Marinho é lançado ao Senado ao lado de Flávio Bolsonaro e com críticas veladas a Moraes

Ex-ministro que disputará contra Pacheco diz que congressistas foram 'amordaçados' e critica 'ativismo judicial'

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Brasília

Numa ofensiva contra o Judiciário, o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro (PL), bateu o martelo nesta quarta-feira (7) sobre a candidatura do senador eleito e ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL-RN) para enfrentar Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na disputa pela presidência do Senado.

A decisão foi tomada durante reunião da bancada do PL no Senado e anunciada pelos líderes do governo, Carlos Portinho (PL-RJ), e do PL, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Os três estavam ao lado do senador eleito Jorge Seiff (PL-SC), ex-secretário da Pesca, e do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da bancada evangélica.

O ministro da Desenvolvimento Rogério Marinho durante lançamento do programa Casa Verde Amarela no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 25.ago.20/Folhapress

Como mostrou o Painel, a insistência do presidente do partido em lançar um nome para o Senado passa pelo confronto com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Valdemar Costa Neto foi convencido de que não adianta tentar enfrentá-lo na esfera jurídica e pretende se valer dos canais políticos para, de acordo com um interlocutor, manter a espada sobre a cabeça do ministro.

Marinho afirmou nesta quarta que sua candidatura "não é contra ninguém" e não citou o nome de Moraes, mas disse que o PL não aceita que deputados sejam "amordaçados". Marinho usou a expressão popular "pau que bate em Chico bate em Francisco" e afirmou que não deve haver "ativismo" nem "criatividade judicial".

"Nós respeitamos e defendemos a democracia. Nós, por exemplo, não aceitamos o fato de que hoje no Brasil nós temos dez deputados federais que estão literalmente amordaçados. Que tiveram retirada a sua possibilidade e a sua condição de se comunicar com seu eleitorado através de um instrumento que é corriqueiro para todos nós, que são as redes sociais", afirmou Marinho.

Dez deputados federais bolsonaristas tiveram suas contas no Twitter suspensas, e atribuem a decisão ao ministro, que é relator do inquérito que apura o financiamento e a organização de atos antidemocráticos, além da ação de milícias digitais. Estão na lista as deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF).

"Nós não somos candidatos contra ninguém, nós somos candidatos a favor do Brasil, da democracia e da Constituição. Cada um dos Poderes que a nossa Constituição define tem, claramente, a sua vocação. O que nós queremos, o que nós pretendemos, o que nós defendemos é que cada Poder cumpra o seu papel, cumpra a sua missão. Isso, aliás, restabelece o equilíbrio da democracia brasileira."

O incômodo com a presidência de Rodrigo Pacheco foi reforçado por Flávio Bolsonaro.

"A candidatura do Rogério Marinho não é contra ninguém, não é ameaçando ninguém, pelo contrário. As falas que eu tenho feito de maneira pública são exatamente no sentido inverso, de buscar a normalidade, de buscar o reequilíbrio, de buscar interdependência entre os Poderes", disse Flávio.

"Ninguém tem nada contra a pessoa física do atual presidente [Pacheco]. Ele é um gentleman [cavalheiro], um cara superinteligente, que atende bem os senadores, não está se discutindo isso. A discussão é sobre algo maior. A gente tem obrigação de dar um retorno para essas pessoas que estão nas ruas ou que não estão nas ruas, mas também não concordam com o rumo que o Brasil está tomando."

O PL terá a maior bancada do Senado a partir do ano que vem, com 14 dos 81 senadores. O senador Chico Rodrigues (União Brasil-RR) participou da reunião desta quarta e estuda mudar de partido —neste caso, a bancada poderá chegar a 15 cadeiras. A segunda maior bancada será do PSD, partido de Pacheco, com 11.

Marinho conseguiu não só o apoio de Valdemar, mas também de Bolsonaro. O senador eleito afirmou que o presidente "continua ativo". Flávio disse que o pai vai seguir sendo "um grande ator político, se não o maior ator político" dos próximos quatro anos.

O PL espera o apoio formal do Progressistas e do Republicanos, que terão seis e três senadores no ano que vem, respectivamente. Caso o apoio se confirme, os três partidos teriam, no mínimo, 23 votos. Já Pacheco deve contar com o apoio de boa parte dos partidos que estarão na base do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como MDB, e PSB e Rede.

Apesar disso, até mesmo senadores do PL afirmam reservadamente que Pacheco é favorito à reeleição. Marinho é visto como um político mais moderado, mas pesa contra ele o fato de ser novato na Casa.

Para alguns integrantes da bancada, lançar Marinho ajuda a marcar posição contra o Judiciário.

Mas há uma preocupação de que o partido acabe sem nenhuma comissão ou cargo importante –essa negociação fica restrita ao bloco vencedor.

Por outro lado, quem defende a candidatura de Marinho afirma que o senador recém-eleito é "novato" apenas no Senado, mas não na política, já que passou mais de dez anos na Câmara dos Deputados —onde foi relator da reforma trabalhista— e ex-ministro.

Colaborou Marianna Holanda, de Brasília

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