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União Brasil se aproxima de Bolsonaro, mas ACM Neto e Bivar resistem

Integrantes do partido divergem sobre caminho a seguir no 2º turno

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Brasília e Salvador

Cobiçados tanto por Jair Bolsonaro (PL) como pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dirigentes da União Brasil divergem sobre o rumo a seguir no segundo turno.

Diante do imbróglio, a direção do partido decidiu liberar seus filiados e diretórios para apoiar o candidato que quiserem nesta etapa da eleição.

O anúncio sobre a posição de neutralidade foi feito pelo presidente da União Brasil, Luciano Bivar, reeleito deputado no domingo (2).

O presidente da União Brasil, deputado Luciano Bivar, o secretário-geral do partido, ACM Neto, e o governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado. - Pedro Ladeira 6.out.2021/Folhapress

A maioria dos estados —segundo líderes do partido— tende a apoiar Bolsonaro. O respaldo da legenda ao chefe do Executivo, porém, esbarrou em duas figuras-chave do partido: Luciano Bivar, que preside a União Brasil, e ACM Neto, secretário-geral.

De acordo com aliados, Bivar gostaria de declarar apoio a Lula, mas não tem condições políticas de fazer uma articulação interna que leve a sigla para esse caminho. Questionado se tinha posição pessoal, ele afirmou não poder expressar seu posicionamento por ser dirigente da legenda.

Bivar incluiu na nota com a posição do partido, no entanto, recados aos presidenciáveis, direcionados sobretudo a Bolsonaro.

"Com tamanha robustez, o União Brasil poderá cobrar dos governantes o cumprimento de suas promessas e, acima de tudo, a preservação dos valores democráticos, do Estado de Direito e de suas instituições", afirmou.

Bivar já fez críticas veladas anteriormente ao governo Bolsonaro e, à Folha, disse que tinha receio de uma ruptura institucional.

Em outra frente, em posição que representaria a maior parte do partido, governadores como Mauro Mendes e Ronaldo Caiado, reeleitos de Mato Grosso e Goiás, respectivamente, são partidários de Bolsonaro e defenderam esse posicionamento internamente.

Caiado estará nesta quinta-feira (6) no Palácio da Alvorada junto com deputados da União Brasil para anunciar o apoio ao chefe do Executivo.

O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), eleito senador pelo Paraná, já declarou apoio a Bolsonaro e inclusive irritou correligionários por não ter se antecipado à orientação do partido.

Nesta eleição, a União Brasil elegeu 59 deputados, a terceira maior bancada da Câmara. O partido teve ainda uma candidata ao Planalto, Soraya Thronicke, que recebeu 0,51% dos votos.

Além das declarações de apoio, o vice-presidente da União Brasil, Antônio Rueda, também é próximo da campanha de Bolsonaro. Ele participou na segunda (3) de reunião no Palácio da Alvorada para discutir os rumos da candidatura do presidente no segundo turno.

Com receio de uma decisão partidária que o prejudicasse, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto esteve em Brasília também na segunda, conversou com os correligionários e defendeu a liberação dos diretórios estaduais.

Ele disputa o segundo turno da eleição para o Governo da Bahia com Jerônimo Rodrigues (PT) e atua para evitar um apoio formal da União Brasil a Bolsonaro.

Na Bahia, Lula recebeu 49,73% dos votos, contra 24,31% para Bolsonaro. O candidato petista ao governo estadual, por sua vez, não venceu no primeiro turno por pouco: obteve 49,45% dos votos, contra 40,8% para ACM Neto.

O principal pedido do ex-prefeito é para que os estados tenham autonomia para resolver seus rumos, independentemente de uma orientação nacional da União Brasil.

Neto já decidiu que, no nível estadual, não deve declarar apoio a nenhum dos dois presidenciáveis.

A pressão que se mantivesse a neutralidade do diretório nacional da União Brasil ocorreu justamente para evitar uma decisão que contaminasse o quadro local —ele conta com eleitores que votam em Lula para o Planalto.

