governo estadual com os municípios serão mantidos.
Em seu discurso, o candidato ao governo paulista atacou o partido adversário. "Felizmente, o PT nunca governou São Paulo, essa chaga São Paulo não teve e nem vai ter porque é um estado feito de gente trabalhadora", continuou Tarcísio ao citar a fala de Zema sobre o déficit nas contas mineiras quando assumiu o estado em 2018.
Tarcísio disse ainda que era importante eleger Bolsonaro para São Paulo "não ser boicotado por Brasília". em caso de vitória de Lula. "Faltam dez dias para organizarmos carreatas para demonstrar força, ir de porta em porta para convencer os indecisos", afirmou.
Após o evento, Jair Bolsonaro participou do podcast Inteligência Ltda. O programa chegou a ser assistido por até 1,8 milhão de espectadores simultâneos, superando a audiência obtida por Lula em outro podcast, dois dias antes.
A participação em podcasts tornou-se nessas eleições motivo de guerra entre as campanhas e demonstrativo de força na internet. Na noite de terça-feira (18), Lula participou do Flow e a audiência ultrapassou 1 milhão de espectadores simultâneos.
Jair Bolsonaro já participou, por exemplo, do Flow, do Pilhado e também teve uma participação em um pool de podcasts esportivos. Nesse último evento, na sexta-feira (14), o presidente deu a polêmica declaração de que "pintou um clima" com adolescentes venezuelanas e as acusou de se prostituírem.
No Inteligência Ltda, Jair Bolsonaro defendeu Tarcísio das acusações de que pouco conhece da realidade do estado de São Paulo, embora nem tenha sido perguntado sobre isso. O mandatário comentava que sempre escalou ministros técnicos para o seu governo, quando passou a tecer inúmeros elogios a Tarcísio
"Se você pegar o Tarcísio: ele fez a Academia Rezende, a Academia Militar, prestou concurso para a Câmara e trabalhava na comissão de Aviação e Transporte. Estava há três anos lá dentro. É uma pessoa extremamente inteligente. Ele conhece tudo. Se lê a matéria uma vez, ele não esquece. Ele conhece São Paulo melhor que muitos paulistas que estão aqui", afirmou o mandatário.
Em outro momento, Bolsonaro rebateu Lula, que havia afirmado que o jogador Neymar o apoia para tentar resolver problemas na Receita Federal. O presidente afirmou que não "tem como interferir na Receita" sem deixar "pegadas". Disse que conhecia o problema do jogador no órgão, mas que a acusação de Lula é leviana.
Bolsonaro ainda sugeriu que o pai de Neymar processe Lula por denunciação caluniosa.
O presidente também disse que o manifesto de evangélicos em favor de Lula foi assinado por religiosos "sem qualquer representação no mundo evangélico".
Bolsonaro também foi questionado sobre o episódio envolvendo adolescentes venezuelanas e novamente mudou a sua versão. O presidente afirmou durante o podcast que nunca havia acreditado que houvesse prostituição no local.
"Eu sempre usei 'pintou um clima', 'tem clima', sempre usei isso aí. E eu estava lá em uma comunidade e vi umas meninas bem arrumadas, etc., e pintou um clima. Pintou um clima para eu conversar com elas. Eu estava com 30 seguranças comigo. Eu entrei na casa e comecei a conversar com elas. O estado difícil delas, abandonaram seus países, vem para cá e ganham a vida, mas não dessa forma [fazer programa]", afirmou o presidente.
O apresentador então interrompe afirmando que Bolsonaro deu a entender anteriormente que se tratava de prostituição.
"Não, negativo", completou o presidente, que na sequência passou a atacar a esquerda por tentar promover assassinato de reputação.
A nova versão contraria até mesmo vídeo gravado ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, no qual se desculpou com as venezuelanas pelo episódio. Na ocasião, ele disse que havia ficado preocupado com a situação.
"As palavras que eu disse refletiram uma preocupação da minha parte no sentido de evitar qualquer tipo de exploração de mulheres que estavam vulneráveis", disse na gravação.
"A dúvida e a preocupação levantadas [foram] quase que imediatamente esclarecidas à época pela nossa ministra da Mulher Damares Alves, que foi ao local e constatou que as mulheres citadas na live eram trabalhadoras. Minha esposa Michelle, a senadora eleita Damares e a embaixadora da Venezuela estiveram hoje com essas senhoras, prestaram apoio e constataram que elas estão reconstruindo suas vidas no Brasil", completou.
Durante um outro podcast, o Collab, o presidente afirmou claramente que as meninas estavam se arrumando "para fazer programa"
À noite, Rodrigo organizou uma pizzada no Palácio dos Bandeirantes para 85 convidados entre deputados e prefeitos do interior e região metropolitana. No evento, os políticos foram orientados a movimentar a máquina municipal para virar votos a favor de Tarcísio e Bolsonaro, que eram aguardados no jantar.
A pizzada foi programada para a área residencial do Palácio dos Bandeirantes, onde a imprensa não teve acesso.
No entanto, o GSI organizou um cercadinho para cinegrafistas captarem imagens dos convidados no hall nobre do palácio revestido por tapete vermelho. Foi a primeira vez que Bolsonaro esteve no local.
Diante da ampla derrota de Bolsonaro no Nordeste, a campanha do presidente traçou a meta de elevar o seu desempenho em São Paulo e Minas Gerais no segundo turno. Ambos são os dois maiores colégios eleitorais do país.
Em São Paulo, Bolsonaro obteve 47,7% dos votos, contra 47,5% de Lula. "Aqui, presidente, ganhamos por 1,8 milhão no primeiro turno e temos que passar para 4 milhões de votos para tirar essa diferença", disse Rodrigo Garcia.
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