Deputado do PL unifica bolsonaristas e se torna favorito na Assembleia de SP

André do Prado é apoiado por Tarcísio e deve fazer acordo com PT, mas enfrenta resistência no PSDB, Republicanos e PSOL

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São Paulo

Integrante da maior bancada eleita da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual André do Prado (PL) é o favorito para assumir a presidência da Casa na próxima legislatura, com o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Sua eleição concretizaria uma tradição de alinhamento entre o Legislativo e o Executivo, antes dominados pelo PSDB, em São Paulo.

O Republicanos e o PSDB também almejam o posto, mas o bloco de deputados em torno de André do Prado é amplamente majoritário. Na oposição, o PSOL deve lançar uma candidatura para marcar posição, como é de costume.

A eleição ocorre só em 15 de março, mas deputados acreditam ser difícil que outro nome se viabilize a ponto de ameaçar André do Prado, que pode ter o apoio de mais de 60 dos 94 parlamentares.

O deputado estadual André do Prado (PL), favorito para assumir a presidência da Alesp
O deputado estadual André do Prado (PL), favorito para assumir a presidência da Alesp - Karina Freitas - 27.ago.21/Alesp

Os governadores tucanos que antecederam Tarcísio no Palácio dos Bandeirantes contaram com aliados na presidência da Assembleia, o que é crucial para a aprovação de projetos importantes para o governo.

Desde 2007, a Casa é comandada por deputados do PSDB, partido que dominou a administração estadual por quase 30 anos. Por isso, a base de apoio de Tarcísio, formada sobretudo por PL, Republicanos e PP, articula uma unidade em torno de André.

O primeiro desafio do deputado foi unificar a própria bancada, composta por um grupo de bolsonaristas, que se filiaram ao PL depois que Jair Bolsonaro migrou para a sigla, e um outro grupo de deputados "PL raiz" ou "centrão".

O grupo bolsonarista, na esteira da vitória de Tarcísio patrocinada por Bolsonaro, reivindicava o comando da Casa, mas teve que recuar quando Valdemar entrou em campo e escolheu André. O próprio Tarcísio, de forma reservada, decidiu apoiar André. Publicamente, o governador já disse que não vai interferir.

A escolha de André foi mais um revés para os bolsonaristas em relação a Tarcísio, que tem sido criticado pela base radical por não dar mais espaço aos ideológicos em seu governo.

Os deputados bolsonaristas se queixam de não terem sido consultados por Tarcísio antes que ele aderisse a André. Mas, para evitar uma briga que poderia implodir a bancada, resolveram ceder.

A avaliação dos deputados próximos ao ex-presidente foi a de que um racha poderia prejudicar Tarcísio e viabilizar concorrentes para a eleição da Mesa Diretora. Além disso, afirmam que André é visto como um deputado experiente e com bom diálogo com todos.

Em dezembro, toda a bancada do PL assinou uma nota de apoio a ele.

"A gente defende que a bancada do PL tenha a presidência pelo seu tamanho. O Tarcísio vai precisar do PL, e o PL tem mostrado lealdade. André foi uma indicação partidária do Valdemar e é um nome que a bancada abraça", diz Gil Diniz (PL), deputado próximo da família Bolsonaro.

André larga na frente por representar a maior bancada, do PL, com 19 deputados. Ele deve atrair também o PT, que tem 18 deputados, e quer fazer parte da Mesa Diretora –composta pelo presidente, pelo 1º secretário e pelo 2º secretário.

Os cargos de 3º e 4º secretários também entram na negociação. A presidência e cada secretaria congregam dezenas de cargos e, por isso, são valiosas para os partidos.

Nas últimas legislaturas, o PT e o PSDB, que costumavam ter as maiores bancadas, estabeleceram um acordo de apoio mútuo apesar da rivalidade política –o PSDB ficava com a presidência e o PT, a 1ª secretaria. O mesmo deve ocorrer agora com PL e PT.

Assim, cada cargo da Mesa costuma ser preenchido seguindo a ordem das maiores bancadas. Integrantes do PT e do PL ouvidos pela Folha, inclusive bolsonaristas, afirmam que ambos os partidos estão dispostos a seguir o critério da proporcionalidade.

Mas, se o voto de petistas em tucanos e vice-versa já causava estranheza, apesar de habitual, a parceria entre bolsonaristas e petistas causa ainda mais incômodo entre os deputados mais aguerridos. Mesmo assim, parlamentares ponderam que essa construção é possível.

"Para nós bolsonaristas, votar no PT é uma situação extremamente complicada. A gente tem um compromisso com nosso eleitor", diz Major Mecca (PL).

Gil, por sua vez, lembra que o PSL tinha a maior bancada em 2019, mas o critério da proporcionalidade, defendido pelo partido, não foi seguido –o PSDB foi eleito com apoio do PT. "Por coerência, sempre defendi a proporcionalidade. Mas os deputados que não se sentirem à vontade [para votar no PT] devem ser ouvidos."

"A expectativa do PT é que seja mantido o critério da proporcionalidade. Devemos ter uma Mesa plural", afirma o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT). André sinalizou aos petistas que deve manter a tradição do acordo.

Em seguida, para as demais secretarias, estariam cotados PSDB/Cidadania, com 11 deputados, e União Brasil e Republicanos, com 8 cada um.

O PSDB, do atual presidente Carlão Pignatari, queria manter o comando da Casa, mas está enfraquecido politicamente. Já o Republicanos ainda deseja o posto, mas reconhece que André é favorito.

Para contemplar sua sigla, Tarcísio escolheu o deputado Jorge Wilson (Republicanos) como líder do governo.

Deputados de diversos partidos afirmam acreditar que, até março, as principais siglas entrarão em acordo para formar uma chapa, de modo que não haverá competição real.

O deputado Carlos Giannazi (PSOL) diz que deve disputar a presidência. "Não vamos aderir a uma chapa única. A Alesp tem que ter independência e autonomia, não pode ser um puxadinho do Palácio dos Bandeirantes como tem sido nesses últimos 30 anos."

Em 15 de março de 2021, Pignatari foi eleito com 65 votos (e o apoio do PT), ante 16 de Major Mecca (PL), representante do bolsonarismo, 5 de Sergio Victor (Novo) e 5 de Giannazi.

Em 2018, o bolsonarista PSL fez 15 cadeiras, o PT, 10, e o PSDB, 8. Mas, em março do ano seguinte, tucanos e petistas se uniram para isolar o partido de Bolsonaro, quebrando a tradição da proporcionalidade. Cauê Macris (PSDB), aliado de João Doria (ex-PSDB), foi eleito com 70 votos.

Janaina Paschoal (então no PSL, hoje no PRTB) teve 16 votos; Daniel José (Novo), 4, e Mônica Seixas (PSOL), também 4.

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