Vídeo inventa acusações de comandante do Exército contra Alexandre de Moraes

É falso conteúdo no Twitter segundo o qual haveria um complô envolvendo o ministro do STF e Lula

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São Paulo

É falso o conteúdo de um vídeo publicado no Twitter segundo o qual o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, apurou a existência de um esquema envolvendo o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Como verificado pelo Projeto Comprova, o próprio Exército informa que o vídeo foi retirado de contexto e houve sobreposição de um áudio que não reflete a realidade, contribuindo para a desinformação. A gravação original foi feita durante apresentação de Freire Gomes a parlamentares, em julho deste ano. Na sessão do dia 6 daquele mês, o comandante do Exército abordou, entre outros temas, as operações realizadas pelos militares e a atribuição que cabe à instituição no controle de armas no país.

Para o Comprova, falso é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alexandre de Moraes está de perfil, do lado direito. Ele é branco, careca e está de camisa social branca – apenas a gola está visível. Por cima, está de preto. Fundo é de tom azul-escuro
Alexandre de Moraes, presidente do TSE - Adriano Machado - 30.out.2022/Reuters

Alcance

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 9 de dezembro, a publicação tinha mais de 50 mil visualizações, 8,4 mil curtidas e 3,3 mil retuítes.

O que diz o responsável pela publicação

O perfil da publicação, Bolsonaro 2022, é de um bolsonarista do Acre. Há essencialmente postagens de apoio ao presidente da República e conteúdos que seguem a linha ideológica da extrema-direita. O Comprova tentou entrar em contato com o autor do post, mas seu perfil não permite o envio de mensagens. Ele não foi encontrado em outras redes sociais.

Como verificamos

Primeiramente, fizemos pesquisa no Google por termos utilizados no conteúdo investigado, como o nome das pessoas citadas. Nas consultas em que foram associados o nome de Alexandre de Moraes e o do diretor-geral da PF, Márcio Nunes, retornaram apenas reportagens relacionadas a uma suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL) na Polícia Federal.

Usando ainda a palavra-chave "afastamento" junto aos dois nomes, o resultado trouxe duas publicações: uma nota de repúdio contra a retirada de delegado federal de investigação, também referente a interferência que Bolsonaro estaria praticando, e uma reportagem sobre as operações da PF e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) na véspera do segundo turno de votação.

A reportagem procurou o TSE para uma manifestação sobre as alegações do vídeo, a Polícia Federal e o Exército. Também houve tentativa de contato com o autor da postagem, mas sem sucesso.

Exército

Diante do conteúdo investigado, o Centro de Comunicação do Exército negou, em nota, que o general Freire Gomes tenha feito as declarações atribuídas a ele. "O vídeo foi retirado de contexto e sobreposto um áudio que não reflete a realidade dos fatos e contribui para a desinformação", diz um trecho do documento.

Ainda segundo o Exército, o vídeo original foi realizado durante apresentação do general a parlamentares. Freire Gomes assumiu o comando no final de março deste ano e, no dia 6 de julho, esteve presente em sessão na Câmara dos Deputados junto ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, em que foram apresentadas as prioridades da pasta para 2022.

O vídeo dessa sessão já foi utilizado em outro conteúdo de desinformação, conforme demonstrou a agência Aos Fatos.

Esclarecimentos

A narração sobreposta sugere que o general Freire Gomes acusou o ministro de "tomar de assalto a Federal" ao pedir o afastamento do diretor-geral Márcio Nunes, que teria autorizado a instauração de um inquérito contra Alexandre de Moraes.

Mas o fato é que Nunes, que assumiu a direção-geral em fevereiro deste ano, foi quem precisou se explicar sobre a substituição dos diretores da cúpula do órgão. Entre eles, Luís Flávio Zampronha, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e responsável por casos de corrupção, como o escândalo do Mensalão, conforme aponta reportagem de O Globo. Outros veículos também abordaram o assunto.

Ao se manifestar sobre o caso, em abril, o diretor-geral da PF tratou a mudança como natural e negou a suposta interferência do presidente Bolsonaro nas mudanças realizadas.

Procurada para falar sobre as alegações do áudio, a assessoria do TSE disse que não iria fazer declarações "sobre conjecturas" e sugeriu o contato com o Exército para esclarecimento da fala atribuída ao general Freire Gomes. A PF informou, em nota, que não se manifesta sobre falas de outras pessoas.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre políticas públicas do governo federal, a pandemia e peças que questionam o resultado ou a integridade das eleições gerais. Ao fazer falsas alegações sobre o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, a postagem tenta atingir a credibilidade do processo eleitoral e, consequentemente, reforçar suspeitas sobre o resultado que deu vitória a Lula. Conteúdos dessa natureza atentam contra a democracia por não respeitar o voto popular que elegeu o petista.

Durante toda a campanha e mesmo após o resultado da votação, muitos conteúdos de desinformação têm sido disseminados para colocar em dúvida o processo eleitoral ou sugerir risco ao país pela eleição de Lula. Recentemente, o Comprova demonstrou que vídeo engana ao distorcer falas de Lula sobre a Amazônia e sugerir ameaça à soberania nacional, que Exército não está fechando entrada do país pelo mar e que é falso que Holanda, Índia e Rússia tenham oferecido apoio militar a Bolsonaro.

A investigação desse conteúdo foi feita por O Popular, A Gazeta e Estado de Minas e publicada em 9 de dezembro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 43 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Correio, Estadão, Crusoé e CBN Cuiabá.

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