No domingo, após o fim da apuração na Bahia, Neto indicou que deve manter o discurso de neutralidade no segundo turno.

"Temos uma linha que não vou, de maneira nenhuma, modificar. Vou mostrar aos baianos que estamos prontos para governar com o presidente que o Brasil escolher", disse.

Aliados de ACM Neto estimam que cerca de metade dos 3,3 milhões de votos obtidos pelo ex-prefeito no primeiro turno foram de eleitores de Lula. Em Salvador, tanto o ex-presidente como o ex-prefeito venceram em todas as zonas eleitorais da cidade.

Por outro lado, o ex-prefeito de Salvador precisa também dos 738 mil votos dos eleitores de João Roma (PL), que terminou a disputa para o governo baiano com 9%.

A conta não é simples. João Roma tem uma trajetória política que começou como assessor e secretário de ACM Neto, mas ambos romperam em feveiro de 2021. Na ocasião, Roma assumiu o Ministério da Cidadania no governo Bolsonaro.

O rompimento descambou para o campo pessoal na campanha, quando Roma disse querer distância do antigo aliado. ACM Neto rebateu acusando Roma de traição e lembrando que é padrinho da filha do ex-ministro.

Há a expectativa, porém, que alguns integrantes da União Brasil na Bahia declarem apoio a Bolsonaro. Dessa forma, pode haver uma mobilização entre militantes e bases eleitorais baianas para levar o voto de Roma a Neto.

Candidato ao Governo de Alagoas, Rodrigo Cunha (União Brasil) vive situação semelhante. Ele não apoiou Bolsonaro, embora tenha se aliado ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, principal fiador do presidente no Congresso.

Cunha disputa o segundo turno contra Paulo Dantas (MDB), candidato apoiado por Lula e pelo ex-governador Renan Filho (MDB). Até o momento, ele não se pronunciou publicamente sobre a eleição nacional.

Outros políticos do partido no Nordeste, que não concorrem no segundo turno, devem esperar as primeiras pesquisas de intenção de voto da corrida presidencial para avaliar os cenários e decidir qual rumo tomar.

O outro foco refratário a uma aproximação com Bolsonaro é Luciano Bivar, deputado federal que abrigou o presidente no antigo PSL. Ele rompeu posteriormente com o mandatário.

Ele chegou a ser procurado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), que reconheceu nesta semana que "pode ser que tenha setores" da União que apoiem os petistas, mas que a situação na legenda é difícil.

Nesta quarta, Bivar admitiu as conversas com o PP a respeito de uma fusão, embora tenha dito ser difícil fazer convergências estaduais.

Ele disse que a tendência é condensar o número de partidos e diz ser natural que as siglas se "aglutinem".

"Foi para isso que o extinto PSL e o extinto DEM fundiram-se para formar um partido que defendesse as instituições democráticas deste país. Todos os partidos que queiram se aglutinar a nós tem que ser dentro desses princípios", disse. "O União Brasil continua sendo um partido independente."

O presidente da União Brasil reconheceu que as tratativas com o PP devem passar pela negociação sobre a presidência da Câmara.

"A presidência da Câmara é uma coisa que vai ter que ser colocada na mesa para discutir com o União Brasil. O União Brasil é o maior partido isolado do país. Então, tem que conversar com o União Brasil", afirmou.

Bolsonaro deu a largada no segundo turno com acordos importantes, fechando acordos com os governadores de três estados do Sudeste, a região com o maior número de eleitores no país. Ele recebeu o endosso dos governadores reeleitos Romeu Zema (Novo-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ), além de Rodrigo Garcia, terceiro colocado na disputa pelo governo de São Paulo.

Já Lula conquistou adesão do PDT com aval tímido do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) —que teve 3% no pleito deste ano e divulgou sua anuência sem citar o petista diretamente— e do partido Cidadania, além da sinalização apoio de Simone Tebet (MDB).

O PSDB, por sua vez, decidiu não se posicionar a favor de Bolsonaro nem de Lula e liberou os filiados para apoiarem quem quiserem no segundo turno da eleição.

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