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Judiciário articulou com Guedes e Tarcísio pressão para Bolsonaro falar

Ministros do TCU e do STF conversaram com presidente da Câmara e integrantes do governo para convencer presidente

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Brasília

Em meio à série de bloqueios de rodovias no país, integrantes do Judiciário articularam uma força-tarefa para convencer Jair Bolsonaro (PL) a reconhecer a derrota na eleição e, assim, ajudar a conter os manifestantes que apoiam seu governo.

Nesta terça-feira (1º), os ministros Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União), e Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), buscaram outros ministros do Supremo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ministros do governo e presidentes de partidos políticos de centro para tentar convencer Bolsonaro a falar.

Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio de Freitas, governador eleito em São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, também estiveram em contato com integrantes do Judiciário.

Em meio a essa articulação, o presidente se comprometeu com aliados a dar um pronunciamento na tarde desta terça. Numa breve declaração, ele quebrou um silêncio de 45 horas desde o anúncio da derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para fazer apenas um reconhecimento implícito do resultado.

"Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral", afirmou o presidente, que leu o pronunciamento. Ele evitou classificar como violentos os movimentos de bloqueio nas estradas ou mesmo usar palavras negativas para descrevê-los.

"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", completou, no mais próximo que ele chegou de criticar os bloqueios.

Em São Paulo, apoiadores de Bolsonaro se reúnem em frente ao Comando Militar do Sudeste em protesto contra o resultado das eleições
Em São Paulo, apoiadores de Bolsonaro se reúnem em frente ao Comando Militar do Sudeste em protesto contra o resultado das eleições - Bruno Santos/Folhapress

A avaliação é que as manifestações escalaram tanto que uma declaração do mandatário era essencial para tentar conter os movimentos de seus apoiadores nas ruas.

O presidente também pediu a interlocutores para convidar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para uma reunião no Palácio da Alvorada.

Os magistrados, no entanto, mandaram avisar que não iriam se encontrar com o mandatário —muito menos na residência oficial da Presidência— enquanto Bolsonaro não declarasse publicamente que aceita o resultado da eleição.

Depois do pronunciamento, Bolsonaro foi ao STF para uma reunião com ministros da corte. Ele saiu sem dar declarações.

Depois do encontro, o ministro Edson Fachin, do STF, foi questionado se Bolsonaro havia reconhecido a derrota. Fachin contou que Bolsonaro usou a expressão "acabou". "Portanto, olhar para a frente", disse o ministro a jornalistas.

Em outro movimento, o STF divulgou uma nota em que argumenta que Bolsonaro reconheceu o resultado final das eleições "ao determinar o início da transição".

O Supremo também disse que "consigna a importância do pronunciamento do presidente da República" por esse motivo e também "em garantir o direito de ir e vir em relação aos bloqueios".

Pessoas próximas a Bolsonaro e outros atores políticos, por sua vez, disseram que o chefe do Executivo precisava dar uma declaração reconhecendo a derrota, mesmo que com queixas sobre o pleito.

Mais cedo, dirigentes partidários defenderam que Lira fosse até o Palácio do Planalto sozinho ou acompanhado para persuadir Bolsonaro a se posicionar pedindo aos manifestantes que deixem as estradas.

O presidente da Câmara já esteve com o mandatário no Alvorada na segunda-feira (31), por cerca de meia hora.

Enquanto uma ala do entorno do mandatário buscou pressioná-lo para reconhecer a derrota, outra ainda questiona o resultado das urnas.

Reservadamente, auxiliares mais próximos de Bolsonaro têm lançado dúvidas sobre a apuração dos votos. Eles reconhecem que os bloqueios são preocupantes, mas dizem ser justificáveis, dando amparo ao discurso golpista dos apoiadores do presidente.

Aliados de Bolsonaro dizem que o governo age para minimizar o bloqueio das rodovias, mas reclamam da decisão de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) desta segunda (30).

O magistrado determinou que o governo adotasse imediatamente "todas as medidas necessárias e suficientes" para desobstruir as rodovias ocupadas por bolsonaristas em protesto pelo resultado das eleições.

Nesta terça (1), depois da ordem de Moraes, as Polícias Militares dos estados começaram a atuar na desobstrução de rodovias bloqueadas por manifestantes bolsonaristas.

Aliado próximo, o coordenador da comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, usou suas redes sociais nesta terça para afirmar que a democracia e a liberdade são "[cláusulas] pétreas". E acrescentou que o momento é de paz e serenidade.

"O meu apoio e solidariedade ao presidente Jair Bolsonaro são irrestritos. Nossa campanha foi limpa, ética, e dentro das quatro linhas [da Constituição]. A democracia e a liberdade são pétreas. É momento de paz, reflexão e serenidade", escreveu.

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