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Eleições 2022 Governo Bolsonaro

Bolsonaro dá sinais de mau perdedor em sua 1ª derrota em 34 anos de carreira

Presidente derrotado é o primeiro no período democrático a não se manifestar logo após a confirmação do resultado

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Brasília

Em sua primeira derrota eleitoral na carreira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se recolheu a um inusual silêncio e demorou cerca de 45 horas para se pronunciar sobre a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Diferentemente da rotina diária dos últimos anos, o presidente também desapareceu das redes sociais.

Numa rápida manifestação no Palácio da Alvorada, na tarde desta terça-feira (1º), Bolsonaro fez apenas um reconhecimento implícito do resultado.

"Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral", afirmou o presidente.

"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", completou, no mais próximo que ele chegou de criticar os bloqueios em rodovias promovidos por seus apoiadores.

Pela primeira vez um postulante ao Planalto derrotado não se manifestou pouco depois da confirmação do resultado. Desde 1989, quando foram realizadas as primeiras eleições após a ditadura militar (1964-1985), o candidato presidencial batido sempre se pronunciou logo após o anúncio oficial.

Bolsonaro e seus três filhos políticos colecionam um amplo retrospecto de sucesso nas urnas.

Jair Bolsonaro faz o número 22 com as mãos, após votar no segundo turno das eleições, no Rio de Janeiro - Bruna Prado-30.out.22/Reuters

Foram 23 êxitos do clã e apenas 1 derrota até este domingo (30), quando Bolsonaro se tornou o primeiro presidente a tentar e não conseguir se reeleger.

O pai foi eleito uma vez vereador no Rio em 1988, aos 33 anos, e, na sequência, sete vezes para a Câmara dos Deputados. Depois, venceu a disputa ao Palácio do Planalto em 2018.

Carlos foi o primeiro dos filhos a ser colocado por Bolsonaro na política. Ele foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro aos 17 anos, em 2000, derrotando a mãe —a então vereadora Rogéria Bolsonaro—, de quem o hoje presidente da República havia se separado.

Desde então, Carlos teve cinco reeleições e continua na Câmara do Rio até hoje.

O filho mais velho de Bolsonaro, Flávio, estreou como deputado estadual em 2003, aos 21 anos. Ele se reelegeu mais três vezes até 2018, quando venceu a disputa ao Senado na onda que levou o pai à Presidência. Em 2016, ele tentou a Prefeitura do Rio, mas ficou em quarto.

Eduardo Bolsonaro foi o último a ingressar formalmente na política. Foi eleito deputado federal em 2014, aos 30 anos, pelo estado de São Paulo, já que Bolsonaro não queria dividir votos com o filho no Rio.

Reeleito neste ano, Eduardo está indo para o terceiro mandato em Brasília.

Em meio a protestos de caminhoneiros bolsonaristas pelo país, Bolsonaro manteve conversas reservadas com aliados na segunda e nesta terça, nos palácios do Planalto e da Alvorada, mas até seu pronunciamento não havia se manifestado sequer nas redes sociais —onde frequentemente faz seus anúncios.

Dos três filhos políticos, apenas Flávio fez breves comentários na tarde de segunda, em seus perfis nas redes sociais. Agradeceu aos eleitores, disse que eles não desistirão do país e se direcionou diretamente ao pai: "Estou contigo pro que der e vier!"

Donald Trump, desde sempre farol da família Bolsonaro, patrocinou um precedente perigoso dois anos atrás. Ele se recusou a reconhecer a vitória de Joe Biden e tentou arquitetar nos bastidores e entre seus apoiadores uma contestação do resultado das eleições americanas.

Mesmo que por aqui não se repitam cenas que remetam à invasão do Capitólio, os protestos de caminhoneiros bolsonaristas nesta segunda contam com a leniência da Polícia Rodoviária Federal, corporação que, sob o comando do também bolsonarista Silvinei Vasques, contrariou ordens do TSE e promoveu diversas blitze no dia da eleição.

Como quase tudo neste governo, é muito difícil saber o que se passa por cabeças e gabinetes fechados em que por várias vezes em quatro anos se discutiram e se planejaram ações contrárias às instituições e à ordem democrática.

O silêncio dos Bolsonaro e o teor da fala do presidente, entretanto, já mostram que na primeira vez em que precisaram demonstrar o saber perder, a família não se portou como mandam as regras republicanas.

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